ALBERTO RAMOS
Alberto Ferreira Ramos nasceu em Pelotas, no Rio Grande do Sul, em 14 de novembro de 1871, estudou na Suiça e em Londres. Estudou na Faculdade de Direito de São Paulo, contemporâneo de Alphonsus de Guimaraens, mas só conclui o curso no Rio de Janeiro, tempos depois. Nietzschiano, certamente cultivava o agnosticismo e repudiaria, em certa extensão, o cristianismo. Poeta parnasiano refinado, tradutor, homem de vasta erudição, colega de Olavo Bilac. Faleceu no Rio de Janeiro, em 1941.
EPITALÂMIO FÚNEBRE
Deuses! a vida é bela; a árvore é rica; a fruta
saborosa, purpúrea, agreste e perfumada,
que o meu gesto voraz alcança na ramada;
e longamente aspiro a tenra polpa enxuta.
Doce é o mel prelibado e a paz que se desfruta
ao sol que amadurece a uva embalsamada.
Deuses! terrificante é a Parca desalmada;
dos meus lábios em flor arredai a cicuta!
Não! Venha a morte; incline esta fronte sonora
quando ainda o Sol sorri, quando ainda brilha a aurora,
deuses! e o fruto e a flor pendem na verde rama.
Possa eu votar-te, ó fria e casta e taciturna,
uma fronte viril e um coração de flama
que debaixo da terra ainda abrase na urna.
ENSAIOS MÉTRICOS
I
Laura sorri-se. Os frescos lábios da úmida fragrância
róseos, chilreiam. Papagueiar da infância,
graça, inocência! Ó primavera casta e perfumada!
É o mesmo riso da criatura amada.
fino e cruel, que um tênue aviva fugitivo breve
sulco de sangue, boca de rosa e neve.
Os olhos são, que as graças armam de fatal encanto,
queridos olhos, que me enganaram tanto.
Céus! E esta voz! Velada e doce, que ainda mal gorjeia,
é o mesmo canto (pérfido!) da sereia.
ELEGIAS
2
Interroguei o céu, as ondas, o arvoredo,
busquei nas formas vãs o enigma que tortura.
Mas o deus taciturno esconde o seu segredo
e desconhece a voz da sua criatura.
Montes, mares e sóis, infinitos espaços,
bem vos entendo a voz sublime e descomposta.
Como eu torceis as mãos, como eu abris os braços
e como eu perguntais o que não tem resposta.
3
Inutilmente o espírito procura.
O pensamento é baixo, a forma escura,
Cismos dourados! fontes!
Ó claridade! alturas! horizontes!
Tu, natureza, sabes o segredo
de crescer e subir como o arvoredo
e, como água corrente,
ser límpido, profundo e transparente.
19
Insensato edifica o que funda no vento;
desassisado escreve o que na areia escreve.
Mestres são tempo e estudo. Obreiro grave e lento,
meu sonoro metal caldeio em forma breve.
Como é breve a esperança e breve o desengano,
o dia em que amanheço, a noite em que me agito,
breve a concha do mar e reflete o oceano,
breve o teu beijo, amor, e contém o infinito.
ÚLTIMOS VERSOS
3
Que me quer este nome e este segredo?
Amor! Passado é o tempo das loucuras!
Vai-te, e deixa-me estar no meu degredo,
Eu já não sou aquele a quem procuras.
Por que me olhas assim irado e torvo?
Não foste o Deus da minha mocidade?
Deixai-me em paz no sonho em que me absorvo.
Já meu caminho beira a eternidade.
6
Esse estranho país, esse Eldorado
da beleza, do amor, da poesia,
não é miragem vã da fantasia.
Existe, existe esse éden suspirado.
Pátria distante, fica numa estrela.
É para lá que sobe a minha prece.
Basta fechar os olhos aparece.
E é preciso ser cego para vê-la.
HADAD, Jamil Almansur, org. História poética do Brasil. Seleção e introdução de Jamil Almansur Hadad. Linóleos de Livrio Abramo, Manuel Martins e Claudio Abramo. São Paulo: Editorial Letras Brasileiras Ltda, 1943. 443 p. ilus. p&b “História do Brasil narrada pelos poetas.
HISTORIA DO BRASIL – POEMAS
BARÃO DO RIO BRANCO
José Maria da Silva Paranhos Júnior, Barão do Rio Branco, foi um advogado, diplomata, geógrafo, professor, jornalista e historiador brasileiro.
Nascimento: 20 de abril de 1845, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro
Falecimento: 10 de fevereiro de 1912, Rio de Janeiro, Rio de Janeiro
RIO BRANCO
Uma aurora raiou no teu berço, criança.
Corria pela pátria um frêmito inaudito;
a águia ensaiava o voo imenso no infinito
e era em torno um clamor de júbilo e esperança.
Filho, esse nome aprende; é a nossa grande herança;
como um sacro penhor guardo-o no peito escrito.
Ele amou e serviu este solo bendito
da pátria de quem foi muralha e segurança.
Desdenhosos de um vão renome transitório,
do direito e da paz fez-se arauto na liça,
É o destino, que o pôs de guarda ao território,
Marcou de eternidade a fronte augusta e calma
onde foi triunfante a serena justiça
e a vitória civil entrelaçou a palma!
TEXTO EN ESPAÑOL
CUATRO SIGLOS DE POESÍA BRASILEÑA. Introd., traducción y notas de Jaime Tello. Caracas: Centro Abreu e Lima de Estudios Brasileños; Instituto de Altos Estudios de América Latina; Universidad Simón Bolívar, 1983. 254 p Ex. bibl. Antonio Miranda
Traducción de Jaime Tello:
EPITALAMIO FÚNEBRE
¡Dioses ¡ la vida es bella; rico el árbol; la fruta
sabrosa, purpurina, agreste y perfumada.
que mi gesto voraz alcanza en la ramada,
y largamente aspiro la tierna pulpa enjuta.
Dulce miel prelibada. ¡Oh paz que se disfruta
al sol que hace madura la uva embalsamada!
¡Dioses! Qué aterradora la Parca desalmada:
¡de mis labios en flor apartad la cicuta!
¡Más no! ¡Ven, Muerte! Inclina esta frente sonora
cuando aún el sol sonríe, cuando aún brilla la aurora,
¡dioses! Y flor y fruto aún penden de la rama.
Puede entregarte, oh fría y casta y taciturna,
una frente viril y un corazón de llama
que bajo de la tierra aún abrase en la urna.
***
Tu cuerpo es, Climene, un país de quimera
de néctar y ambrosía,
que surca a toda vela, soberbia la galera
de la mi fantasía.
Sé el aroma que tienen tus lirios y tus rosas,
de quien soy siervo y dueño;
la pulpa que hace grávidas las frutas tan sabrosas
de tu otoño risueño.
Sé el gusto que deja la delicia que dura;
la falda, la colina,
donde una fuente brota por entre la verdura,
delgada, crespa, fina.
Sé la vida y su miel, sé la rosa y su cáliz,
los bosque y arboledas.
¡Dulce país amable! ya no tienen tus valles
para mi más secretos.
Sé como el buen vivir, bien cerca de tu encanto,
rey, vasallo y mendigo.
¡Amor! Misterios sé que al mundo enseño y canto
Otros sé que no digo.
***
Insensato edifica el que afianza en el viento;
escribe demasiado el que en la arena escribe.
Maestro sin estudio ni tiempo. Obrero lento,
mi sonoro metal caliento en forma breve.
Cual breve es la esperanza y breve el desengaño,
el día en que amanezco, la noche en que em agito,
muy pequeña es la concha y refleja el mar vasto,
breve tu beso, amor, y llena el infinito.
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Página ampliada e republicada em janeiro de 2023
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Página ampliada em outubro de 2021
Página publicada em novembro de 2008
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