VARLÔ OLÔ DE OLIVEIRA
OLIVEIRA, Varlô Ôlo de, 1937. Poesia (Coras de sonetos e bissonetos) . Rio de Janeiro, RJ: 1998. 48 p. 14x20,5 cm. “Varlô Olô de Oliveira ” Ex. bibl. Antonio Miranda
Provendo frutos ao viver mais brando,
Quando escasseia o pão e sobra a fome
Dos sem-emprego, que se vão matando,
Deixando aos filhos nem sequer o nome...
Dos sem escola e, em número aumentando,
Sem-teto, fé, porém que a dor consome,
Enquanto uns poucos, com poder nefando,
Gargalham, pisam, porque têm renome.
Dinheiro e mando, venha a nós o vosso ganho;
Capitalismo onde a ganância impera;
Ou comunismo que mascar e é afim.
Mil religiões, trocando seu rebanho
Por vis moedas, dão-no à besta-fera...
O meu vergel poético é jardim...
O meu vergel poético é jardim
Que, ao pôr-do-sol, comparo com o mundo:
Tem verde, rosa, azul e carmesim.
Aqui, na flora, e lá, no charco imundo.
Por sórdidos motivos, um clarim
Declara guerra com rancor profundo,
Fazendo do homem bom um ser ruim,
Pacífico tornado em furibundo.
O sangue verte e à terra faz-se adubo.
Miséria, fome, desemprego, peste,
Causados por champanhe e caviar.
Sonhando, escrevo e as guerras eu derrubo:
É o meu vergel o outrora campo agreste,
Que as musas vêm, sorrindo, cultivar.
Que as musas vêm, sorrindo, cultivar,
O meu vergel na vida se conforma,
Purificando o poluído ar,
Mantendo o ozônio sobre a plataforma.
A Musa vem e dita, o cumprimento à norma:
A Terra é grande e todos têm lugar,
Mas tal direito sempre alguém deforma.
Sem moradia, escola, pão, remédio,
Os muitos são sugados pelos poucos,
Chegando, às vezes, a comer capim.
A guerra, meio e fim, quebrando o tédio,
Faz um vergel melhor perante os loucos:
Às vezes, é o meu meio, às vezes, fim.
Às vezes, é o meu meio, às vezes, fim,
Versando pela paz, este escrever.
Transcrevo as musas. Para isso vim.
Que o povo saiba a guerra compreender.
Não é um jogo de xadrez, mas, sim (!),
Da vida o jogo — mais e bem-viver.
Se muita ovelha houver, pra que mastim?
Se vida houver melhor, pra que morrer?
Se “a mão que afaga é a mesma que apedreja”,
Se “ombreando o sabre, o livro (bom) não coa”,
Mister se faz, sem crise, a Deus rezar.
Que o templo, o centro, a sinagoga, a igreja,
Divino Amor se mostre a toda hora:
De qualquer forma, será ligado ao lar.
(...)
Página publicada em maio de 2015.
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