THEREZA LESSA
LESSA, Thereza. Patavina. Rio de Janeiro: Editora Seis, 1996. 111 p. 14x21 cm Apresentação de Ricardo Oiticica e Heloisa Buarque de Hollanda. Col. A.M.
Patavina confirma o prognóstico da geração 70 sobre os destinos da poesia:confundindo-se com a vida, ela veio para ficar. Ou, melhor dizendo, para se fazer "capa/textura/cor/pura/poesia" através do talento de Thereza Lessa, poeta surpreendente. Explico o surpreendente. Em Patavina, seu terceiro livro, Thereza - que, diga-se de passagem, mostra-se totalmente confortável no trânsito e no trato com a linguagem poética - nos oferece um trabalho já claramente profissional. O que, entretanto, permanece surpreendendo e confirmando a qualificação de seus textos é o fato de que sua maestria literária não a detém e mesmo a conduz por trilhas e pactos ironicamente superexpostos com os da mocinha que "no momento vital da fúria/ foi fundo/ desembainhou seu bico de pena/ e delirou a rabiscar nos punhos". Thereza Lessa está definitivamente entre os melhores autores da nova poesia brasileira. 'Heloísa Buarque de Hollanda - julho 1996
ULTIMATO
Tempera a cabeça com ingredientes e suavidade
Dedica-lhe um banho-maria em fogo brando
Taça na vitrola o último tango
Mas atenção
Cuidado
Esses tempos estão bem mal passados
FOTONOVELA
Então a mocinha
No momento vital da fúria
Foi fundo
Desembainhou seu bico de pena
E delirou a rabiscar nos punhos
Com a púrpura venal:
Ódio ao grande amor
OVERDOSE
Que palavras são aquelas
Ditas apenas nos sábados
Que boca e beijo esses
Nunca no dia a dia
Ai, amor, parto
Porque já não me acolhe a porta
E o novo dia só acorda
Enquanto meu corpo dorme
Página publicada em fevereiro de 2013.
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