TÁRIK DE SOUZA
Tárik de Souza Farhat (Rio de Janeiro, 19 de novembro de 1946), é jornalista, crítico musical e poeta. É filho do escritor, publicitário e jornalista Emil Farhat. Escreve para o Jornal do Brasil, entre outros veículos.
Iniciou sua atividade profissional em 1968 como repórter, redator e editor de música da revista Veja. Trabalhou para outras publicações, como Folha de S. Paulo, Estado de S. Paulo, Istoé, Vogue, Elle, Jornal do Commercio (RJ), Show Bizz, Opinião, Pasquim, Som 3, Revista do CD, Coojornal, Movimento, Playboy e Jornal da República. Atuou como consultor das três séries de fascículos História da Música Popular Brasileira (Editora Abril). Fundou e editou a revista Rock/Jornal de Música.
Entre 1981 e 1989, apresentou os programas Os músicos, O show é a música e Os repórteres (TVE). Desde 1994 vem dirigindo a coleção de livros sobre música "Todos os cantos" (Editora 34), iniciada com o título "Ouvido musical". Compilou faixas e redigiu textos das séries de discos "Mestres da MPB" e "Enciclopédia Musical Brasileira" (Continental/Warner) e das caixas "Apoteose ao samba" (2 vols. EMI), "Jorge Ben", "Nara Leão" e "Caetano Veloso" (Universal), entre outras. Atuou como editor do site Clique Music, especializado em música popular produzida no Brasil. Apresentou inúmeros discos editados no Brasil.
Apresenta desde 2005 o programa Bossamoderna na Rádio MEC do Rio de Janeiro.
E é, ainda, uma das maiores referências quanto ao jornalismo musical voltado para MPB.
Obras: Tem Mais Samba, editora 34, 2004; Rostos e Gostos da MPB, editora LP&M; Som Nosso de Cada Dia, editora LP&M; Tons Sobre Tom, editora Revan
Autópsia em Corpo Vivo.
Fonte: http://pt.wikipedia.org
“Seria agora oportuno dizer da sabedoria com que Tárik de Souza tempera dor e alegria (de esperança), o coloquial e o solene, o popular e o erudito, as isotopias consagradas e as insuspeitáveis, e as euforias, cacofonias, harmonias, blasfêmias, imperdões e perdão. Tempo virá em que outros se debruçarão sobre estes poemas para colher seus cristalemas: que agora nos baste o imediato recôndito, sua poesia tão pungente bela.” Antonio Houaiss
Palavras adventícias do mestre Houaiss sobre a vigorosa, um tanto incômoda e desconstrutiva obra poética de Tárik de Souza, uma voz avessa ao beletrismo, despojada, agressiva, que merece ser revisitada. Os textos foram colhidos na edição esgotada de AUTÓPSIA EM CORPO VIVO (um titulo exato mas um conteúdo tão pungente!) da L&PM, de 1979. Antonio Miranda
SOUZA, Tárik de. Autópsia em corpo vivo. Porto Alegre, RS: L&PM, 1979. 78 p. 14x20,5 cm. “ Tárik de Souza “ Ex. bibl. Antonio Miranda
firmamento
o menino blindado em mim
xispa óleos de ódio
eriça os pelos do mártir
quer violar cadeados
à prova de balas e bílis
bêbado das provetas de Maio
sangrou as Filhas de Maria
destampou as regras da virgem
no âmago da antífona, sem mandíbulas
dilui a goma arábica
dos white-collars
quer-se dono
sem contínuos
cometa sem cauda
úmida estrela
estamento
enterre o sonho
no Jardim do Meyer
fuligem de trem
escarro de cigarro
a placa humana viandante
soldada ao pixe fervente
sob o lusco-fusco
verde-e-rosa do subúrbio
Rio, 40 graus, de Janeiro
Pipa na Alta Tensão
serol nos trilhos
velhos quarando calçadas
purrinha, ladainha
bicho e bilhar
enterre o sonho no Jardim do Meyer
poído no diz-que-não-diz da Repúblicas
atado ao porão dos Governos
de seu (o sonho enterrado)
um pingüim de louça
e a Nossa Senhora
de zinco
em telhado quente
RETRATO ANTECIPADO DO ASSASSINO
um cara cevado de medos
adubado
goela abaixo o brasão do silêncio
um cara desses
selado à saída do útero
fardado e cromado
fizeram-lhe ginete
esporearam-lhe os flancos
atocharam-lhe a mordaça
um cara assim
covarde e centauro
sendo coice e costela
de repente o acorde de uma veia
salta-lhe a jugular
a faca no branco dos olhos
epistemológico
patriamada fuzil
o ri
bombar de tuas fontes
patriamada, Brazil
o cor
cundar de suas costas
camaleão a sangue frio
macunaíma portátil, radinho
culhão e cachaça
reichmarcação
na psico-loja
dos prazeres
há de tudo um rosto
atos falhos
passaralhos
sanguessugas
turumbambas
negocêntricos
psicódigos
esquisogágicos
loucompletem-se todos.
ANTOLOGIA DA NOVA POESIA BRASILEIRA . Org. Olga Savary. Rio de Janeiro: Ed. Hipocampo, Fundação Rioarte, 1992. 334 p. ilus Ex. bibl. Antonio Miranda
CASAMATA
Hoje não despes o pijama de ferro
e faróis de magnésio
tala larga
altas tragadas
derrapagens no asfalto sódio
vade retro visor
olhos de luz fria
dissolvem obstáculos
ao poder veloz
para choque que te quero aço, abre alas
engole ilhas
Ferozes, teus rugidos
tossem fumo preto importado
caros cromos luzem reluzem
espalham espremem, espetam
o povo andarilho e muito
Teu carro, teu barco
fortaleza de ossos e alumínio
afasta a contágio
temerário
estás só
à prova de homem
e húmus.
Página ampliada em setembro de 2020
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