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SIMONE BRANTES
Simone Brantes nasceu em Nova Friburgo e vive no Rio de Janeiro desde 1980. Publicou o livro Pastilhas brancas (7Letras, 1999). Teve poemas incluídos em antologias como Roteiro da poesia brasileira anos 90 (Global, 2011) e A poesia andando: treze poetas no Brasil (Cotovia, 2008). Seus poemas e traduções de poesia foram publicados em jornais e revistas como O Globo (Página Risco), Revista Piauí, Inimigo Rumor, Poesia Sempre, Polichinello, Action Poétique e Lyrik Vännen.
Extraído de
POESIA SEMPRE. Ano 8 . Número 12 . Maio 2000. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Ministério da Cultura, Departamento Nacional do Livro, 2000. Ex. bibl. Antonio Miranda
O poema é uma joia. É certo.
Por isso agrega
a gema de brilho seleto
pedras de ouro recobertas,
mas entre elas
uma que de tão opaca
ao teu olho escapa:
cisco brita cascalho entulho agrega
para que elas brilhem mais
e mais discretas.
A palavra cobra
se diz colubra em língua morta
mas não procure sob ela
o invertebrado sinuoso,
aquele que em ti injeta
peçonha, visco, nojo,
pois que esta é couro de cobra
vazio do que lhe dá corpo.
Mas não couro com que se fazem
cinto, sapato, bolsa,
mas palavra couro ressequida
(resto entre reliquiae)
beleza inútil, inofensiva.
Quando o negrito cai
sobre o branco da página
e cava o céu, o pássaro,
sol extático na asa,
o centro duroescuro da pedra
onde todo silêncio recolhe e grava,
momento é do poema,
o fiat lux da palavra.
Página publicada em maio de 2018
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