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SILVIA CHUEIRE
(Rio de Janeiro, 1952)
Médica psiquiatra, colabora em sites e blogues na internet. Publicou , em 2005, o livro de poemas Por favor, um blues.
Extraído de
POESIA SEMPRE. Número 28. Ano 15 / 2008. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 2008. 246 p. Editor Marco Lucchesi. Ex. bibl. Antonio Miranda.
Anoitecer
Anoitece de todas as maneiras,
a escuridão imiscuída entre as ruas
é um silêncio de ausências e omissões.
Caem as casas na cidade desolada,
caem os pensamentos,
feito espinhos,
e os homens recolhem-se à melancolia,
à melancolia áspera das coisas.
Não há redenção no amor
quando a pele a descolar dos ossos
é um vento as invadir cada minuto.
erma
É erma a noite
sangra pela tua ausência.
Incisão oblíqua
desfiando dor e desejo.
A um só tempo
réquiem e blues.
no escuro
a noite é uma sucessão de horas no escuro.
não importa, nada importa.
mais uma vodka,
uma garrafa de bom vinho,
uma carreira branca,
mais uma canção a ser cantada
com a garganta trêmula
do sentimento que acossa.
o blues magistral fatia a noite.
é tarde,
esgotam-se as horas,
a mão se inquieta,
crônicas, as palavras se deitam
sobre o bloco
apanhado ao acaso.
O corpo se ressente de ausências
e cai
nos velhos braços jovens da noite.
risos e mais um dança
antes do amanhecer
sobre lençóis suspeitos.
é a vida, diria depois,
condescendamos.
Página publicada em setembro de 2018
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