SÉRGIO COHN
Nació em São Paulo, Brasil en 1974 y vive em Rio de Janeiro. Poeta y editor. Dirige la revista Azougue desde 1994 y coordena la Azougue editorial desde 2001. Autor de Lábio dos Afogados (1999), Horizonte de eventos (2002) y O Sonhador Insone (2006).
“A poesia, então, na sua dupla aventura de evasão e de conhecimento, persegue a distância, par que se possa cultiva a arte do encontro, já que a presença constante constrói simulacros, falsidades e feridas. Ainda: essa poesia admite, paradoxalmente, a impossibilidade da fala, pois “por mais que confissões / sejam arrancadas / nuca serão entendidas”. BRUNO ZENI
TEXTOS EM PORTUGUÊS / TEXTOS EN ESPAÑOL
COHN, Sérgio.O sonhador insone (poesia 1994-2010). Rio de Janeiro: Azougue editorial, 2012. 159 p. 14x20,5 cm. ISBN 978-85-7920-067-0 Capa: fotografia da instalação sumi, e Marina Fraga. Col. A.M.
PATHOS
o sopro de veneno no ouvido, o jorro
impossível assaltando os olhos, luzes
intermitentes, tantas luzes
no azul manto escuro, um passo,
então silêncio, uma árvore
se sobressai no mercúrio, o verde
de tantos matizes, a cadência
dos tons. rico universo de uma só cor
e tantas dimensões pressentidas.
uma árvore, poderia chamar-lhe
pau-ferro, caesalpinía férrea,
mas é uma apenas uma árvore
à beira do caminho.
catedral ao avesso, sacraliza o ao redor.
as formas tatuadas no seu tronco,
rostos tão estranhos, uma folha cai.
é possível perceber nosso semblante
em suas nervuras, a reciprocidade
do espanto, ou sentar-se
a observar os cristais de orvalho,
mônadas no ventre do tempo.
uma árvore, convite.
nela ver o mundo,
missiva do imponderável.
De
LÁBIO DOS AFOGADOS
s. l.: Nankin, 1999
ISBN 85-86372-14-5
EM TEUS LÁBIOS NIDIFICA O HORIZONTE
O céu azul é uma flor que nos engole
fanerógamo do universo
O lago abriga enxames de abelhas
e há runas no olhar das corujas
Aqui estamos nós
Brand New Fools
restaurando antigos
vasos comunicantes
A vida é uma estrangeira
para ser contemplada
enquanto algo
— indefinível como a flama —
nos diz
que tendemos à dissolução
ESTILHAÇOS DE UM ORÁCULO
I
céu de ardósia
quase noite
arranhando
o azul, melodia
II
estamos no ar
como uma ferida
ao vento, navalha
III
seria fácil dizer
“como a pele das peras”
embora o sabor
amanhecido
a beleza das coisas
postas à vontade
IV
planaltos de sal
e lembranças de sargaços
todo mar é
uma clausura extrema
mas nem o que o retém
o excede
V
de noite
reinventar suas cores
como uma serpente
se atrai
pelo leito no jarro
livres
errantes
fazemos nossas escolhas
no gramado estendido
deste solstício de inverno
tudo mais falha:
germinar é difícil
mais difícil permanecer intacto
PEQUENA MORTE
A tragédia do homem: a impossibilidade de possuir e
gozar seu objeto do desejo ao mesmo tempo
Cesare Pavese
Pavese é o olho
da cobra verde
Córdoba de Lorca
e a cama
em noites de coca
e narciso encalacrado
(um suspiro
cravado na carne)
o intocado das nascentes
sempre além
e esta cama
e este sono
que nunca vem
o que o vento desenha
na superfície da água
o movimento das árvores
em liberdade exata
o que
em silêncio
se perpetua e passa
MEMENTO
permanece o eu
este simulacro
frágil lacre de refrões
e a noite te pede de volta
pathos
O sopro de veneno no ouvido. O jorro
impossível assaltando os olhos. Luzes
intermitentes. Tantas luzes
no azul manto escuro. Um passo,
então silêncio. Uma árvore
se sobressai no mercúrio. O verde
de tantos matizes, a cadência
de tons. Rico universo de uma só cor
e tantas dimensões pressentidas.
Uma árvore. Poderia chamar-lhe
Pau-ferro, Cesalpinia ferrea,
mas é uma apenas uma árvore
`a beira do caminho.
Catedral ao avesso, sacraliza o ao redor.
As formas tatuadas no seu tronco,
rostos são estranhos. Uma folha cai.
É possível perceber nosso semblante
em suas nervuras, a reciprocidade
do espanto. Ou sentar-se
a observar os cristais de orvalho,
mônadas no ventre do tempo.
Uma árvore, convite.
Nela ver o mundo,
missiva do imponderável.
mnemo.
Há um resíduo de futuro
no vento, fotograma ante-
cipado, montagem de fragmentos
induzindo`a cena. Como
aquela árvore se curvando com-
placente aos invisíveis pesos,
como o mormaço
predizendo chuva. Repito,
há um canto anterior
a qualquer canto, uma réstia,
um eco primeiro, como um som
que ressoa dentro de cada
palavra, como todo gesto se
desenha e apaga, então
novamente. Há o revés,
o diáfano,o termo, beleza
posta e perdida, o desen-
cadeamento, assim
como a sede do vapor
por uma forma, assim
como tudo retorna
à imaginação
por trás da cortina
da memória.
Extraídos de HORIZONTE DE EVENTOS. Rio de Janeiro: azougue editorial, 2002.
QUEM SOMOS NÓS AGORA
o que nosso tempo dita
no vício de estar vivo
entre pares
no rastro no rastilho
desta festa de imprevistos
corpo novo
amalgamado ao meu
onde todo ruído branco
se perde em significados
& as frutas
luzem no espanto
do quarto escuro
cintilam as gotas
contra a persiana cerrada
o ar melado de fumo
o húmus o introspecto
sorriso que nada atinge
na mão o copo evaporado
sem prumo
no chão Hakin Bey & Back
“je suis um revolutionaire”
um ou outro universo
esquecido
as vozes ardem
contra a mente
esta noite
e lá fora a chuva
é o silêncio
de todas as coisas:
vozes, sons perdidos
o copo evaporado
de eras
o fértil, o terrível
Iporã, espaço aberto
onde tudo é possível
“ou a total liberdade
no reino da impossibilidade”
ecoa a amiga
antes de desaparecer
O SONHADOR INSONE (I)
ombros, lábios, vapor, pêssego
o favor do esquecimento
um ângulo no espelho
que subtrai do olhar
tudo que é próprio
então mergulho-
a imponderável medusa
restituindo o que pulsa
a um
(o amor como o inferno
não permite medida comum)
O SONHADOR INSONE (II)
ao léu e vário
abrir as portas
de par em par
e sair para as ruas
tudo é nascente
o sol pleno de setembro
traz da mão
do garoto que passa
um cheiro de fruta
e tudo agora é sorriso
contra qualquer amor
ou aviso
que se levante
(a vida já é um tempo
por demais interessante)
Extraídos de O SONHADOR INSONE. Rio de Janeiro: azougue editorial, 2006.
MNEMO
Ha um resíduo de futuro
no vento, fotograma ante-
cipado, montagem de fragmentos
induzindo à cena. Como
aquela árvore se curvando com-
placente aos invisíveis pesos,
como o mormaço
predizendo chuva. Repito,
há um canto anterior
a qualquer canto, uma réstia,
um eco primeiro, como um som
que ressoa por dentro de cada
palavra, como todo gesto se
desenha e apaga, então
novamente. Há o revés,
o diáfano, o termo, beleza
posta e perdida, o desen-
cadeamento, assim
como a sede do vapor
por uma forma, assim
como tudo retorna
à imaginação
por trás da cortina
da memória.
UM CONTRAPROGRAMA
1
Esta montanha invade a cidade
e, à sua margem, penso
não no silêncio, na astúcia
e no exílio (que já foram
tentados a contento) mas
do lado de dentro
mesmo que impossível
extraviar-me no alheio
2
O alheio: não o outro
do morro ou o rosto
da rua, mas o que
ainda despercebido pulsa
e sobreviverá ao tempo
porque o fim disto
- desta cidade - não é
o de todas as coisas.
Extraído de: CAOS PORTATIL – POESÍA CONTEMPORÁNEA DEL BRASIL
– EDICIÓN BILINGUE. Selección de Camila do Valle y Cecília Pavón. Traducción de Cecilia Pavón. México: Edicones El Billar de Lucrecia, 2007. ISBN 978-970-95317-2-5
Apoyo del Fondo Nacional para la Cultura y las Artes
TEXTOS EN ESPAÑOL
Traducciones de Martha Leñero
y José Manuel Mateo
Destierro
1
Sólo me interesa lo que anuncia la pérdida, el terror de lo efímero. Por eso hay un coágulo de nostalgia en ese desfile presente. Los tahúres diseñan los primeros movimientos de la mañana, intentan esconder lo que realmente somos. Pero pocos reparten cuando te niego o cuando te soporto. Hay un tono alucinante en la crueldad, banquete de oro e indolencias. Un tono de infancia en la alucinación. Y aún la posibilidad de una última cerveza, o de nuestro veneno fermentado en viñas inmemoriales, las rumores nuevos.
2
Como mirar el horizonte blanqueado. Son trampas las rumores de la ciudad; las carros inventan un mar a la distancia. Sin embargo, un día los mendigos se ríen de sí mismos, una prostituta recita a Vinicius contra el sonido monocorde de las pájaros ennegrecidos (este cielo cenizo que poco expresa nuestro modo tropical). Y podemos nuevamente fingir que todo esta vale la pena. Es un antropófago el éxtasis. Los tambores lineales, sin rajaduras, nos corroen por dentro. Y la sucesión de seducciones nos impulsa y nos detiene. Te llamaría si pudiera. Pero ese caos no pide complicidad y tampoco veneno. No hay por qué ordenarlo o entenderlo. Ya sea que ofrezca o apriete, nos guía. Tal vez dice que conviene anestesiar los signos, seguir e! sobresalto de paisajes dispares con la misma suavidad con que nos perdemos. Tal vez, apenas, si lanzamos una sentencia cortante, si en alguna certeza ponemos los ojos indolentes, nos sonría y se vuelva más sereno.
Pathos
EI soplo de veneno en la oreja. El chorro
imposible saltando a los ojos. Luces
intermitentes. Tantas luces
en e! azul manto oscuro. Un paso,
y luego silencio. Un árbol
sobresale en el mercurio. El verde
de tantos matices, la cadencia
de los tonos. Rico universo
de un solo color
y tantas dimensiones presentidas ..
Un árbol. Podría llamarle Palo-fierro, Caesalpinia ferrea
mas es apenas un árbol
a la orilla del camino.
Catedral invertida, sacraliza el rededor.
Las formas tatuadas en su tronco,
rostros tan extraños. Una hoja cae.
Es posible conocer nuestro semblante
en sus nervaduras, el espanto
recíproco. O sentarse
a observar los cristales de rocío,
partículas en el vientre del tiempo.
Un árbol, invita
a ver en él al mundo,
misiva de lo imponderable
Mnemo
Hay un rastro de futuro
en el viento, fotograma anti-
cipado, montaje de fragmentos
que inducen la escena. Como
aquel árbol curvándose com-
placiente a los pesos invisibles,
como el bochorno
que precede a la lluvia. Repito,
hay un canto anterior
a cualquier canto, un rastro,
un eco primero, una voz
que resuena por dentro de cada
palabra, como todo gesto se
enciende y apaga, e
insiste. Está el reverso,
y lo diáfano, el término, la belleza
dispuesta y perdida, el desen-
cadenamiento, así
como la sed del vapor
por una forma, así
como todo regresa
a la imaginación,
por la tangente
de la memoria.
Poemas extraídos de ALFORJA – REVISTA DE POESÍA ( n. XIX, invierno 2001), de México, que edita nuestro amigo el poeta Jorge Ángel Leyva. Poemas brasileños en edición especial preparada por Floriano Martins.
MISIÓN DIPLOMATICA EN CHINA (pianissimo)
¿Dónde posar la palabra?
Como si la lapicera fuese el asa de una taza
De porcelana rara que debo tomar con firmeza
con cuidado
en el aire.
En el trayecto que hay entre el aire y el plato
podemos, o no,
arruinar la dinasti
ía Ming.
Con delicadeza.
UN MURO DE SILENCIO
Para Pedro Eiras
Sobre la página en blanco reposa un reino de silencio.
(¿Cómo saltar este muro?)
Es cierto que todo texto comienza antes del próximo texto.
Si no es en la página en blanco,
¿Dónde comienza, entonces, el texto?
¿En el cuerpo del que escribe?
Es cierto que todo cuerpo comienza antes que el propio
cuerpo.
¿Dónde, entonces, comienza el cuerpo?
¿Tal vez en la página en blanco?
He ahí el muro.
MUJER EN PROCESO
las palabras secas, duras, masculinas
las palabras peligrosas y puntiagudas entre gritos y susurros
las palabras penetrantes:
autonomía, repertorio, simultaneidad, desublimador,
asociación imagética, corte epistemológio, marcador
diferencial, narrador heterodiegético y expresividad
en proceso.
Una mujer no habla así.
Habla en independencia, vocabulario y articulación.
De me parece y por ejemplo.
La palabra del hombre en mi boca
y mi cuerpo sabe que sólo hago eso para masturbarme.
Extraído de: CAOS PORTATIL – POESÍA CONTEMPORÁNEA DEL BRASIL
– EDICIÓN BILINGUE. Selección de Camila do Valle y Cecília Pavón. Traducción de Cecilia Pavón. México: Edicones El Billar de Lucrecia, 2007. ISBN 978-970-95317-2-5
Apoyo del Fondo Nacional para la Cultura y las Artes
ROTEIRO DA POESIA BRASILEIRA: ANOS 90. Seleção e
prefácio Paulo Ferraz; direção Edla van Steen. São Paulo:
Global, 2011. (Coleção Roteiro da Poesia Brasileira)
ISBN 978-85-260-1156-4 Ex. bibl. Salomão Sousa
DISCURSO
tecer o fio de Ariadne
sem ao menos a intenção
de um dia retornar
tecer pelo exercício
narcísico
de se conhecer e doar
ir, perscrutar
para além do verde
opaco da próxima curva
sabendo cada passo
apenas eco
do anterior
ir
pelo puro prazer
da paisagem
ao estrangeiro
só
é permitido
o esplendor
Horizonte de eventos (2002)
DIMENSÃO – REVISTA INTERNACIONAL DE POESIA. ANO XX – No. 30. Editor Bilharino. Capa; Visual de Gabrile -Alfo Bertozzi. Uberaba, Minas Gerais, Brasil: 2000. 200 p. No. 10 787 Uberaba, MG – Brasil. Capa: Visual de Gabriele-Aldo Bertozzi. Editor: Guido Bilharino 200 p. Ex. biblioteca de Antonio Miranda
A R S P O E T I C A
Uma elipse
é um serial de círculos
concêntricos
com ou sem
projeção de tamanho
onde Yeats viu
ordem e degradação
a dupla hélice
o eterno variável retorno
se Pessoa disse
ser o objeto mais difícil
de pôr em palavras
(sendo que conhecia muito bem
elipses e palavras)
Uma elipse é o modo
que vejo os mais belos
poemas aparecerem
num quase transborda
e uma contenção
que foge à primeira vista.
*
Página ampliada e republicada em abril de 2024.
*
VEJA e LEIA outros poetas de SÃO PAULO em nosso Portal:
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/sao_paulo/sao_paulo.html
Página ampliada e republicada em junho de 2022
Página ampliada e republicada em maio de 2009
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