SÉRGIO BATH
Sérgio Bath nasceu no Rio de Janeiro em 1931. Diplomata, hoje aposentado, teve também longa carreira como tradutor, e publicou uma série de obras, de poesia e principalmente ensaios, que incluem os seguintes títulos: O Que É Diplomacia (Brasiliense, 1989), Maquiavelismo: A Prática Política Segundo Nicolau Maquiavel (Ática, 1992), Japão Ontem e Hoje (Atica, 1993), Brasil Brasileiro (Saga, 1994), Arthashastra (UnB, 1995), Amigos Traiçoeiros, com Thiago de Mello (UnB, 1996), Amigos ou Inimigos: Sind Freunde Feinde ? (ed. part., 1996), Narciso: Catálogo de Autobiografias (ed. part., 1997), Shintoísmo: o Caminho dos Deuses (Ática, 1998), Les Faux Amis, com Oswaldo Biato (UnB, 1998), O Caderno de Policarpo Quaresma (UnB, 1998), Árabe ou Arábico (UnB, 2000). Nas duas páginas seguintes faça a sua escolha.Fonte da biografia: http://br.geocities.com/
Sergio Bath
Cantos ao minotauro. 2ª ed.
Ilus. Augusto Estellita Lins.
México: Imprensa Fígaro, 1966. 39 p.
Edição de 250 ex, exemplar n. 56
MINOS
oito anos rei de Creta
que Homero viu no Inferno
juiz dos mortos
mago e monarca
êstE eco
de tão desventurosa sorte
A IRA DE TESEU
voz irada é chama
que as velas anunciam
no mar
canto de Teseu
a volta das gaivotas
o eco traz no Egeu
O AMOR DE ARIANA
talvez o corpo
rasgado de Teseu
mas doce respirar
de amor cansado
uma flor
à memória de Androgeu
De
DESALEGRIA
Rio de Janeiro: Livraria São José, 1960
VISITA AO MORTO
Olhei em seus olhos fundos
procurando a vida,
talvez adormecida nas pupilas.
Amarelo e recente
o defunto
cruza as mãos sobre o peito.
Uma luz estranha,
de brilhos imprecisos,
derrama-se do morto pela sala:
os olhos
cintilam na corpo
frio.
Olhei fundo nos olhos
procurando a vida.
No corpo só morte.
Entretanto,
Os olhos ainda viviam.
***
Quando eu era criança
gostava de desenhar o mapa
de países imaginários.
O lápis rombudo,
chiando no papel grosso,
fazia lagos, montanhas,
traçava a linha de litorais
sempre claros,
empalmeirados.
Hoje, que conheço os mares,
os litorais me sabem a mesmo.
Saudade.
Saudade dos países de papel de embrulho,
das praias sempre claras,
empalmeiradas.
***
Pejado de noite.
Grávido de fadiga.
O longo caminho
traz lembrança
de mundo em abandono.
Hoje, agonia.
Amanhã, piedade.
Domingo é dia de missa.
O tempo não perdoa.
A AMADA MORTA
Muda e pálida
e não.
Para jamais.
O amante
permanece.
Ai, flores.
O silêncio
dos relógios
continua.
A amada tão passiva
nem espera.
Amada morta.
Nunca.
De
AVE DA NOITE
Rio de Janeiro: Livraria São José, 1961
INSTANTE
a meu amigo que vai morrer
A meu lado,
preciso, exato,
és certeza
de um corpo que sua.
Longe contudo
não sei. Pois o tempo desfibra
tanta crença.
Lembra-me o instante
em que falaste. Tua boca,
também o silêncio claro.
Agora és certo. Depois,
onde te buscar,
a ti sem cópia,
sem possibilidade de troca?
Vejo que existes
com força.
Depois não sei.
AMADA
m
viço juvenil
de milharais
amarelos
ave
esgarçada
de carne
taça de mel
AVE DA NOITE
Do fundo da noite adormecida
voa.
Da noite funda, como um eco.
Ave
que o dia não diz.
Espuma mensageiro
voejante.
Da noite que cria
vens.
Do sono de sonhos.
Da noite latente,
promessa do dia.
Asa que tange
noturna
meu poema.
Ave da noite.
1. Infância que jamais
Infância que há nos frutos e brinquedos,
nos pássaros e vinhos.
Em tantos seios perdidos.
Infância que jamais jamais.
Irmãozinho,
acolá minha irmã que nunca tive.
Olha a vaca, papai.
Berço bola sinos
canjica mingau tigela.
Natal.
Água fervida. Quintal.
Jamais.
4. Esperança
Apesar de todos os engenhos,
Esperança.
Apesar das lâmpadas,
Desenganos,
Ácidos e serpentes.
Vertigens túrbidas,
transeuntes.
Insetos em marcha,
bestas em fuga.
Dos cofres e negativas.
Apesar da enorme escassês
de infância,
e de saudades,
esperança.
Página publicada em junho de 2008; atualizada em junho de 2011
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