ROSEMAR PIMENTEL
Rosemar Muniz Pimentel nasceu em 20 de Novembro de 1905 em Niterói. Desfaz-se aqui, um equívoco frequente que dá Rosemar Pimentel como paulista, nascido em Lorena. Lá, Rosemar Pimentel passa apenas parte de sua infância e as férias escolares de sua juventude e adolescência. Deste equívoco não se livrou nem Pedro de Alcântara que em seu livro - "232 Poetas Paulistas" às páginas 475 e 476, publica os versos - "Prece" e "Versos a um poeta doente" - de Rosemar Pimentel e o dá como nascido em Lorena.
O primeiro e único livro publicado por Rosemar Pimentel tem o título de ILUSÕES MORTAS. Foi editado em 1922 pela Papelaria Brazil, então situada na Rua da Quitanda, no Rio de Janeiro. Trata-se uma coletânea de versos, feitos aos dezessete anos, e com a qual, Rosemar Pimentel nunca se encantou. Na realidade, são versos que apenas esboçam o grande poeta que eclodiriam oito anos depois. (...) Fonte: http://enzoneiro.blogspot.com.br
ETERNA AUSENTE
Vens... Não virás... A dúvida me invade
Faz frio lá por fora, tanto frio...
E a chuva tonta de serenidade
Molha a varanda em que teu vulto esguio
Era a saudade quieta, era a saudade
das últimas cigarras desse estio...
Vens... Não virás... Não sei... Eu sempre espero
(Ah! Pouco importa que te espere em vão...)
E quem sabe se em tua meninice
Tenhas piedade assim dessa aflição
E venhas aquecer minha velhice
Dentro do outono do teu coração
Vens... Não virás... Aquela história ida
Foi o único amor que a gente quis...
Durou tão pouco essa ilusão, querida,
Ah! Depois que partiste comovida
Eu nunca mais me pude ver feliz...
Vens... Não virás... E a chuva continua
é o inverno que volta, é o fim do outono...
Canta uma voz de mãe no fim da rua...
(Ah! Quem me dera que neste abandono
eu tivesse uma voz igual a tua
para embalar o tédio do meu sono...)
Vens... Não virás... O amor é como o espinho
Enche a vida de pétalas e ais
Tens decerto outro amor, tens outro ninho.
Não vens... Mas eu te espero entre os rosais
Como esse alguém que a gente espera sempre
E que se sabe que não volta mais.
VERSOS A UM POETA DOENTE
Vai, equívoco torto e doloroso
De células reunidas sem razão,
Viver, na solitude de um leproso,
odas as formas vivas da ilusão.
Vai, crucifica o amor e a glória e o gôzo
No desespêro do teu sonho vão,
E abre em tua alma, como um sol radioso,
A Bíblia da renúncia e do perdão.
Sofre, caminha pelo sonho e esquece.
Porque ao lado do abutre que te rói,
E como o Nada em teus neurónios cresce,
Há o destino evangélico do herói,
Abençoando na carne que apodrece
A dor que cria e a angústia que constrói.
PRECE
Nossa Senhora, dá que eu, sendo um triste,
Cale as minhas desditas como o mar,
E receba um destino que consiste
É nada ter e nada desejar.
Dá-me tu, que teu filho, morto, viste,
A glória superior de renunciar,
E de sentir a dor maior que existe,
De olhos enxutos, sem poder chorar.
Mãe do pobre, do enfêrmo, do sozinho,
Faze que a angústia do meu sonho morto
Tenha a mudez das pedras do caminho,
E, alma da glória de teu reino cheia,
Eu viva entre os escombros do meu Horto,
Abençoando os rosais da terra alheia.
Página publicada em junho de 2017