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ROSA RAMOS
Rosa Ramos — no registro civil, Rosane Ramos — é carioca de 1955. Há bastante tempo, publica poemas em jornais, revistas literárias e sites da internet. Participou também de algumas antologias poéticas, mas somente agora está lançando seu primeiro livro solo, Canto de Arribação (Editora da Palavra, Rio, 2016).
VIGÍLIA
Um anjo plana
sobre a cama
com a asa esquerda depenada.
Preso a um fio
brinquedo
móbile
ele me olha
e não suporto a sua mirada
Plana, gira,
a asa íntegra
em labaredas.
Ígnea chama sobre minha cabeça.
E se por temor se guarda
a arte e a poesia nos armários
é que o anjo — terrível! —
contrário à beleza
transfigurou-se no enforcado.
A cabeça pende para um lado
o fino fio torna-se cordão
onde havia asas
braços e mãos
que se alongam como um rastilho
atrás da sombra.
A noite tarda em despertar-me da insônia.
O anjo, este
resta desarticulado
no ar.
Despido de suas vestes,
tão vivo
que o posso tocar.
OLIANI, Luiz Otávio, org. entre-textos. Porto Alegre: Vidráguas, 2013. 104 p. 14 x 21 ISBN 978-85-62077-16-6
Ex. bibl. Antonio Miranda
CLIP
Rosane Ramos
Um pássaro pousa à janela.
O relógio (a vida!) corre como um louco.
Os meninos crescem.
O salário pouco.
A vizinha berra.
A cadela cria.
A vontade cede.
O espelho engana.
O feijão aumenta.
O corpo fantasia.
O lirismo escapa.
O amante falta.
O gás acaba.
A fé esfria.
Nenhuma voz ao telefone
que traga a poesia.
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TERESA*
Luiz Otávio Oliani
e agora Teresa?
meu mundo ruiu,
o bule entornou...
café derramado,
toalha manchada.
com a chave nos dedos,
cadê solução?
a porta fechada,
a casa sem água...
o forno sem torta,
a rua com lixo...
se você cantasse
o tango argentino!...
se você tocasse balalaica!...
se você voasse...
se você fizesse alguma coisa, Teresa!
mas você só me pede versos
* poema musicado por Maury Sant´Ana
In: Fora de órbita, RJ, Editora da Palavra,
Editora da Palavaras, 2007.
Página publicada em setembro de 2020
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