RONALD ZOMIGNAN CARVALHO
Ronald Zomignan Carvalho nasceu no Rio de Janeiro em 24 de março de 1944, filho de João Carvalho Filho, poeta, e Hermínia Zomignan Carvalho. Veio para São Paulo em 1948 e permanece até hoje, depois de ter andado muito jpelo mundo. Em 1959 organizou a Semana da Poesia Novíssima, em São Paulo, de onde surgiu o Grupo dos Novíssimos, a Coleção dos
Novíssimos e a Antologia dos Novíssimos (Massao Ohno Editor, 1960), onde era o mais jovem de seus integrantes. Publicou em 1965 o livro de poemas Ao compasso de marcha (Brasil Editora, capa de Lindolf Bell). Participou do
movimento da Catequese Poética, cursou o mestrado de Literatura Portuguesa na USP, sob a orientação de Carlos Felipe Moisés. Em poesia ligou-se também a Luís Álvaro de Oliveira Ribeiro, Jorge da Cunha Lima e Paulo Hermony Mamede. Seus modelos são Drummond, Vinícius, Jacques Prevert, T.S. Eliot, Borges, Manuel Bandeira e - claro - Fernando Pessoa.
Tem três filhos: Arma Cecília, 23, Maria Lúcia, 20 e Maurício, 18. Costuma refugiar-se em Maresias, litoral norte de São Paulo. Um pedaço de seu coração mora em Nova Iorque. É jornalista, professor de Marketing e Planejamento Estratégico. Formou-se em 1966 pela Fundação Getúlio Vargas, foi executivo e hoje (1992) é consultor em Desenvolvimento de Mercado em São Paulo, associado a Samuel Szwarc.
CARVALHO, Ronald Zomignan. Olhar girassol. Capa e ilustrações de Gonçalo Ivo. São Paulo: Massao Ohno Editor, 1992. 83 p. ilus. 21x21 cm. Impressão Palas Athena. Tiragem: 1000 exs. Col. A.M.
DE SAL E SOM
Na palma da mão
brilha o sol,
como pequena pedra de sal
oculta no côncavo cansado.
Súbito grito de criança,
o som se eleva,
na garganta cansada.
Perdido no mar de luz
o barco se desprende,
singra a noite com fúria,
deseja voltar ao cais.
Tarde da noite,
no côncavo da mão
a pedra de sal dissolve-se
num grito cansado.
O barco navega,
criança.
CÉU
Mesmo que eu inventasse nesta noite de insónia
um sonho inútil e cansasse antes de dormir.
Mesmo que criasse asas e os morcegos caíssem do teto
e eu conseguisse revelar o segredo da janela verde.
Mesmo que os peixes escorregassem para fora do aquário
e uma outra esfera de tempo me fosse inventada.
Mesmo que eu fizesse papagaio das dobras do tempo
e conseguisse escrever versos que as pessoas entendessem.
Mesmo que os novos amores não lembrassem os antigos
e eu fosse sempre o poeta adolescente dos bares enfumaçados.
Mesmo que a revolução social afinal chegasse
e nas ruas as bandeiras verdes tremulassem sob a chuva.
Mesmo que os bondes voltassem e meu filho morresse
sem que eu pudesse beijar e fechar seus olhos azuis.
Mesmo que inventassem uma aurora de plástico
que eu pudesse carregar no bolso, silenciosa.
Mesmo que não houvesse amanhã, digamos, que eu morresse
e nunca mais pudesse ver o doce rosto branco
ornado de finos cabelos escuros anelados.
Página publicada em novembro de 2013
|