RONALD DE CARVALHO
(1893-1935)
Diplomata e literato brasileiro nascido no Rio de Janeiro, RJ, um dos mais significativos expoentes do modernismo brasileiro. Após formar-se em direito (1912), ingressou na carreira diplomática (1914). Conciliando a literatura com a diplomacia, seus primeiros poemas denotavam forte cunho simbolista. A estréia em livro ocorreu com Luz gloriosa (1913), que revelava influência de Verlaine e Baudelaire.
Participou na Semana de Arte Moderna (1922), iniciando sua criação no âmbito do modernismo. Morreu em um acidente de automóvel no Rio de Janeiro, quando ele era secretário da presidência da república. Em sua obra também foram destaques Poemas e sonetos (1919), Pequena história da literatura brasileira (1919), Epigramas irônicos e sentimentais (1922), Toda a América (1926), considerado sua obra mais representativa da fase poética, Espelho de Ariel (1923) e Estudos brasileiros (três séries: 1924-1931).
Fonte: http://www.dec.ufcg.edu.br/biografias/
Fundador da revista Orpheu, em companhia de Luis de Montalvor, que exerceu uma influência notável na intelectualidade de seu tempo.
Vea: TEXTOS EN ESPAÑOL
TEXTOS EM INGLÊS – TEXTS IN ENGLISH
TEXTO EN ITALIANO
POESIE EN FRANÇAIS
BRASIL
Nesta hora de sol puro
palmas paradas
pedras polidas
claridades
faíscas
cintilações
Eu ouço o canto enorme do Brasil!
Eu ouço o tropel dos cavalos de Iguassú na ponta das
rochas nuas, empinando-se no ar molhado, com
as patas de água na manhã de bolhas e pingos verdes,
Eu ouço a tua grave melodia, a tua bárbara e grave melodia,
Amazonas, a melodia de tua onda lenta de óleo
espesso, que avoluma e se avoluma, lambe o barro
das barrancas, morde raízes, puxa ilhas e empurra o
oceano mole como um touro picado de farpas, varas,
galhos e folhagens;
Eu ouço a terra que estala no vento quente de nordeste, a
terra que ferve na planta do pé de bronze do
cangaceiro, a terra que se esboroa e rola em surdas
bolas pela estrada de Juazeiro, e quebra-se em crostas
secas, esturricadas no Crato chato;
Eu ouço o chiar das caatingas — trilos, pios, pipios, trinos,
assobios, zumbidos, bicos que picam, bordões que
ressoam retesos, tímpanos que vibram límpidos, papos
que estufam, asas que zinem rezinem, cris-cris,
cicios, cismas, cismas longas, langues — caatingas
debaixo do céu!
Eu ouço os arroios que riem, pulando na garupa dos dourados
gulosos, mexendo com os bagres no limo das luras e das
locas;
Eu ouço as moendas espremendo canas, o glu-glu do mel
escorrendo nas tachas, o tinir das tigelinhas nas
seringueiras;
e machados que disparam caminhos,
e serras que toram troncos,
e matilhas de “Corta-Vento”, “Rompe-Ferros”, “Faiscas”
e “Tubarões” acuando sussuaranas e
maçarocas,
e mangues borbulhando na luz,
e caitetús tatalando as queixadas para os jacarés que dormem
no tejuco morno dos igapós...
Eu ouço todo o Brasil cantando, zumbindo, gritando,
vociferando!
Redes que se balançam,
sereias que apitam,
usinas que rangem, arfam estridulam, ululam e
roncam,
tubos que explodem,
guindastes que giram,
rodas que batem,
trilhos que trepidam,
rumor de coxilhas e planaltos, campainhas, relinchos,
aboiados e mugidos,
repiques de sinos, estouros de foguetes, Ouros-Prego, Baía,
Congonhas, Sabará,
vais de Vaias de Bolsas empinando números como papagaios,
tumulto de ruas que saracoteiam sob arranha-céus,
vozes de todas as raças que a maresia dos portos joga no
sertão!
Nesta hora de sol puro eu ouço o Brasil.
Todas as tuas conversas, pátria morena correm pelo ar...
a conversa dos fazendeiros nos cafezais,
a conversa dos mineiros nas galerias de ouro,
a conversa dos operários nos fornos de aço,
a conversa dos garimpeiros, peneirando as bateias,
a conversa dos coronéis nas varandas das roças...
Mas o que eu ouço, antes de tudo, nesta hora de sol puro
palmas paradas
pedras polidas
claridades
brilhos
faíscas
cintilações
é o canto dos teus berços, Brasil, esses teus berços,
onde dorme, com a boca escorrendo leite, moreno,
confiante,
o homem de amanhã!
MERCADO DE TRINIDAD
Mercado de Trinidad
na tepidez molhada da manhã!
Dourados tropicais de asas e frutas,
verdes marítimos franjados de alcatrazes,
mar de corais, fogos de madrepérolas ao sol.
Das cestas de vime rolam ananases de escamas oxidadas,
o amarelo e o vermelho dos papagaios riscam o ar,
as mangas queimam penumbras de folhas murchas,
a terra é uma vibração de coloridos.
Sobe das faluas o aroma grosso do breu e do alcatrão,
e há deuses de bronze no azul da vaga, no azul da vaga
tremula e faiscante...
Mercado de Trinidad
na tepidez molhada da manhã!
Por trás dos mastros e cordames pardos,
na cinta elástica das bananeiras e dos limoeiros,
espiam cottages e bungalows.
E, sobre as livres solidões selvagens,
entre araras, tucanos, goiabeiras e coqueirais,
passeia gravemente, de capacete branco,
a ruiva sentinela do Forte colonial...
INTERIOR
Poeta dos trópicos, tua sala de jantar
é simples e modesta como um tranquilo pomar;
no aquário transparente, cheio de água limosa,
nadam peixes vermelhos, dourados e côr de rosa;
entra pelas verdes venezianas uma poeira luminosa,
uma poeira de sol, tremula e silenciosa,
uma poeira de luz que aumenta a solidão.
Abre a tua janela de par em par. Lá fora, sob o céu do verão,
todas as árvores estão cantando! Cada folha
é um pássaro, cada folha é uma cigarra, cada folha
é um som...
O ar das chácaras cheira a capim melado,
e ervas pisadas, à baunilha, a mato quente e abafado.
Poeta dos trópicos,
dá-me no teu copo de vidro colorido um gole d'água.
(Como é linda a paisagem no cristal de um copo d'água!)
|
RONALD DE CARVALHO
JOGOS PUERIS
XIII DESENHOS DE NICOLA DE GARO
(edição facsimilar da original de 1926)
[com a grafia da época}
O CANTO QUE ME ENSINASTE
O CANTO que me ensinaste foi virgem e livre:
todas as águas balançaram nelle,
todos os ventos murmuraram nelle,
todos os perfumes se impregnaram nelle.
Foi como um vôo,
foi como um vôo longo, longo,
um vôo todo verde n teu sol todo de ouro, no eu ar todo azul<
o canto virgem, o canto livre que me ensinaste.
HOKUSAI
Nos charcos chatos
caniços verticaes
rompem rectos
a luz redonda...
A lua redonda
onde pula a carpa de Hokusai...
MEIO –DIA
CHOQUE de claridades
Palmas paradas
Brilhos saltando nas pedras enxutas.
Batendo de chofre na luz
as andorinhas levam o sol na ponta das asas!
I
INSCRIÇAO PARA O CORPO DE UMA MULHER VIRGEM
TEU corpo foi como a noite no alto da montanha,
a noite cheia de papoulas,
a noite cheia de mato fresco e vozes silvestres.
Teu corpo foi humido como as plantas que nascem pelo chão,
como as avencas alongadas sobre os rios,
como o ar arrepiado e subtil antes da chuva.
Teu corpo foi mysterioso como um Valle,
como um Valle cheio de silencio.
Teu corpo foi inutil como um longo dia de tedio...
ANTHROPOMORPHISMO
A LUZ sinuosa salta sobre os troncos duros.
De ramos em ramo as folhas todas se lambem,
línguas tremulas, breves, celeres batendo!
Escorre mel do ar...
As mãos do vento baixam sobre o corpo moreno da terra aspera, excitante.
No silencio mono, fatigado, vertiginoso,
cáem gotas pesadas de resina pelo chão...
´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´´
Epigrama
Enche o teu copo, bebe o teu vinho,
enquanto a taça não cai das tuas mãos...
Há salteadores amáveis pelo teu caminho.
Repara como é doce o teu vizinho,
repara como é suave o olhar do teu vizinho,
e como são longas, discretas, as suas mãos...
Sabedoria
Enquanto disputam os doutores gravemente
sobre a natureza
do bem e do mal, do erro e da verdade,
do consciente e do inconsciente;
enquanto disputam os doutores sutilíssimos,
aproveita o momento!
Faze da tua realidade
uma obra de beleza
Só uma vez amadurece,
efêmero imprudente,
o cacho de uvas que o acaso te oferece...
O Mercador de Prata, de Ouro e Esmeralda
Cheira a mar! cheira a mar!
As redes pesadas batem como asas,
As redes úmidas palpitam no crepúsculo.
A praia lisa é uma cintilação de escamas.
Pulam raias negras no ouro da areia molhada,
O aço das tainhas faísca em mãos de ébano e bronze.
Músculos, barbatanas, vozes e estrondos, tudo se mistura,
Tudo se mistura no criar da espuma que ferve nas pedras.
De
Ronald de Carvalho
TODA A AMÉRICA
Ilus. Nicola De Garo.
Rio de Janeiro: Pimenta de Mello e Cia, 1925. 150 p. ilus.
Aparece 1926 na folha de rosto, mas no colofão informa-se que foi impresso em 1925)
BARBADOS
Na ilha toda clara, lavada pelas águas,
há pregões de miçangas e quinquilharias.
As casas de madeira têm varandas preguiçosas,
varandas úmidas, de tetos baixos, que deitam sombras voluptuososas.
O sol brinca nas ruas,
por onde rolam os grandes ventos da maresia!
Súbito,
num escorrer de linhas oleosas,
balançando os quadris, uma miss de ébano,
sorve a luz que lhe lateja nos seios trêmulos
e lhe penetra o ventre, longa e profundamente...
(Ortografia atualizada. A seguir, fac-símile da primeira página do poema)
BRASIL
(fragmento)
Eu ouço o chiar das caatingas — trilos, pios,
pipilos, trinos, assobios, zumbidos, bicos
que picam, bordões que ressoam retesos,
tímpanos que vibram límpidos, papos
que estufam, asas que zinem zinem
rezinem, cri-cris, cicios, cismas, cismas
longas, langues — caatingas debaixo do céu!
Eu ouço os arroios que riem,
pulando na garupa dos dourados gulosos,
mexendo com os bagres no limo das luras
e das locas;
BARBADOS
A ilha toda clara,
levada pelas águas,
há pregões de miçangas e quinquilharias.
As casas de madeira têm varandas
preguiçosas,
varandas úmidas, de tetos baixos,
que deitam sombras voluptuosas.
O sol brinca nas ruas,
por onde rolam os grandes ventos da maresia!
Súbito,
num escorrer de linhas oleosas,
balançando os quadris, uma miss de ébano,
sorve a luz que lhe lateja nos seios trêmulos
e lhe penetra o ventre, longa e profundamente.
Ilha de Barbados, 1923.
TONALÁ
A Carlos Obregón Santacecilia
Pintada por um alfarrero,
debaixo dos cardos maciços,
Tonalá é uma cidade poblana,
agachada na terra,
vestida de barro cinzento, de chita e miçanga,
fazendo tibore e pratos de argila.
Nossa Senhora de Guadalupe ri em toso os nichos,
com grandes olhos de vidro e bochechas
rosadas,
para as indiazinhas que mordem tamales
e para os gorriones que brinca de esconder
com o sol nas hortas verdes.
Em cada pátio a louça crua estala na luz,
na luz de Jalisco intrigante, plebéia,
que salta nas sombras
pula nos muros
molha-se nos charcos
e cai das árvores
como as tunas maduras,
e baila no chão
rola
ciranda
repiqueteia
como a sandália de verniz de um jarabe
pchola,
e fica assustando o ar
como o lenço vermelho de uma novilhada brava!
Sobre a porta das casas de adobe,
vestido de china poblana,
Nossa Senhora de Guadalupe ri em todos os nichos,
com os olhos de vidro bem aberto
e as bochechas bem rosadas,
ri para o dia tranqüilo,
para as estradas que mergulham no silêncio
morno,
para os cães que rossonam com o focinho
entre as patas,
ri para o céu azul e brunido,
azul e brunido como os olhos de vidro de
Nossa Senhora de Guadalupe!
Tonalá, México, 1923
JORNAL DOS PLANALTOS
A Carlos Pellicer
Fronteira do Rio Grande
Fervura de areias,
Cardos.
Cardos.
Magueyes.
Pedras que se levantam e rompem o horizonte.
Chão de cintilações.
Silêncios vigiados,
homens por trás de todos os silêncios...
Campainhas de canras.
Fogo de sarapes.
México!
Junho, 1923
Xochimilco ou o Epigrama da Índia exilada
Olhei-me nas tuas águas,
Xochimilco.
Que águas poderão agora
Refletir-me?
Junho, 1923
Puebla
Noite sem melancolia,
noite precisa,
onde os contornos, de tão esguios,
ondulam.
As folhas e as estrelas se adelgaçam.
Teu perfil primitivo é um pássaro que vai voar!
A noite é um azulejo de Puebla.
1 de agosto, 1923
TODA A AMÉRICA
3
A Renato Almeida
Onde estão os teus poetas, América?
Onde estão eles que não compreendem
os teus meios-dias voluptuosos,
as tuas redes pesadas de corpos eurítmicos,
que se balançam nas sombras úmidas,
as tuas casas de adobe que dormem
debaixo dos cardos,
os teus canaviais que estalam e se
derretem em pingos de mel,
as tuas solidões, por onde o índio passa,
coberto de couro, entre rebanhos de cabras,
as tuas matas que chiam, que trilham,
que assobiam e fervem,
os teus fios telegráficos que enervam a
atmosfera de humores humanos,
os martelos dos teus estaleiros,
os silvos das tuas turbinas,
as torres dos teus altos fornos,
o fumo de toas as tuas chaminés,
e os teus silêncios silvestres que absorvem
e espaço e o tempo?
Onde estão os teus poetas, América?
Onde estão eles que não se debruçam
sobre os trágicos suores das tuas sestas bárbaras?
No teu sangue mestiço crepitam fogos de queimadas,
juízes, tribunais, leis, bolsas, congressos,
escolas, bibliotecas, tudo se estilhaça
em clarões, de repente, nos teus pesadelos irremediáveis.
Ah! Como sabes queimas todos esses
troncos da floresta humana,
e refazer, como a Natureza, a tua ordem pela destruição!
Onde estão os teus poetas, América?
Onde estão eles que não vêem o alarido
construtor dos teus portos,
onde estão eles que não vêem essas bocas
marítimas que te alimentam de homens,
que atulham de combustível as fornalhas
dos teus caldeamentos,
onde estão eles que não vêem todas essas
proas entusiasmadas,
e esses guindastes e essas gruas que se cruzam,
e essas bandeiras que trazem a maresia
dos fiordes e dos golfos,
e essas quilhas e esses cascos veteranos
que romperam ciclones e pampeiros,
e esses mastros que se desarticulam,
e essas cabeças nórdicas e mediterrâneas,
que os teus mormaços vão fundir em bronze,
e esses olhos boreais encharcados de luz
e de verdura,
e esses cabelos muitos finos que procriarão
cabelos muito crespos,
e todos esses pés que fecundarão os teus
desertos!
Teus poetas não são dessa raça de servos
que dançam no compasso de gregos e latinos,
teus poetas devem ter as mãos sujas de
terra , de seiva e limo,
as mãos da criação!
E inocência para adivinhar os teus prodígios,
e agilidade para correr por todo o teu
corpo de ferro, de carvão, de cobre, de
ouro, de trigais, milharais e cafezais!
Teu poeta será ágil e inocente, América!
A alegria será a sua sabedoria,
a liberdade será a sua sabedoria,
e sua poesia será o vagido da tua própria
substância, América, da tua própria
substância lírica e numerosa.
Do teu tumulto ele arrancará uma energia submissa,
e no seu molde múltiplo todas as formas caberão,
e tudo será poesia na força de sua inocência.
América, teus poetas não são dessa raça
de servos que dançam no compasso de
gregos e latinos!
=========================================================================
Retrato de Ronald de Carvalho,
por Vicente do Rego Monteiro (1921)
TEXTOS EN ESPAÑOL
De
Ronald de Carvalho
TODA LA AMÉRICA
3a. edición
Traducción de Francisco Villaespesa
São Paulo: Editora Hispano-Brasileña, 1935
Brasil
(fragmento)
¡Yo escucho el chirriar de las caatingas
— trinos, píos, silbidos, zumbidos,
picos que pican, bodones que resuenan tensos,
tímpanos que vibran límpidos,
cris-cris, siseos, penares largos, lánguidos
— caatingas debajo del cielo!
¡Yo oigo los arroyos que ríen,
saltando en la grupa de los dorados golosos,
jugando con los bagres en el limo
de las covachas las ovas! ...
BARBADOS
En la isla clar,
labada por las aguas,
hay pregones de bujerías
y quincallerías...
Las casas de madera tienen barandas perezosas,
barandas húmedas, de techos bajos,
que arrojan sombras voluptuosas...
EL Sol juega en las calles
donde ruedan los grandes vientos de la marejada>
Súbito,
en un escurrir de líneas olesosas<
balanceando las caderas, una miss de ébano,
sorbe la luz que le palpita en los senos trémulos
y le penetra en el vientre, larga ay profundamente...
TONALÁ
Pintada por un alfarero,
debajo de los cardos macizos,
Tonalá es una china poblana,
agachada en tierra,
vestida de barro ceniciento,
de indiana y abalorios,
haciendo tibores y platos de arcilla.
Nuestra Señora de Guadalupe
ríe en todas las hornacinas,
con grandes ojos de vidirio y mofletes rosados,
para las indiecitas que muerden tamales
y para los gorriones que juegan al escondite
con el Sol en las huertas verdes...
En cada patio la loza viva estalla en la luz,
en la luz de Jalisco, intrigante, plebeya,
que salta en la sombra,
trepa por los muros,
se moja en los charcos,
y cae de los árboles
como tunas maduras,
y baila en el suelo,
rueda,
gira,
repiquetea,
como sandalia de charol de un jarabe engreído,
y queda asustando el aire
como la capa bermeja de una novillada brava!
Sobre las pueras de las casas de adobe,
vestida de china poblana,
Nuestra Señora de Guadalupe
ríe en odas las hornacinas,
con los ojos de vidrio bien abiertos
y los mofletes sbien rosados,
ríe para el día tranquilo,
para las estradas que se sumerjen
en el silencio tibio,
para los perros que duermen
con el hocico entre las patas;
ríe para el cielo azul y bruñido,
azul y bruñido como los ojos de vidrio
de Nuestra Señora de Guadalupe!
DIARIO DE LOS ALTIPLANOS
A Carlos Pellicer
FRONTERA DEL RÍO GRANDE
Hervor de arenales.
Cardos.
Cardos.
Magüeyes.
Piedras que se levantan
y rompen el horizonte.
Suelo de centelleos...
Silencios vigilados,
hombres detrás de todos los silencios...
Campanillas de cabras...
Fuego de sapares...
¡México!
Junio, 1923
Xochimilco o el epigrama de la india desterrada
Me miré en tus aguas,
Xochimilco.
¿ Qué aguas podrpan, ahora,
reflejarme?
Junio, 1923
Puebla
¡ Noche sin melancolía,
noche precisa, donde los contornos
de tan esbeltos, ondulan !
Hojas y estrellas se adelgazan.
¡ Tu perfil primitivo
es un pájaro que vá a volar!
La noche es un aqzulejo de Puebla.
Agostp. 1923
De
9 POETAS DEL BRASIIL
una antología de Enrique Bustamante y Ballivian.
Lima: Centro de Estudios Brasileños, 1978
109 p.
FILOSOFIA
La realidad apenas
es un milagro de nuestra fantasia . . .
Transforma en una Eternidad
tu rápido momento de alegria!
Ama, Hora, sonríe ... y dormirás sin penas
lleno de la belleza que hubo en tu realidad.
CANCION DE LA VIDA COTIDIANA
El sol brilla en las piedras de la calle pobre y estrecha,
entre las piedras de la calle la grama crece.
De una ventana abierta viene una voz doliente,
una voz sin timbre, una voz de lágrimas ignoradas . . .
El sol quema las coles en los huertos desiertos.
Vibra en la luz el ojo metálico de un charco de agua.
(Calle pobre y estrecha donde la grama crece.
calle monótona como el cielo azul,
calle monótona como el cielo lleno de estrellas.
calle de los muros blancos y de los jardines sin flores,
calle de los pregones metálicos e inútiles,
calle de la vida cotidiana . . .)
ARTE POÉTICA
Mira la vida, primero, largamente,
enternecidamente,
como quien la quiere adivinar . . .
Mira la vida riendo o llorando, frente a frente.
Deja, después, al corazón hablar.
Ronald de Carvalho, retrato
por Cândido Portinari, pintura a óleo/tela
1929 – Rio de Janeiro, 65x54 cm.
HADAD, Jamil Almansur, org. História poética do Brasil. Seleção e introdução de Jamil Almansur Hadad. Linóleos de Livrio Abramo, Manuel Martins e Claudio Abramo. São Paulo: Editorial Letras Brasileiras Ltda, 1943. 443 p. ilus. p&b “História do Brasil narrada pelos poetas.
HISTORIA DO BRASIL – POEMAS
BRASIL NOVO
B R A S I L
Nesta hora de sol puro
palmas paradas
pedras polidas
claridades
faíscas
cintilações
Eu ouço o canto enorme do Brasil!
Eu ouço o tropel dos cavalos de Iguassú correndo na ponta das
rochas nuas, empinando-se no ar molhado, batendo com as
patas de água na manhã de bolhas e pingos verdes;
Eu ouço a tua grave melodia, a tua bárbara e grave melodia,
Amazonas, a melodia de tua onda lente de óleo espesso,
que se avoluma e se avoluma, lambe o barro das barrancas,
morde raízes, puxa ilhas, e empurra o oceano mole como
um touro picado de farpas, varas, galhos e folhagens;
Eu ouço a terra que estala no ventre quente do nordeste, a terra
que ferve na planta do pé de bronze do cangaceiro, a terra
que se esborna e rola em surdas bolas pelas estradas de
Joazeiro, e quebra-se em crostas secas, esturricadas no
Crato chato;
Eu ouço o chiar das caatingas — trilos, pios, pipilos, trinos,
assobios, zumbidos, bicos que picam, bordões que ressoam
retesos, tímpanos que vibram límpidos, papos que estufam,
asas que zinem rezinem, cris-cris, cicios, cismas, cismas
longas, langues — caatingas debaixo do céu!
Eu ouço os arroios que riem, pulando na garupa dos dourados
gulosos, mexendo com os bagres no limo das luras e das
loeas;
Eu ouço as moendas espremendo canas, o glu-glu do mel escorrendo
nas tachas, o tinir das tigelinhas nas seringueiras;
e machados que disparam caminhos,
e serras que toram troncos,
e matilhas de “Corta-Vento”, “Rompe-Ferro”, “Faiscas” e “Tubarões”
acuando sussuaranas e maçarocas
e mangues borbulhando na luz,
e caitetús tatalando as queixadas para os jacaré que dormem
no tejuco morno dos igapós...
Eu ouço todo o Brasil cantando, zumbindo, gritando, vociferando!
Redes que se balançam,
Sereias que apitam,
usinas que rangem, martelam, arfam, estridulam, ululam, e roncan,
tubos que explodem,
trilhos que trepidam,
rumor de coxilhas e planaltos, campainhas, relinchos, aboiados
e mugidos,
repiques de sinos, estouros de foguetes, Ouro-Preto, Bahia,
Congonhas, Sabará,
vaias de Bolsas empinando números como papagaios,
tumulto de ruas que saracoteiam sob arranha-céus,
vozes de todas as raças que a maresia dos portos joga no sertão!
Nesta hora de sol puro eu ouço o Brasil.
Todas as tuas conversas, pátria morena, correm pelo ar.......
a conversa dos fazendeiros nos cafezais,
a conversa dos mineiros nas galerias de ouro,
a conversa dos operários nos fornos de aço,
a conversa dos garimpeiros, peneirando as baleias,
a conversa dos coronéis nas varandas das roças...
Mas o que eu ouço, antes de tudo, nesta hora de sol puro
palmas paradas
pedras polidas
claridades
brilhos
faíscas
cintilações
e o canto dos teus berços, Brasil, de todos esses teus berços,
onde dorme, com a boca escorrendo leite, moreno, confiante
o homem de amanhã!
(TODA A AMÉRICA — Pimenta de Melo & Cia, Rio de Janeiro, 1926)
TEXTS IN ENGLISH
RONALD DE CARVALHO
Tradução de Abgar Renault
CREPÚSCULO
A tarde e o silêncio...
Janelas fechadas,
vidraças coloridas
no crepúsculo vermelho, pérola e violeta.
Gritos roucos de buzina,
apitos longínquos de fábricas,
murmúrio de vozes,
aéreo murmúrio indeciso.
Os grilos começam a trilar.
Calaram-se as cigarras
nas árvores pesadas...
Outra vez
a tarde e o silêncio...
Nas ruas compridas
dança a poeira dourada do crepúsculo.
Quando virás? Ainda voltarás?
Ah! ninguém sabe como é lindo o crepúsculo
quando há lágrimas nos olhos!
A tarde e o silêncio...
Dança a poeira nas ruas compridas.
A noite cai sobre as árvores pesadas...
TWILIGHT
Evening and silence...
Windows closed
Window-panes coloured
by the purple, pearl and red twilight.
Hoarse shrieks from klaxons,
whistles from distant factories,
whispers,
aereal, vague murmur.
Crickets begin to shrill.
On ponderous trees
the cicalas are still...
Again,
evening and silence...
The golden dust of the twilight dances
in the long streets...
When will you come back? Will you come back again?
No one knows how beautiful is the twilight
when there are tears in one's eyes
TRINIDAD MARKET
Market of Trinidad
in the warm moist morning!
Tropical golds of wings and fruits,
ocean greens edged by pelicans,
seas of coral, fires of mother-of-pearl in the sun.
From wicker baskets roll pineapples with rusty scales,
yellow and scarlet parrots flash through the air,
mangoes burn the penumbra of tarnished leaves,
and the earth vibrates with colours.
Up from the ships comes a reek of pitch and tar,
and there are gods of bronze in the blue of the waves,
in the blue of the sparkling and tremulous waves...
Market of Trinidad
in the warm moist morning!
Beyond the gray masts and the rigging,
from the swaying girdle of banana and lemon trees,
peep cottages and bungalows.
And against the wild free solitudes,
among parrots, toucans, palms and guava trees,
in a white helmet gravely paces
the fair-haired sentry of the colonial fort...
Translation: Dudley Poore
INTERIOR
Poet of the tropics, your dining room
is simple and unpretending as a quiet orchard;
in the transparent bowl, full of weedy water,
swim the vermilion fishes, the golden, the pink;
through the green shutters comes a shining dust,
a dust of sun-motes, inconstant and without sound,
a dust of light that increases the solitude.
Open your window wide. Outside, under the summer sky,
all the trees are singing! Every leaf
is a bird, every leaf is a cicada, every leaf
is a sound ...
The air of the lonely farms smells of sweet grass,
of trampled undergrowth, of vanilla, of hot and sultry woods.
Poet of the tropics,
give me, in your goblet of coloured glass, a draught of water.
How lovely the landscape, reflected in a glass of water!)
Translation: Dudley Poore
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AN INTRODUCTION TO MODERN BRAZILIAN POETRY. Verse translations by Leonard S. Downes. [São Paulo]: Clube de Poesia do Brasil, 1954. 84 p. 14x20 cm. “ Leonard S. Downes “ Ex. Biblioteca Nacional de Brasília.
MIDSUMMER NIGHT´S DREAM
Mad moth beating on the window-pane.
Conjured from night´s vasty deeps,
Conjured from the warm and scented night.
And our there all sleeps…
Where unmeasured silence creeps.
Fairy fireflies flutter round the shrubs.
Mad moth beating on the window-pane.
How time flies and life is vain…
TEXTO EN ITALIANO
Extraído de
MIRAGLIA, Tolentino. Piccola Antologia poetica brasiliana. Versioni. São Paulo: Livraria Nobel, 1955. 164 p. Ex. bibl. Antonio Miranda
IL MERCATO D'ARGENTO, D'ORO E SMERALDE
Odor di mare ! Odor di mare !
Le reti pesanti batton come l’ale;
Le reti umide palpitano di squame.
Saltan le razze scure nella bagnata rena;
L'acciaio delle múggine brilla nelle mani d'ebano o di bronzo.
Muscoli. barbatane, voei, rumori tutto si mescola.
Tutto si mescola, nella spuma sulle pietre.
Odor di mare !
I corni delia luna giocano sull’onda.
E tra le alghe molli, gl’impietrati arselli.
Si trascinamo i granghi di zampe dentati,
E si muove l'oleo gelatinoso della seppia.
Dinanzi alia rete immensa, nella notte piena di stelle,
Nella libera melodia dell’acqua e dello spazio,
Riempito d'aria, profético, timpanico,
Scoppia orgogliosamente il gozzo d'un baiacú . ..
(1) Baiacú — pesce dei Brasile.
ANTHOLOGY OF CONTEMPORARY LATIN-AMERICAN POETRY. Edited by Duddley Fitts. Norfolk Conn. A New Directions Book, 1942. 667 p. Capa dura revestida de tecido. Ex. bibl. Antonio Miranda
BRAZIL
In this hour of purê sunlight
still palms
shining rocks
flashes
gleams
scintilations
I hear the vast song of Brazil!
I hear the thundering asteeds of Iguassú pounding the naked
rocks, prancing in the wer air, trampling with watery
feet the morning of spume and green trills:
I hear thy solemn melody, thy barbárie and solemn melody,
Amazon, the melody of thy lazy flood, heavy as oil,
that swells greater ande ver greater, licking the mudo f
banks, gnawing roots, dragging slong islands, goring
the listless ocean like a bull infuriated with rods, goring
branches and leaves;
I hear the earth cracking in the hot northeast wind, Earth
that heaves beneath the bare bronze foot of the
outlaw, earth that turns to dust and whirls in silente
clouds through the streets of Joazeiro and fails to
poder on the dry plains of Crato.
I hear the chirping of jungles — trills, pipings, perpings,
quavers, whistles, whirrings, tapping of beaks, deep
tones that hum like taut wires, clearly vibrating drums,
throats that creak, wings that click and flicker, cries
like the cricket´s, whispers, dreamy calls, long languid
calls — jungles beneath the sky!
I hear the streams laughing, dashing the flanks of greedy
golden carp, disturbing the bearded catfish in their oozy
holes and hiding-places beneath submerged stones;
I hear the millstonnes grinding suar cane, the gurgle of sweet
juice flowing into vats, the clank of pails smong
rubber trees.
and axes opening paths,
and saws cutting timber,
and packs of hounds name Wind-cutter, Iron-breakers,
Flashes and Sharks holding at bay the red leopards and
the jaguars,
and margrooves leafing int he sun,
and peccaries snapping their jaws at alligators asleeps in the
tepid mudo f bayous...
I hear all Brazil singing, humming, calling,
shouting!
Hammocks swaying,
whistles blowing,
factories grinding, pounding, panting, screamaing, howling,
and snoring,
cylinders exploding,
cranes revolving,
wheels turning,
rails tremblinga,
noises of foothills and plateaux, cattlebells, neighings,
coboy songs, and lowings,
chiming of bells, bursting of rockets, Ouro-Preto, Baía,
Congonhas, Sabará,
clamour of stock-exchanges shrieking number like parrots,
tumulto of streets tha seethe beneath skycrapers,
voices of all races that the wind of the seaports tosses into
the jungle!
In this hour of pure sunlight I hear Brazil.
All thy conversatiosn, tawny homeland, wander in the air...
the talk of planters among coffee bushes,
the talk of miners in gold mines,
the talk workmen in furnaces where steel is made,
the talk of Diamond hunters shakinga seives,
the talk do colonels on the verandas of country houses...
But what I hear, above all, in the hour of pure sunlight
still palms
shining rocks
flashes
gleams
scintillations
i the song of thy cradles, Brazil, of all thay cradles, in which
there sleeps, mouth dripping with milk, dusky,
trusting,
the man of tomorrow!
Página ampliada em junho de 2020
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Página publicada em março de 2008; ampliada e republicada em janeiro de 2011; ampliada e republicada em agosto de 2015. Ampliada em janeiro de 2016.
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