RODRIGO DE SOUZA LEÃO
Poeta, jornalista e músico, Rodrigo de Souza Leão nasceu no Rio de Janeiro (RJ), em 1965. Publicou dez e-books de poesia, entre eles Impressões Sob Pressão Alta, 25 Tábuas, No Litoral do Tempo e Síndrome, todos pela Virtual Books. Tem poemas publicados nas revistas Coyote, Oroboro, Poesia Sempre, El Pez Náufrago (Mexico), Et Cetera e participou, como músico, do CD Melopéia, de Glauco Mattoso. Participou da antologia Na Virada do Século, Poesia de Invenção no Brasil, organizada por Claudio Daniel e Frederico Barbosa (editora Landy, 2002). Criou o site Caos (www.geocities.com/seumario) e veicula na Web o e-zine Balacobaco, com entrevistas com mais de 150 poetas e escritores. É co-editor do site Zunái, Revista de Poesia e Debates (www.revistazunai.com.br/).
Foi premiado no Concurso de Contos José Cândido de Carvalho 2002.
Tem trabalhos publicados no blog http://lowcura.blogspot.com
Poemas do livro
CAGA-REGRAS:
Freud dizia que defecar é um prazer
e que todo mundo ama sua mãe
Eis que defequei um filho com barba
Onde foram parar minhas hemorróidas,
eu pergunto
Só uma puta poderia te parir, respondo
E vou pondo naftalina na latrina
do dia-a-dia
Para não apodrecer de mim mesmo
O copo quebrou
e não foi preciso mais nada
além da voz de Yma Sumac
O copo quebrou
no agudo do passarinho
dentro dela
O copo quebrou
e os cacos ficaram no chão
para algum faquir sorrir dor
O copo quebrou
e toda criança sabe
que a boa água é a da bica
4. Peixes fisgando anzóis comicham no corpo
Baleias de chupeta
5. Na veia sossegada o leão caminha
inválido de juba cortada, cuspindo
vida curta
Em curto circuito fechado
faixas vendas ferem as paredes
Sem degraus as pilastras
sem grade dégradé
Degradado de sol
de lua
Chuva desbotada
Eletrochoque natural
Enguias guiam os volts
na cabeça dos cegos de si
Tudo ficou dourado. O céu dourado.
O Cristo dourado. A ambulância dourada.
As enfermeiras douradas tocavam-me com suas mãos douradas.
Tudo ficou azul: o bem-te-vi azul, a rosa azul, a caneta bic azul, os trogloditas dos enfermeiros. Tudo ficou amarelo. Foi quando vi Rimbaud tentando se enforcar com a gravata de Maiakovski e não deixei.
Pra que isso Rimbaud? Deixa que detestem a gente. Deixa que joguem a gente num pulgueiro. Deixa que a vida entre agora pelos poros. Não se mate irmão. Se você morrer não sei o que será de mim. Penso em você pensando em mim.
Rimbaud tudo vai ficar da cor que quiser.
Aqui não dá pra ver o mar. Mas você vai sair daqui.
Tudo ficou verde da cor dos olhos de meu irmão e da cor do mar. Do mar. Rimbaud ficou feliz e resolveu não se matar.
Tudo ficou Van Gogh. A luz das coisas foi modificada.
Enfim me deram uns óculos.
Mas com os óculos eu só via as pessoas por dentro.
LEÃO, Rodrigo de Souza. Há flores na pele. João Pessoa: Manufatura, 2001. 80 p 10,5x17 cm. Ex. na col. Antonio Miranda
Página publicada em fevereiro de 2008,
organizada por Cássio Amaral. |