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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


 

REGINA POUCHAIN

 

 

Regina Pouchain é carioca, poeta, analista de imagens, designer gráfica, artista intermídia, pós-graduada em Filosofia da Ciência na UFRJ. Atualmente organiza arquivo de Poemas Visuais Nacionais e Internacionais, trabalhando na criação de Poemas Matemáticos, Cromatização de Poemas Virtuais e  Fotopoemas.  Em co-autoria com o poeta gráfico Wlademir Dias-Pino vem desenvolvendo há alguns anos o projeto Contrapoemas – fusão cibernética entre palavra e imagem. Editora do fanzine Sulfato Ferroso, mantém na internete, na área da visualidade, os blogs Sophotos e o zineblog Lambuja
www.lambuja.blogspot.com  www.sophotoscom.blogspot.com

Ver (clicar):

POEMAS VISUAIS DA ARTISTA EM NOSSA PÁGINA 

 

Z – Revista de Poesia. Ano I, no. 2 – agosto-setembro de 2012.
Editor: Paco Cac. Projeto gráfico/Capa: Fernando Aquino. 
Brasília, DF,                    ISSN 2238-3778

 

Lápis-lázuli

 

Lâminas que sol
Brilhos ácidos overdoses reflexos
Céu de janeiro prismas sextavados
Excessos brancos pigmentos
Pontos de areia oceanografia
Pestana que úmidas algas
Granizo vidraças
Contras celestes recessivas
Gotas luzas corais que conchas
Ostras se tímido ousados raios
Se vidrados glóbulos alumínio

 

 

Gutural

 

Saudades sombras mórbidas
Cantaria obscura sal-gema
Chuvas ácidas
Gravitam fósseis frios
Escurecem escurecem
Narinas embaçam grades
Catracas finas vidraças
Bolhas bafos bocas de insônia
Eriçam medos tártaros
Segunda-feira  manhãs tombadas
Oleosas manhãs
Lama limo lodo buracos negros
Amores não salvam
Colapsados engasgam
Táteis asperezas

 

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FLOR-TITÂNIO

                                                     

Manhãs letais que crescem.

Amor estrangulado em âmbar.

Delírio de fogo que se encarna.

A voz minúscula e asmática,

Que brota dos interstícios da terra.

Corpo alterado, sofrimento retroativo.

Azul alarme, um piano  irrompe.

Cidades agudas sangram alumínio.

Memórias agarradas ao que cavam.

 

Sob o silêncio desse ínfimo sábado.

 

 

Um derrame de mar vertical.

Musa de areia pilhada.

A boca engole o mergulho.

No alvo das imagens coagidas.

Coração pedra-pomes.

Um ego-ânsia magma invertido.

Feridas visuais, legendas átonas.

Esguio como o tempo.

Dor de guardar, alta, intacta.

 

Um cavalo de fogo desce a colina.

 

 

Mundo estrábico, excesso vocal.

O amor é cítrico.

Desligar é construir mundos.

Minúscula paisagem, ostentação simétrica.

Saara silêncio, sementes que desistem.

O mercúrio que sara o bote.

Eu, carne de papel, sangue de imagens

Cérebro capitular.

Entre sondas, vazios intangíveis.

 

O infinito escorre.

 

 

Pálpebras soberanas.

Sonora mulher nanquim.

Histórias no granito da pele.

O sal imantado das dúvidas.

Beijo alçapão, alegria acústica.

Ontologia para teus desenhos.

Os frutos que nos comem.

Vontade férrea, o mel e os tiros.

Envelhecer é cansar-se de trajetórias.

 

A juventude é geométrica.

 

 

Na artéria das palavras iradas.

Farpas invadem o poema.

Musa errática em clorofila.

Fraturas do vento abissal.

A beleza-limite que se desloca.

No cinza céu-da-boca da ausência.

Convulsões da febre caligráfica.

Na enlaçada volumetria do teu corpo.

O homem, um hiato entre duas dores:

 

Nascimento e morte.

 

 

Gravitar-te com escamas e seios góticos.

A loucura que em nós exubera.

As dimensões da insônia.

Vértebras do degelo.

No absoluto da singularidade:

Arte-apropriação.

Um relógio transtornado.

Ilhas ilegíveis fogem da luz.

Una como a morte.

 

Meia noite incomensurável.

 

 

Beijo as estepes de meus sonhos geológicos.

Humos: desejos que jazem.

Águas barrocas, ruptura concêntrica.

Espera sem raízes.

Anatomia da luz, silêncio celular.

A força íntima da minha substância.

Os homens e seus confins.

As gargantas da falta.

Um defunto que cresce com os anos.

 

Peixes que desistem dos cardumes.

 

 

Enigmas que só ele me propõe.

O vôo e a nervura-derme das linhas.

Ser intransferível.

Pisar uvas nos escombros.

Beijo perpendicular, aluvião.

Heroína imóvel arfando quedas.

Mulher rarefeita, asas pintadas turquesas.

Brochuras no vácuo entre

Dez mil metros de pvc.

 

No microcosmo da dor.

 

 

A terra invisível te esculpe.

Riso-calcário, boca- enxofre.

Soerguida pelas ervas.

O outono no rastro subterrâneo do teu corpo.

Se o que te cobre as entranhas é o mel das estrelas.

A areia espia tua passagem líquida.

Nua entre o nada e nada.

O nascimento funda a lágrima.

No sal-açúcar molecular de mim.

 

As pedras só esperam pelo sol.

 

 

TERNOESTATICOPOEMA

 

austenita cementita perlita

aços martensíticos ferríticos

corpos nossos liga inconel zirconio zircalloy

temperáveis seios meus

esferas torres em minha boca língua ternoestável

retificação fracionamento alternadores

vasos de absorção abraços teus compressores

nosso calor permutadores dedos dessalgadores

refinados dedos reatores tanques de acumulação

caldeiras fornos refervedores

beijos corrosivos beijos válvulas descontroladas

craqueamentos hidrodesulfurização

linhas de transferências  tubulações

drenagens cremes óleos graxos íntimas destilações

liga níquel molibdênio cromo manganês

orgasmos bombas titânio

bombas de engrenagens bombas de fuso

helicoidais bombas de vácuo bombas centrífugas

diafragmas bombas

 

 

OXYPETALUM EX

 

oxype coria      se salamacina

talum pachy     bem como

conspec           llatum        fitosterina

cierum tênias   tônus         induzem

thaises             tendras      tentaculatas

 

tereba  terebella    terebrátula    terebridae

tergo    tergonya    tetraymena   tedroxina

tetrastigmata         oxype coria   se  salamacina

 

 

NEW LINE 

 

piritionato                d pantenol

metilparabeno            benzofenona

trietalomalina              poliquaternário

hidrosilato                   protéico queratinina

 

cetílico                        trimetil amônio

izotiazolona                polialquileno

ciclometicone             carboxivinílico

ginko biloba                hidantoína parabeno

 

lauril éter                     entretanto fenoxietanol

palmitato de octila       por vezes hidroxipropil

dircaboxilato                não obstante  metilcelulose

dietalomalina seiva      por vezes de  mutamba

 

 

HORTO GRAPHIA

 

ibiris amara

vanda onomea

dracaena magarita

 

bromeliácea supervivum

passiflora alata

victoria rex

 

strelitzia reginae

pétrea volubilis

rosácea floribunda

 

 

 

POUCHAIN, ReginaGôngora Minax.  Rio de Janeiro: Edições Sinal, 2000.  32 pranchas soltas. 30X42 cm.  Composição gráfica de Wlademir Dias-Pino.     Autografado pela          autora.  Ex. bibl. Antonio Miranda, autografado pela autora.

 



 

 

 

POUCHAIN, Regina.  Partitura maghnética: uma composição serialista. Rio de Janeiro: Barriester´s, 1991.  126 p. 

Há, em Regina Pouchain, a palavrivência que se faz literatura através de uma doce leitura doce (...) Só que Regina Pouchain avança em sua palavrivência, segundo indicações contidas no pré fácil: uma literatura fundada no serialismo como base estilístico-informacional, sem perder de vista a retomada do surrealismo, fonte-matriz de muitas de suas preocupações literárias. Em se tratando de um primeiro livro — e este o é: livro livre — , a autora reconstrói suas vivências intelectuais e existenciais da forma a mais aberta possível. Quase musicalmente.”  MOACY CIRNE

 

 

 

(fragmento)

 

memória de gases saindo do forno

noiva de kafka/ transparência gris

visões de campo caatingas

grunhidos

é tão difícil subir à tona

engajamentos/ responder cartas/ aero planos/

ano que vem vou ao Brasil

brilho nos lábios alarido

à coluna vertebral um molde/ fazer ginástica/

trocar ideias

fetiche

pedra de ônix à inabilidade dos dedos

oh! é tão incrível ser artista

 

Por falar em Kafka, acabei de ler "O Processo". É impressionante sua atualidade e mais ainda que até hoje Kafka seja considerado "persona non grata" porque viveu fora de sua terra de origem e tenha escrito em língua alemã, foi o que disse um comerciante que curioso nos perguntou: "Vocês

falam português de Portugal ou do Brasil? Conhecem Álvaro Cunhal? Será que no Brasil podemos encontrar ao menos uns vinte camaradas? Quando procurei o museu Kafka para visitar em Praga encontrei do lado medieval da cidade uma casa que mais parecia ser um pequeno barraco e que me chamou a atenção, ter o pé direito muito baixo, o que me fez pensar

que deveria obrigá-lo a se curvar para entrar. Restaurado e permanentemente fechado à visitação, na fachada, numa pequena placa escrito em tcheco, podia-se ler: "Aqui viveu Franz Kafka". No centro da cidade, num prédio comercial de esquina, no alto da parede, pude ver sua fisionomia esculpida e a mesma frase. Do lado de fora como para instigar a imaginação dos transeuntes, alguém que não podia ser visto datilografava. Esse fato me fez lembrar um outro ocorrido no Centro George Pompidou, onde perguntei a uma moça se podia informar onde ficava a casa de Proust. Respondeu-me em francês dulcíssimo: "Perdão, senhora, mas eu não sei quem é esse senhor".

 

 

 

POUCHAIN, Regina.  Provenientes do azul.  Rio de Janeiro: Sinal, 2015.  160 p. ilus..  21x22  Fotografias em preto e branco e aforismos.  “ Regina Pouchain “ Ex. bibl. Antonio Miranda.

 

 

 

a memória nos provê de translúcidos fotogramas

 

o rumor centrífugo do ego

 

a terra é a flor incandescente
                     que cega o sol
 

 

 

 

os desejos mudam porque o mundo nos entorta

 

saberes e morreres

 

âmago: esse lugar impossível

 

 

 

a musculatura de mármore do tempo

 

uma alegria que esvoaça

 

na turbulência do dar rumo

 

 

 

 

Página publicada em maio de 2008; ampliação e republicação em janeiro de 2015; ampliada e republicada em agosto de 2015. Ampliada e republicada em junho de 2018.

 




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