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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

RAUL POMPEIA

 

Raul Pompéia (R. de Ávila P.), jornalista, contista, cronista, novelista e romancista, nasceu em Jacuecanga, Angra dos Reis, RJ, em 12 de abril de 1863, e faleceu no Rio de Janeiro, RJ, em 25 de dezembro de 1895. É o patrono da Cadeira n. 33, por escolha do fundador Domício da Gama.
Mais detalhes no sitio da Academia Brasileira de Letras:
http://www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=827&sid=306

 

POMPEIA, Raul.  Canções sem metro.  Organização, introdução e notas Gilberto Araujo.  Campinas, SP: Editora Unicamp, 2013.  303 p.  ISBN 978-95-268-1002-0 

 

“Não por acaso, o autor insere no prólogo às Canções sem metro uma passagem do Métrique natureïle du language (Métrica natural da linguagem), de Paul Pierson. O adjetivo "natureïle" presente no título destaca certa espontaneidade expressiva, também proclamada por Pompeia: "A y arte é primeiro espontânea, depois intencional" (Pompeia, 1981, p. 160). Pela citação de Pierson, podemos inferir que, se o ritmo é inerente à linguagem, a escansão em sílabas métricas é, antipodamente, arbitrária, podendo, por isso, comprometer a força expressiva do discurso. Como Pompeia considerava a obra de arte "manifestação do sentimento" (Pompeia, 1981,?. 158), o metro comprometeria a sinceridade da expressão: "quando o sentimento fala, a linguagem não se fragmenta por vocábulos, como nos dicionários. É a emissão de um som prolongado, a crepitar de consoantes, alteando-se ou baixando, conforme o timbre vogal" (Pompeia, 1981,?. i6i).Ao ritmo, todavia, ele atribui a essência encantatória da linguagem artística: "o poema, o romance em que não há capricho do ritmo acomodado aos períodos sentimentais da descrição não é obra de arte, da mesma maneira que o esqueleto não é corpo vivo" (Pompeia, 1991p. 49). Num artigo de jornal, o autor chegaria a definir o estilo como "a justa proporção do sentimento com a prosódia da frase" (Pompeia, 1991,?. 49).

 

 

A seguir, os quatro primeiros poemas em prosa do livro:

 

 

VIBRAÇÕES

 

Comme dês longs échos qui de loin se confondent

Dans une ténébreuse et profonde unité,

Vaste comme Ia nuit et comme la clarité,

Les parfums, les couleurs et les sons se repondent.*

                                                     C. Baudelaire

 

Vibrar, viver. Vibra o abismo etéreo à música das esferas; vibra a convulsão do verme, no segredo subterrâneo dos túmulos. Vive a luz, vive o perfume, vive o som, vive a putrefação. Vivem à semelhança os ânimos.

 

A harpa do sentimento canta no peito, ora o entusiasmo, um hino, ora o adágio oscilante da cisma. A cada nota, uma cor, tal qual nas vibrações da luz. O conjunto é a sinfonia das paixões. Elevase a gradação cromática até à suprema intensidade rutilante; baixa à profunda e escura vibração das elegias.

 

          Sonoridade, colorido: eis o sentimento.

          Daí o simbolismo popular das cores.

 

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*Como os ecos além confundem seus rumores

Na mais profunda e mais tenebrosa unidade,

Tão vasta como a noite e como a claridade,

Harmonizam-se os sons, os perfumes e as cores."

 

In Charles Baudelaire, As flores do mal. Trad., pref. e notas

Jamil Almansur Haddad. 2a ed. São Paulo, Difusão Europeia

do Livro, 1964, p. 92. Trecho do soneto "Correspondências".

 

 

 

VERDE, ESPERANÇA

 

A impetuosa alegria da terra, à passagem de Flora, a primavera verde, compromisso maternal do outono e da opulência.

 

          Náufragos no mar.

 

          Sem pão, sem rumo. Em roda, o gume afiado do horizonte, a reverberação do sol nas águas e o silêncio solene da calmaria. A vela do barco, flácida, pendente — imagem do abatimento. Ligeira viração depois; denso nevoeiro... quatro dias! Sudário de brumas que envolve o barco, elimina o céu. Vão acabar assim, amortalhados na bruma. Um ramo, apenas, sobre as águas, um ramo cor da

esperança. Salvos! Adivinha-se o continente salvador através da névoa e o panorama das florestas.

 

 

AMARELO, DESESPERO

 

          Ouro e sol; ouro, o desespero da cobiça, sol, o desespero da contemplação: a cor dos ideais perdidos.

 

          Sobre o leito, o cheiro mau das chagas era como uma antecipação da morte. Descamava-se a pele em crostas ásperas sobre o grude do pus. Ela morria, alcançada pelo sorteio inexorável da Peste. À porta, o anjo negro da maldição; longe, a es-

pavorida caridade.

 

          Ali, na parede, havia flores adornando um retrato de moço. Simples lembrança da Páscoa, flores da aleluia, colhidas numa escapada de amantes. Amor não faz quaresma... Cobertas de ouro

as árvores... Ela também triunfante: ouro sobre o esplendor adorado do sexo... Agora fitava as flores secas. Junto dela, o filho, pequeno animal sem vontade, sem vida, que lhe chegava aos lábios um

copo d'água.

 

          Sobrara-lhe um filho nos desperdícios do passado, para vigiar-lhe a agonia. Ninguém mais, ninguém mais, nem Deus com ela: apenas as flores do desespero e aquele copo d'água de vez em quando, que ela sorvia como uma medicina amarga de lágrimas...

 

 

AZUL, CIÚME

 

          Céu e oceano, a soledade sem fim. O ciúme é isolamento, queixa sem ecos do coração solitário.Ao despertar, estava só na triste câmara. Enferma e abandonada! Calcadas aos pés as juras de ontem, como destroços de um ídolo quebrado. Fronteira ao leito, a janela parecia alargar-se mais e mais para mostrar o firmamento. Sob o reflexo

azul bem sonhara Rosita o abandono, eles felizes numa concha de safira, levados à flor do grande lago, docemente, cantando, docemente, se a barcarola os levasse. Morreu, fechando na pálpebra a estampa diurna daquele azul fundo, deserto.

 

 

ROXO, TRISTEZA

 

          Tinta tomada à palheta do ocaso e às flores da morte.

 

          Alegre, ela. Muita luz no espaço; bailava no ar o cântico sereno da manhã; na relva os arbustos orvalhados tinham um pequenino sol em cada folha. Somente as violetas sofriam, pungidas pelo

dia.

 

Outra manhã, tudo mudado. Na atmosfera, um torpor gélido e sombrio. Os extremos da paisagem gastam-se na cerração como as orlas de uma pintura velha: nem sol nem pássaros na relva.

 

          Agora, órfã.

 

          As violetas revivem, as melancólicas, desabrochando em suspiros, sob as lágrimas da chuva.

 

 

 

CAMPOS, Augusto deOutro. Rio de Janeiro: Perspectiva, 2015.  116 p. (Coleção SIGNOS)   Produção: J. Guinsburg, editor; Ricardo W. Neves, Segio Kohn.   Capa, projeto e execução gráfica Augusto de Campos.  ISBN 978-85-273-1032-1  Ex. bibl. Antonio Miranda

Montagem de Augusto de Campos:  

 

 

 

Página publicada em novembro de 2013. Ampliada e republicada em outubro de 2015.


 

 

 
 
 
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