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PEDRO BIAL

Fonte: scarlletariana.blogspot.com            

PEDRO BIAL

Poeta, jornalista, cineasta, nasceu no Rio de Janeiro, em 29 de março de 1958. Formado em jornalismo em 1980, começou a trabalhar em cinema e depois televisão, na Globo. Foi correspondente internacional durante oito anos, desde 1989, e quando voltou tornou-se um dos apresentadores do Fantástico e do Espaço Aberto, na Globonews. Além do jornalismo, desenvolveu projetos paralelos, como cinema, livros-reportagem,  crônicas e, no nosso campo de interesse, a poesia. Nosso amigo Claufe Rodrigues informou que o Bial anda meio afastado da poesia. A presente página é uma convocatória para que intensifique sua produção e apresentações públicas.  A. M.
 

JORNAL

o jornal chega pontual
como o sol;
fingido, faz do sono usual
formol,
notícia fresca
como urina em
fralda velha
lavada e passada.

o jornal é o diário
de quem não tem
diário,
confessionário público
onde o padre desabafa,
todos ouvem e ninguém
absolve.

como espelho,
o jornal só reflete
a própria imagem,
outro espelho.

palavras não se multiplicam,
se repetem;
como os fatos
se travestem
de acontecimentos,
ilusão de
realidade que
se transforma.

o progresso não passa
de mentira bem contada,
em letras garrafais
no alto da página

jornal,
literatura aplicada,
diria Sherlock Holmes
depois de uma picada.

monumento ao efêmero,
só o peixe morto
faz o jornal imortal.

afinal, para que servem
as palavras se não para
embrulhar pensamentos,
sentimentos, momentos,
alimentos?

Jornal é aquilo que põe
as palavras no devido lugar:
no cu de quem usa papel
para se limpar.


EMENDA


Agora só escrevo por encomenda:
adeus à necessidade, à espontaneidade,
adeus à poesia idealizada,
adeus às discussões que enchem os ascensoristas.

Só por encomenda:
obedeço à emoção do pagante,
é minha mão que escreve,
a palavra é de quem pensa e pede.

Encomenda;
emenda, soneto livre,
impossílabo.

Só escrevo por encomenda agora:
de graça basta o silêncio
a sedução,
a resposta não.

 

SONETO DE TESÃO E AMOR

quantos poetas sucumbiram a rimar
teus olhos de mel com teu nome, Isabel?
em quantas amantes julgaram encontrar
tua pele? Sonhada nuvem de papel...

quando bem anuncias alegria já,
bem conheces que a natureza dessas
promessas, tão longe como além de lá,
é apenas esperança às avessas.

Ah, quisera repetir teu nome ninho
como quem brada o último suspiro;
beijar cada letra de meu teu corpinho

e, como se o mármore que respiro
fosse inócuo, puro, nem tão daninho,
te beijo, te amo, te como, te miro..

 

Extraídos de VER O VERSO – EM MÃOS / Alexandra Maia, Claufe Rodrigues, Mano Melo, Pedro Bial.  Rio de Janeiro: Edições O Verso, 2000.




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