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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

PAULO PINHO

 

 

Paulo Pinho é formado em direito pela antiga UEG, com pós-

graduação na Fundação Getúlio Vargas. Colaborou com Carlos

Machado e Paulo Afonso Grisolli. Escreveu Graça do Bonfim, foi

co-autor de Memórias Sem Maquiagem e publicou A Cortesã

e Outras Ideias. Tem trabalhos sobre Jacques Brel publicados no

Jornal do Brasil, no La Libre Belgique e na revista. Jef, da.

fundação internacional que leva o nome do autor da imortal "Ne me

quite pás", com quem manteve um bom relacionamento.

Mar, viagens, literatura e uma boa conversa em mesa de bar fazem

parte do seu universo.

 

 

"Parece que durante algum tempo Paulo Pinho , carregava o poeta dentro de si e não sabia. De repente o poema irrompeu, belo e forte e tomou conta do homem, e rebentou a prisão e exigiu vir à luz brigar pela glória."

Rachel de Queiroz

 

 

PINHO, Paulo.  Alcoolicamente.  Poesia.   Rio de Janeiro: Relume Dumará, 1987.  98 p.  16X23 cm. Capa: Dilmo Malheiros. Ilustrações de Rubens Gerchman.   “ Paulo Pinho “  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

Infância I

 

A infância de José, não sei por que José,

Mas serve,

Era inteiramente diferente da minha.

José tinha uma bola, dois carrinhos,

Um cavalo azul de crina branca, três revólveres,

Uma pipa, um exército cujo comandante era ele,

Tinha um palhaço, dois aviões e um castelo.          

Eu só tinha uma fonte muito escura, onde todas as

                                                                 estrelas

Vinham correndo brincar de esconde-esconde.

Hoje, como eu sinto pena do José.

 

 

Infância II

 

Abro uma caixa esquecida

De antigo papelão

E dentro dela avisto

Os meus velhos soldadinhos.

Tempos de chumbo!

Uniformes de campanha,

Lutas que eu venci,

Derrotas que eu nunca tive,

Quero tê-los junto a mim,

Quero com eles brigar,

Quero voltar a ser

O antigo comandante,

Quero sentir o gosto

De ser de novo criança.

, Mas, os meus soldados marcham,

Implacavelmente marcham,

Sem que eu lhes ordenasse,

Partem sem as minhas ordens,

Partem sem os seus tambores,

Levam nas cores já gastas

Dos embornais que perdemos

Todos os gostos que tive

E que nunca mais terei.

Um antigo caporal,

Num gesto de despedida,

Me faz, por complacência,

A derradeira continência. 

 

 

 

Poema de quando não se sabe

 

A rua era longa,

Era longa a rua

E quase muito escura.

Era longa e escura a rua longa.

No fim da rua havia um poste.

Eu olhava para o poste

E não entendia a moça que passava as noites,

As noites inteiras debaixo dele,

Simplesmente andando, andando e andando.

 

 

 

 

Página publicada em janeiro de 2015

 


 

 

 
 
 
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