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PAULO CÉSAR PINHEIRO
Carioca (Rio de Janeiro RJ em 28 de Abril de 1949) Paulo César Pinheiro começou a escrever poesia e letra em 1962, aos 13 anos de idade. O primeiro parceiro musical foi João de Aquino, seguido depois por Baden Powell, Edu Lobo, João Nogueira, Tom Jobim, Eduardo Gudin, Theo de Barros, Sivuca, Dori Caymmi, Sueli Costa e Pixinguinha, entre outros. E autor de quase mil e quinhentas composições, metade delas gravadas por intérpretes como Elis Regina, Elizeth Cardoso, MPB-4, Nana Caymmi, João Nogueira, Beth Carvalho, Simone, Nelson Gonçalves, Ivan Lins, Sérgio Mendes e Sarah Vaughn. E campeão de festivais — ganhou o primeiro aos 16 anos, com Lapinha, parceria com Baden Powell defendida por Elis na I Bienal do Samba — e autor de músicas para cinema, teatro e TV.
PINHEIRO, Paulo César. Atabaques, violas e bambús. Poesias. Rio de Janeiro: Record, 2000. 254 p. 14x21 cm “ Paulo César Pinheiro “ Ex. bibl. Antonio Miranda
CANTIGA DO MUNDO
O vento não nasce de nada.
Também ninguém sabe onde finda.
Cheguei com esse vento na estrada.
E vou muito mais longe ainda.
Eu moro no meio da rua,
Do rio, do mar e do mundo.
Se a brisa passar, ela é sua.
Se é o vento, eu mergulho no fundo.
Pra mim não tem vento bravio
Que venha apagar minha brasa,
Pois é com a corrente do rio
Que eu tranco o portão lá de casa.
Tem gente que ouve o meu nome
Gravado em rajada de vento
Porque furacão e ciclone
Me servem de cama e assento.
O vento que faz rodopio
Desata o cordão da sacola.
E uso do seu assovio
A fim de afinar a viola.
Por isso é que eu sou vagabundo.
E o vento que quer que eu prossiga.
Que eu faço a cantiga do mundo
E o vento é que canta a cantiga.
ABOIO
Eh! gado, eh!
Gado, eh!, gado eh! boi.
Meu boi barroso,
Fronde é que ele foi?...
Dos três novilhos
Que eu tinha, tem dois.
Eh! gado, eh!
Gado, eh!, gado eh! boi.
O boi mais brabo do gado
Eu monto o bicho no pêlo.
Amanso e trago amarrado
No fio do meu cabelo.
Não é só rude o vaqueiro
Montando o cavalo pampo.
Seu corpo bruto tem cheiro
Da flor que perfuma o campo.
Eu vi de noite na mata
A cara negra de um touro.
Os dentes eram de prata,
E os chifres eram de ouro.
Passei o bicho no cobre
Mas lidei mal com o dinheiro.
Gastei, perdi, fiquei pobre.
Voltei a ser boiadeiro.
Se não for triste o vaqueiro
Pego o meu gado e me afasto.
A mágoa de um boiadeiro
Embala o gado no pasto.
De dia eu guio com zelo,
Meus bois, por entre o espinheiro.
De noite a testa do estrelo
Me serve de candeeiro.
PINHEIRO, Paulo César. Canto brasileiro. Rio de Janeiro: Ed. Autor, 1976. 193 p. 14x21 cm. “ Paulo César Pinheiro “ Ex. bibl. Antonio Miranda
"Eu, antes de ser o compositor, fui o poeta. Mas, numa separação
de tempo tão inexata que, dificilmente, elas, a Música e a Poesia,
se desunem. Tal como siamesas até, elas ocupam entre cérebro e
coração, se escorrem por meus pulsos e garganta, e, pelos meus
dedos a grande corrente total. Daí minha dançarina palavra. Daí
o meu balé oral.
Como impossível se tornou fazer da canção apenas a letra,
também impossível agora conservar no poema não mais que ele
próprio. Há que haver o canto. O grande canto mudo que há no
verso escrito. O canto interior da leitura do canto exterior de silêncio."
(Continua na introdução do livro...)
CANTO BRASILEIRO
Meu coração é o violão de Espanha.
Meu sangue quente é o banjo americano.
A minha voz é o cello da Alemanha.
Meu sentimento é o bandolim cigano.
Minha mágoa é o som francês do acordeon
Meu crânio é a gaita de fole escocesa.
Meus nervos são como o bandoneon.
Minha calma é igual guitarra portuguesa.
Meu olho envolve como flauta indiana.
Minha loucura é como harpa romana.
Meu grito, é o corne inglês, de desespero.
Maldito ou bíblico, demónio ou santo,
Cada país foi me emprestando um canto
E assim nasceu meu canto brasileiro.
IGNOTO
Serei jamais ao teu amor afeito
E ao meu ansioso coração devoto.
Porque me vences quando eu te derroto.
E me derrotas quando eu venço o pleito.
Tu te desnudas, me desnudo e deito.
E o leito vai-se para ao maremoto.
E quando passo o medo é já remoto
Todo o sedento amor depois de feito.
Se o olhar resiste duro e contrafeito,
Já o peito entrega-se ao poder do moto.
E eu dou ao peito o olho e ao olho o peito.
E o Amor que me ignora o novo jeito,
Penetra o que acha dela por direito,
E imobiliza-se diante do ignoto.
GEOMETRIA DA FORMA
Geometricamente disposto eu se me ponho
Como tudo se se põe em geometria.
Sei a quantidade exata do meu sonho
E a matéria que dá forma a minha poesia.
Geométrico eu me passo e passo avulso
Como tudo se se passa em decorrência.
Meço o tempo pelo samba de meu pulso.
Canto um samba quando sofro a tua ausência.
É tudo a geometria que distingue
Como tudo se distingue em face e alma..
Sei da dor quando ela pede que eu me vingue.
Sei da morte quando desce-me essa calma.
Sei das formas que é tudo apenas forma.
Sei (humano) dos limites que nos coube.
Sei de tudo porque tudo se transforma.
Não sei nada como nunca ninguém soube.
(com solo de violino)
Na cama
Permaneceu a moldura de teu corpo
Forma quaseviva
Tua carne chega a se fazer em certas reflexões
E entre uma onda e outra de lençol
Um perfume estranho brota volitivo de tua pela
incandescente
Enquanto que no ar cresce e se propaga
Do ponto de tuas entranhas
A sensação de vaga música...
CAPOEIRA DE BESOURO – ÁLBUM – 57 MINUTOS -
https://www.youtube.com/watch?v=fra75KTApwc
PORTELA NA AVENIDA – música de carnaval – VIDEOCLIPE 3.23 minutos
http://musica.com.br/artistas/paulo-cesar-pinheiro/m/portela-na-avenida/letra.html
Portela
Eu nunca vi coisa mais bela
Quando ela pisa a passarela
E vai entrando na avenida
Parece
A maravilha de aquarela que surgiu
O manto azul da padroeira do brasil
Nossa senhora aparecida
Que vai se arrastando
E o povo na rua cantando
É feito uma reza, um ritual
É a procissão do samba abençoando
A festa do divino carnaval
Portela
É a deusa do samba, o passado revela
E tem a velha guarda como sentinela
E é por isso que eu ouço essa voz que me chama
Portela
Sobre a tua bandeira, esse divino manto
Tua águia altaneira é o espírito santo
No templo do samba
As pastoras e os pastores
Vêm chegando da cidade, da favela
Para defender as tuas cores
Como fiéis na santa missa da capela
Salve o samba, salve a santa, salve ela
Salve o manto azul e branco da portel
Desfilando triunfal sobre o altar do carnaval
Página publicada em janeiro de 2015
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