PAULA GLENADEL
Nasceu no Rio de Janeiro, em 1964, é professora de literatura francesa na Universidade Federal Fluminense (Niterói, RJ). Pós-doutorado na Université de Paris VIII, entre setembro de 2001 e fevereiro de 2002 sobre "Poesia contemporânea francesa e animalidade".
Obra poética: A vida espiralada (Rio de Janeiro: Caetés, 1999) e Quase uma arte (Rio de Janeiro: 7 Letras, São Paulo, Cosanaif, 2005, [ ISBN 85-7503-138-4, www.cosacnaif.com.br e www.7letras.com.br) de onde extraímos os versos seguintes.
Seca
chão tão rachado de secura
que quando cai a chuva
não consegue absorvê-la
refratário, custa a crer
nos tempos de água e de fartura
Quase uma arte
grande amor tenho por seus membros
ombros pescoço braços pernas o viril
mais forte do que tudo
a mão que estendo sem cessar
parece que pede mas oferece
nada ou quase uma arte:
joga nos dados
o olho por olhos
o dente por dente
O outro, o mesmo
é do outro, ventríloqua
a voz que articulo mal
flui de mim, vampirizada
uma seiva que não volta
em lugar da epifania
entra a aparição
sobe ao palco
o outro, o indesejado
nem vivo nem morto
vestido com minha pele
mesmerizada
Página publicada em agosto de 2010 |