Foto: /escamandro.wordpress.com/
PATRICIA LAVELLE
Nasceu no Rio de Janeiro, é professora do Departamento de Letras da PUC-Rio e atua no Programa de Pós-graduação em Literatura, Cultura e Contemporaneidade. Doutora em filosofia pela École des Hautes Études en Sciences Sociales de Paris, onde morou entre 1999 e 2014, tem livros de ensaios publicados na França e no Brasil, entre os quais Religion et histoire. Sur le concept d'expérience chez Walter Benjamin (Cerf, 2008), sua tese de doutorado. Traduziu Paul Ricoeur e Walter Benjamin para o português e poemas de Orides Fontela para o francês. Como poeta, publicou a plaquete Migalhas metacríticas (7Letras, 2017) e estreou em livro com Bye bye Babel (7Letras, 2018, primei¬ra menção honrosa no Prémio Cidade de Belo Horizonte de 2016). Trabalha no projeto de um novo livro de poesia proviso¬riamente intitulado (Alguma coisa = X).
|
O NERVO DO POEMA. Antologia para Orides Fontela. Organizadores: Patricia Lavalle; Paulo Henriques Britto. Belo Horizonte, MG: Rellicário,2018. 152 p. 14,5 x 20,5 cm. Capa, projeto gráfico e diagramação: Carolina Gischewski.
ISBN 978-85-66786-84-2 Ex. bibl. Antonio Miranda
Inclui poemas de Ana Martins Marques, Josely Vianna Baptista, Lu Menezes, Patricia Lavalle, Leila Danzigert, Paula Glenadel, Marcos Siscar, Masé Lemos, Marília Garcia, Laura Erber, Edimilson de Almeida Pereira, Prisca Agustoni, Alice Sant´ Anna, Heitor Ferraz Mello, Tarso de Melo, Katia Maciel, Simone Brantes, Ricardo Domeneck, Mônica de Aquino, Paulo Henriques Brito, Claudia Roquette-Pinto, Ricardo Aleixo; e Agê de Carvalho.
Espelho
esse corpo que tenho
e que sou:
mundos moventes
metamorfoses
que uma forma pronominal
vazia
unifica e preenche
em fluxos reflexos
penso:
eu, máquina do mundo
quem?
na imagem ninguém
reconheço
traços deformados
no espelho de papel
contam histórias
sobre você
O eu e eu
Nem é preciso dizer
você já sabe: eu
sou
o sujeito aqui
desse enunciado.
Estou entretanto
fora dele
e de fora
o observo
espantada.
Pra falar do eu
(que seja o meu
ou o seu —
esse que em todos fala)
substantivo-me
masculina
num passe de mágica;
traumática, sequer,
a operação gramática
em todo caso
não doeu.
Aos trancos e barrancos
entre cacos
estilhaços
seguimos lado a lado
o eu
homem de palavra
e eu
que sempre
de um passo
o ultrapasso.
Bildung
(a partir da obra homónima de Leila Danziger)
Um vento sopra em livro aberto
ruínas, ruídos, runas
redemoinhos
murmuram
em cada in-fólio
Páginas abrem páginas
em infinitas cópulas
e em cada linha
crescem linhagens
Num álbum vermelho
em espelho, em enigma
sou a que forma
e o informe
em formação
livro em branco
fechado
entre páginas,
asas abertas
Página publicada em maio de 2019
|