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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



 

PASCHOAL CARLOS MAGNO

(1906-1980)

 

 

Poeta, dramaturgo, romancista, diplomata, nasceu no Rio de Janeiro, Brasil.  Paschoal Carlos Magno é um nome injustamente esquecido do grande público. Viveu cercado de admiradores. Homem de teatro, da cultura. E poeta. Seu livro — Tempo que passa — é de 1922, seguindo-se Chagas de Sol (1925) e Esplendor (1932). Não tive acesso a estes livros em minha juventude, conhecia-o das funções teatrais  na Casa do Estudante do Brasil, instituição fundada por ele, que ficava no bairro da Lapa, em sua cidade natal. Morava ali perto, em Santa Teresa, refúgio de artistas e boêmios. PCM era autor teatral, animador cultural.

 

Éramos de gerações diferentes, mas ele vivia cercado de jovens, eu era um deles. Apresentei-lhe um projeto aventuroso, de sair pelo Brasil dando palestras “audio-visuais” sobre arte e cultura brasileiras em escolas e clubes de serviços. Mochileiro intelectual, poeta mambembe. Ele vibrou. Eu ia, na imaginação dele, realizar um sonho que acalentara... Deu-me uma carta de apresentação que me abriu todas as portas, tal era o seu prestígio! Fui aceito como convidado na famosa Barca da Cultura que, partindo de Penedo, percorreu o rio São Francisco. Serviu-me também para conseguir uma carona em avião da FAB para visitar o arquipélago de Fernando de Noronha, para chegar a Manaus e Belém e até para uma visita à Guiana Francesa! Isso no início da década de 60. Dessa viagem surgiram os meus textos de Versos Itinerantes, que ele não chegou a conhecer.

 

Reencontro-o em um sebo de São Paulo, recentemente, na forma de seu livro de poesias “Poemas do Irremediável” (Rio de Janeiro, Editora Cátedra, 1972). Mas o primeiro livro de poemas de Paschoal foi Templos, escrito aos doze anos de idade. O Conde de Afonso Celso encontrou nele “engenho artístico”, embora o aconselhasse a não publicá-lo; que esperasse aprimorar sua técnica (“inspiração”), e o jovem acatou. Henriqueta Lisboa confessou: “Este é poeta!”, depois de ler Chagas do Sol.

 

Poemas do Irremediável é obra da maturidade, ao 66 anos de idade, em que o poeta confessa ter sido um diferente entre os iguais, embora pretendesse “ser igual ao outros, aos demais...”. Mas era excepcional, sem dúvida”  ANTONIO MIRANDA 

 

 

 

MAGNO, Paschoal CarlosPoemas do irremediável.  Rio de Janeiro: Livraria Editôra Cátedra, 1972.  105 p.  (Coleção Suarana, 2)  14x21 cm.    Prefácio de Roberto Alvim Corrêa.  Posfácio de Nataniel Dantas. 

 

                                                       

 

II

 

Vivo como se andasse

                            me afogando,

e onde estiver, aí,

                         será mar alto,

e eu sempre mais só, desesperado,

a buscar entre ondas,

                   uma de apego,

exílio e salvamento:

durante os dias, espero as noites,

a fumaça de barcos, um sinal.

Mas há as noites — oh horror

                                      das noites —

intermináveis no ar sem sono,

onde um farol,

                   (uma estrela houvesse)

apenas iluminariam

o medo de me perder

                            por me salvar:

co

 

mo esperar um braço

quando o mar é grama

                            para o vento,

ou eco dos ecos?

Mesmo que um braço me fosse estendido

já não haveria

                   porto...

 

 

IV

 

Fora de mim

                   estes outros limites:

Os outros e o mundo.

Talvez isso justifique

essa evasão:

a existência de uma força

que seja começo e fim,

fundamental monossílabo.

Talvez isso justifique,

essa essência ilimitada

só aceita pelo mundo

com minha forma e a dos outros.

 

 

X

 

A mesma pele morena,

a mesma voz fluvial

o mesmo gesto ao falar,

o mesmo andar musical...

 

O mesmo gosto no beijo,

a mesma ânsia nos passos,

o mesmo bosque na face,

a mesma paz nos abraços.

 

As mesmas vagas desculpas,

as mesmas verdades puras,

as mesmas raras mentiras,

as mesmas claras loucuras.

 

A mesma infância ao dormir,

o mesmo ser se escondendo,

o mesmo rosto em meu peito,

a mesma aurora acendendo.

 

O mesmo corpo em meu corpo,

a mesma amarga doçura.

As mesmas mãos me tocando,

o mesmo cais de ternura.

 

O mesmo campo de mágoas,

a mesma grande ventura,

a mesma frescura d´água,

o mesmo calor de pão.

 

 

XXVI

 

Vieste com a noite, e a mesma manhã te levou.

Tinha pés de sombra quando chegaste:

só um pássaro violou o ar de que partiste.

 

Entre a chegada e o adeus havia luz:

a cintilação fria das estrelas,

o quase fulgor do nascer do dia.

 

Vieste com a noite e a manhã te levou,

criamos um mundo como deuses:

mas o real que foi assim construído,

tomou diante dos olhos surpresos,

novas formas, tentou pela desordem

da emoção, a inconsciência do perfeito.

 

 

XXVIII

 

Não só duas vezes,

muito mais é certo

eu fui enganado.

 

Ausência de voz,

ausência de gesto

do ser esperado...

 

Nenhum desespero

marcou minha face,

diante do fado.

 

Sozinho ficava

aparentemente

frio, inalterado.

 

Sem ter companhia

eu me libertava

de todo pecado.

 

Podia, sem susto,

olhar para dentro,

livre, despojado,

 

sem remorsos, sem

o arrependimento

do ato realizado...

 

 

Extraído de:
2011 CALENDÁRIO   poetas     antologia
Jaboatão dos Guararapes, PE: Editora Guararapes EGM, 2010.
Editor: Edson Guedes de Morais

 

/ Caixa de cartão duro com 12 conjuntos de poemas, um para cada mês do ano. Os poetas incluídos pelo mês de seu aniversário. Inclui efígie e um poema de cada poeta, escolhidos entre os clássicos e os contemporâneos do Brasil, e alguns de Portugal. Produção artesanal.

 

MAGNO, Paschoal CarlosPaschoal Carlos Magno -  Poeta. Jaboatão dos Guararapes, PE: Editora Guararapes EGM, s.d.   64 p.  13X20 cm.  Editor: Edson Guedes de Morais.  Edição artesanal de 30 exemplares, fora de comércio. Inclui O texto: “Injustamente esquecido, por Antonio Miranda, p.21-25.  Ex. bibl. Antonio Miranda


 

Página ampliada e republicada em janeiro de 2011; ampliada e republicada em janeiro de 2015.




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