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MÁRIO LAGO

MÁRIO LAGO
(1911-2001)

Compositor carioca, letrista, ator, poeta, radialista e advogado. Nascido no Rio de Janeiro em 26 de novembro de 1911, aos 15 anos já publicava o primeiro poema na imprensa carioca.

Como compositor, são dele sucessos que se tornaram obrigatórios em qualquer antologia de MPB que se organize. Ai Que Saudade da Amélia e Atire a Primeira Pedra, ambos em parceria com Ataulfo Alves, são bons exemplos. No carnaval marcou presença com Aurora, feita com Roberto Roberti, e suas românticas composições, assinadas com Custódio Mesquita e Sadi Cabral, ganharam o país principalmente na voz de Orlando Silva. 

“Muitos dirão que estas poesias falam em tom de comício. Concordo. / Muitos dirão que estas poesias foram feitas com sabor de manifesto. Concordo. / Concordo porque elas são comício e manifesto. São umas das mil formas de se chegar ao povo quando negam ao povo a praça pública. Mas se muitos disserem que elas não têm beleza poética, discordo. Elas foram escritas na linguagem do povo. Inspiradas e ditadas pelo povo.” Mário Lago 

 Fonte da imagem: Edilberto Djuba Pires *Facebook

 

E eles vieram pras ruas,
delírio verde nos lábios,
delírio pardo nas almas,
delírio negro nas mãos.
E encheram de gritos as ruas,
porque o povo deixou as ruas
quando eles vieram pras ruas,
delírio verde nos lábios,
delírio pardo nas almas,
delírio negro nas mãos.” (...)

O VOTO É A ARMA DO POVO!
O NOSSO PETRÓLEO É NOSSO!

 

EU QUERO DUAS RIMAS

Eu quero duas rimas para liberdade.
Nem cidade nem saudade,
nem faculdade nem eternidade.
Eu quero duas rimas para liberdade
para escrever um poema
que fale da fome de um operário,
que fale da angústia de um camponês.
Achei as duas rimas para liberdade!
Luta e União.

Amigos!
Sejamos todos poetas!
Utilizemos as rimas!
E escrevamos todos juntos.
de uma vez,
o poema da liberdade
que acabe com a fome de um operário,
que acabe com a angústia de um camponês.


POESIA DA VIDA EM MARCHA

A poesia da vida em marcha
tem ritmo diferente.

Ritmo irregular e desigual
de milhões de martelos
batidos descompassadamente
por milhões de mãos;
de milhões de enxadas
movidas desordenadamente
por milhões de braços;
de milhões de pés
andando desesperadamente
não se sabe para onde.

A poesia da vida em marcha
tem música diferente.

Música sem som
das sirenes das oficinas,
dos apitos das locomotivas,
dos roncos dos motores,
dos gritos das revoltas interiores
dos homem que sofrem nas oficinas,
queimam os pulmões nas caldeiras das locomotivas
e morrem de fome nas fábricas de motores.

A poesia da vida em marcha
tem rimas diferentes.

Rimas sem música,
sem versos que terminam em sílabas iguais.
Rimas de palavras diferentes,
com o mesmo sentido na boca dos que sofrem.

Rimas de palavras que rimam
apenas na idéia,
no pensamento.
Rimas estranhas
de tirania com sofrimento,
de sofrimento com união.

De união com liberdade.

A poesia da vida em marcha
tem  cadência diferente.

Cadência de passos trôpegos
das crianças sem pão,
das mulheres sem lar,
dos homens sem trabalho.
Cadência brutal
das patas de cavalos pisando carne,
de patas de cavalos pisando sangue
dos homens sem trabalho,
das mulheres sem lar,
das crianças sem pão.

Cadência violenta
de braços se estirando num esforço cada vez maior
como quem empurra qualquer coisa.
Cadência confiante, enérgica,
de punhos cerrados batendo,
batendo,
batendo,
de uma só vez,
simultaneamente,
compassadamente,
como quem derruba qualquer coisa.


PEQUENOS POEMAS DA GRANDE CERTEZA

1.
    O mundo será feliz.
    Quando em vez de dizer eu,
    quando em vez de dizer meu,
    os homens disserem nós,
    os homens disserem nosso.

 2.

Eu não sou dono de nada.
Meus filhos
 não serão donos de nada.

 Eu não sou dono de nada
 porque hoje
alguns são donos de tudo.
Meus filhos
não serão donos de nada
porque amanhã
ninguém será dono de nada.
Todos serão donos de tudo.

                     3.
                   Companheiro, que colheita!
                   Como colhemos café!
                   Café em excesso, não é?
                   Melhor, melhor, companheiro,
                   Haverá café pra todos.
                   Baixa o preço do café.

        

Ai, que saudades da Amélia

(Ataulfo Alves e Mário Lago)

 

Nunca vi fazer tanta exigência

Nem fazer o que você me faz

Você não sabe o que é consciência

Nem vê que eu sou um pobre rapaz

Você só pensa em luxo e riqueza

Tudo o que você vê, você quer

Ai, meu Deus, que saudade da Amélia

Aquilo sim é que era mulher

 

Às vezes passava fome ao meu lado

E achava bonito não ter o que comer

Quando me via contrariado

Dizia: "Meu filho, o que se há de fazer!"

Amélia não tinha a menor vaidade

 

Atire a primeira pedra

(Ataulfo Alves e Mário Lago)

 

 

Covarde sei que me podem chamar

Porque não calo no peito essa dor

Atire a primeira pedra, ai, ai, ai

Aquele que não sofreu por amor

Eu sei que vão censurar meu proceder

Eu sei, mulher

Que você mesma vai dizer

Que eu voltei pra me humilhar

É, mas não faz mal

Você pode até sorrir

Perdão foi feito pra gente pedir

 

Aurora

(Mário Lago e Roberto Roberti)

 

Se você fosse sincera

Oh, oh, oh, Aurora

Veja só que bom que era

Oh, oh, oh, Aurora

 

Um lindo apartamento

Com porteiro, elevador

Um ar refrigerado

Para os dias de calor

Madame antes do nome

Você teria agora

Oh, oh, oh, Aurora

 


Página publicada em janeiro de 2009

 




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