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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

MARIA DO CARMO DE LIMA BOMFIM 
(CARMO BOMFIM)

 

Psicóloga clínica, na cidade do Rio de Janeiro, onde participa de oficinas de literatura.

 

 

 

        MEU PAR

O papel em branco
que a tantos aterroriza

       a mim não dá medo:
é meu companheiro
nas andanças do dia-a-dia
Carrego-o para todos os lugares
e se alguma ideia me surge de surpresa
ou me toma por inteiro
recorro a ele
— meu testemunho calado
de tudo o que penso e desejo

E não falo

 

 

 

ALAGOAS

Quero ficar em Penedo
navegar no São Francisco
onde ficaram as lembranças do meu pai
Comer jacaré piaba
mugunzá rapadura
feijão verde castanha de caju
mangaba   pitu
Fazer moringa de barro
brincar com bruxa de pano
À tarde saudar pescadores
que vão rioadentro
barcos cheios de frutos
(o velho Chico é generoso)
deitada na rede
tomando água-de-coco.

 

 

 

 

PRISMA – A revista de literatura   n. 006 – abril 2015.   Porto Velho, Rondônia: Editora Costelas Felinas, 2015.  Organização: Selmo Vasconcellos.  24 p.                                    Ex. bibl. Antonio Miranda

 

ENIGMA

Abri a pasta
onde guardo os meus poemas
e, com espanto,
vi que eles emanavam
uma luz que me cegava
Toquei no primeiro
que se transformou
num coração ferido:
o sangue jorrava.
O segundo sorria.
O terceiro chorava
E assim as palavras
foram tomando corpo
recriando a expressão
que de mim brotava

 

CONTRASTES EM COPACABANA

Que seres somos nós?
Humanos ou robôs?
Andamos pelas ruas,
apressados, assustados
correndo não sabemos do quê.
Em cada esquina
há o que se ver.
O garoto malabarista
maneja no ar,
com maestria,
bolas verdes, azuis, vermelhas.
Ninguém nota,
nem param por ele.

O sinal abre
e quase o atropelam.
Os motoristas seguem
de olhar reto, sem vida,
escondidos no insulfilm
dos seus medos..


MOMENTOS

Escrevo à noite,
em total silêncio,
sozinha,
sem música ou televisão.
Os pássaros dormem
e não há grilos, sapos, corujas,
que possam me acompanhar
neste ato de doação,
com seus chiados, lamentos noturnos,
juntos, num cora harmonioso.

Leio de dia,
no burburinho da cidade, no metrô,
e faço uma espécie de retrô
de tudo o que senti ontem
e está vívido no poema.
Descubro que a nossa companhia,
seja de noite, seja de dia
não rima com solidão.

 

*

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Página publicada em janeiro de 2023

 

Página publicada em março de 2020

 

 

 


 

 

 
 
 
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