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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Foto: http://jornalailha.com.br/

 

MARIA CLARA MACHADO

 

(Belo Horizonte, 3 de abril de 1921 — Rio de Janeiro, 30 de abril de 2001)

 

 

Nasceu em Belo Horizonte, mas parece carioca [conforme opinião de Manuel Bandeira]. Criadora de importante obra teatral, tem a vivacidade , a graça, o dom de invenção do pai (é filha de Aníbal Machado). Não garanto que seja uma bissexta autêntica, na dúvida e temendo se perdesse esta “Viagem” que, como a de Nils Holgersson, podemos  qualificar de maravilhosa, resolvi incluí-la em minha antologia.

 

 

 

 

ANTOLOGIA DOS POETAS BRASILEIROS BISSEXTOS CONTEMPORÂNEOS. Organização: MANUEL BANDEIRA.
Rio de Janeiro: Editora Nova Fronteira, 1996.  298 p,   12 x 18 cm. 
ISBN 979-85-209-0699-O    Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

Bissexto é todo o poeta que só entra em estado de graça de raro em raro.” MANUEL BANDEIRA

 

 

 

                VIAGEM

 

         Da plataforma de meu trenzinho eu vejo as coisas passarem.
Passou uma casa correndo, atrás dela um quintal e uma dona
gorda com filho no colo e trouxa na cabeça.
Passou depois uma árvore sozinha, tão sozinha, que logo em seguida
passou outra mais depressa correndo atrás dela.
Passou um urubu voando assustado à procura da roubada solidão.
Passou depois uma flor de braço dado com outra flor, dançando,
dançando...
Passaram também montanhas e abismos, pontes e túneis.
Os bambus, as palmeiras, o capim, o arroio seco, passaram correndo,
cantando com o vento, atrás da tempestade, que vinha vindo do céu 

                                                                              e que passou também.
Um rio que quis seguir a gente mas não pôde mais e sumiu atrás do
monte.
Passou uma nuvem correndo por cima dos pinheirais.
Passou a fumaça preta salpicada de fogo.
A fumaça era carvão e virou nuvem e o fogo então correu também
para virar estrela.
Só eu fiquei parada, na plataforma, a espiar tudo. Chegou o chefe do
trem, disse que eu não podia ficar ali e sumiu também.
Eu chamei a minha amiga para perto, e disse a ela que não fosse
embora, que ficasse. E então, ficamos as
duas vendo as coisas passarem.
O trilho foge da gente porque quer encontra o outro trilho ali adiante.
Mas ele nunca o encontra e continua correndo, correndo...
Passou a estação pequenina com homem de uniforme e bandeira
verde acenando sem parar.
Passou a voz da moça de vestido novo vendendo pastel e passou um
cheiro de café com broa.
Passou a garoa da madrugada e o milharal e a cafua.
Passou um menino sujinho outro menino nu que deu adeus  e riu.
Passou a noite, passou o dia, passou a noite outra vez e veio de novo
o dia que também passou.
Um cisco entrou no olhos de minha amiga e ela então foi embora
também.
Só eu fiquei, parada, sozinha, na plataforma, a espiar tudo que ia
passando, passando...

 

 

 

  Página publicada em maio de 2020


 

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