MARCUS VINICIUS NOGUEIRA SOARES
Graduado em Letras pela UFF, fez mestrado em Literatura Brasileira sob orientação de Luiz Costa Lima e doutorado em Literatura Comparada sob orientação de Maria Helena Rouanet. É professor de Literatura Brasileira na UERJ e foi professor visitante na Universidade de Stanford. Pesquisa academicamente história literária, folhetim e crônica oitocentistas, romance brasileiro do século XIX e a obra de José de Alencar. É assessor ad hoc da FAPESP e integra o corpo editorial da revista Portuguese Literary & Cultural Studies.
Extraído de
POESIA SEMPRE. Revista semestral de poesia. ANO 9 – NÚMERO 14. AGOSTO 2001. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, Ministério da Cultura, Departamento Nacional do Livro, 2001. 222 p. ilus. col. Editor geral Marco Lucchesi. ISSN 0104-0626 Ex. bibl. Antonio Miranda.
Rio
Os rios não transitam
se resignam a traços
a margens com flores
à superfície de água
de cor emprestada
II
Os rios opacos
não se prestam
à cor alheia
a sua materialidade
exprime a cor mesma
de rio plúmbeo
sem nuvens.
III
Há rios
que se rendem
à predição do cristal.
IV
À expressão glacial de rio
subjazem
os sinos de domingo
V
O mesmo rio de mim:
seu fluxo não desfaz
minha imagem.
Poema assimétrico
Uma folha que cai
não diz de sua queda.
Um murmúrio que seja
de um riacho
não é o seu sorriso.
Os pássaros
se existem,
não cantam o seu canto.
Nem o seu nome lhe concede
pétalas (o branco do lírio
não é o que você irradia).
Nada lhe corresponde.
Fora de si,
o sol move-se
mede os seus dias,
e a sua vida é
não obstante a sua medida.
Página publicada em junho de 2018
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