MARCO GUERRA
Marco Antônio Guerra (Rio de Janeiro, 1966) é poeta, contista, professor e mestre em Ciência da Literatura. Teve poemas publicados na antologia Poetas brasileiros de hoje (1986), no Caderno do Laboratório de Criação Literária da UFRJ (1995) e na revista Comunitá Italiana (2007).
Matéria-prima
O caos primordial da matéria me incomoda
e me fascina. Fico pensando no que pode
essa matéria-prima fazer do meu espanto.
É um encanto de pedra esse fascínio.
A água existe no recipiente, mas ela
não se dilui com o balançar de meu pulso, com minha ansiedade
de menino
em querer vê-la tornar-se gás
e outros elementos.
Ela tem o poder de transformar-se em algo inédito.
É como se fosse um pensamento
jamais elaborado por filósofos, como se fosse um quadro
alquímico, matéria de poetas!
Suas formas substanciais são muitas.
o que ela aparenta ser não é, mas já vai sendo. Nos confunde
na nossa expectativa de estreantes da química. Contudo, a alma
física sabe o que acontece na transformação
do sólido para o líquido, e vice-versa. O meu espanto de experimentador
acontece. Quando vejo a água sair de seu estado
natural, para se transformar em ar, expandindo
uma energia gasosa que modifica o mundo
com sua beleza de pedra transformada, vivo!
MÁSCARAS
Com o rosto calmo, mal lavado, me desfaço
em dois e descubro, estupefato, o fato
que me prende, cego, ao mundo.
Com o rosto exposto, mas lavado, me faço
um e constato, desmascarado, o fato
que me prende, monstro, ao mundo.
Quando o jiló se torna doce
Quando o jiló se torna doce
em nossa boca, meu amigo,
já é hora de se preocupar
com o corpo.
Quando o jiló não amarga
em nossa boca,
talvez seja a hora, agora,
de encomendar o verniz, quem sabe?
Quando o jiló não mais amarga
em sua boca, meu amigo,
alguma coisa em você
morreu pra sempre.
Poemas extraídos da revista POESIA SEMPRE (Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro), Número 26, Ano 14, 2007.
Página publicada em novembro de 2009.
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