MÁRCIO CASTILHO
Volta Redonda, Estado do Rio de Janeiro.
X COLETÂNEA SÉCULO XXI Homenagem ao romancista e acadêmico Antônio Torres. Organizador e editor Jean Carlos Gomes - PoeArt editora . Volta Redonda, RJ: Gráfica Drummond, 2020. 14 x 21 cm. Ex. bibl. Antonio Miranda
SARAY DE TODOS OS TEMPOS
Bem-vindo ao tempo de todos, ao tempo que não é só meu:
Tempo do infante, tempo da maturidade; tempo de hoje,
tempo de antes,
Tempo de toda e qualquer idade.
Bem vindo ao tempo da atemporalidade;
Tempo da arte, tempo do adeus, tempo de todos os lugares.
Bem-vindo ao tempo dos selos, dos celulares,
Dos LP´s, dos CD´s, dos materiais escolares;
Tempo da fita cassete, do Blu-Ray, do VHS,
Tempo do laptop, tempo da máquina datilográfica,
Tempo das cartas, tempo do e-mail,
Tempo que, destarte, não reparte Inícios, fins e meios.
Bem-vindo às horas e desoras
Nos átomos deste poema e de todos dantes poetizados,
Para que a vida arquive tudo aquilo que se vive
Por tudo o que valeu ou vale a pena.
Bem-vindo ao tempo da pluricelularidade, dos modernos
e da ancestralidade;
Ao tempo da bactéria, ao tempo do que sou,
Ao tempo do que fui, ao tempo do que eu era.
Bem-vindo ao tempo de todos, de todos os seres, de todas
as cinzas,
De todas as vezes, de todas as décadas, anos e meses;
De todas as cápsulas e compartimentos,
De todo o ficar e de toda a partida;
De todas as válvulas, de todas as vidas,
De todos os tempos.
*Compõe o livro De todos os tempos, ganhador do Prêmio Olho Vivo 2019 n Categoria Livro.
COLETÂNEA VIAGEM PELA ESCRITA. Vol. V. Homenagem ao acadêmico Carlos Nejar. Volta Redonda, RJ: Gráfica e Editora Irmão Drumond, 2019. 106 p. 15 x 21 cm. Apresentação por Jean Carlos Gomes. Inclui além da antologia de poetas, textos sobre Nejar escritos por Alexei Bueno, Anderson Braga Horta, Antonio Carlos
Secchin, Antonio Miranda, Antonio Torres, Geraldo Carneiro, Luiz Otávio Oliani, Nuno Rau e Angeli Rose. Ex. bibl. Antonio Miranda
Foto: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2018/09/02/incendio-atinge-museu-nacional-no-rio-de-janeiro-fotos.ghtml
LUZIA
As chamas lamberam o teto da memória,
Consumiram as páginas de história.
As linhas da vida antes tão vastas
Configuram agora uma tábula rasa.
Os fósseis, a origem, as múmias partiram
Nas inextinguíveis labaredas que, atrozes, consumiram
Todo o passado de uma terra tão rica.
E agora me pergunto o que fica
Da ancestralidade,
Da humanidade,
Da antiga ciência,
Da consciência?
Lembrai que nos tacos lígnios
Inermes aos poderes ígneos
Habitavam histórias, geográficas,
Arquiteturas, artes, biologias.
E hoje tudo jaz nos escombros,
Desvaneceu-se o conhecimento, num setembro hediondo.
Que dizer dos mártires, da realeza, da independência do
[ país
Se tudo se perdeu, de vez, numa noite infeliz?
Por conta do descaso dos maiorais,
Perderam-se palácios, artefatos, umbrais.
Oriundo de onde és tu ou sou eu
Se a resposta se eclipsou no findar do museu?
*
O incêndio no Museu Nacional do Rio de Janeiro aconteceu em 2.9.2018.
Um tremendo desastre. Mas durante a reconstrução, descobriram áreas
em que parte do patrimônio cultural, descrito acima no poema, milagrosamente escapou do fogo.
ANTRÓPICO
Em Nova York, nevascas,
Na Califórnia, queimadas,
Degelam-se as geleira da Antártida,
Expropriam-se, da Amazônia, as matas.
O látex da árvores se dissolve
Na vida ácida da chuva,
Nos carbonos rompidos
Que os tempos removem.
O ozônio no estratosférico plano
Rompe-se na sufocante estufa,
Plena de nitrogênio e metano.
Onde fluem as águas cristalinas
Em que outrora saciávamos a sede,
Se arsênio e mercúrio se disseminam
Nas marianas barragens e redes?
Quem dera pousassem multicores araras
E despontassem, no ermo, frondosas araucárias
No gris dessa terra acromática
Desfazendo, com cores primárias,
A plúmbea fuligem das fábricas.
E aos verdes o verde varrido
Do ventre da vida matada,
Que direis, ó homens benditos,
Consumidos no negro e no nada?
*
Página ampliada e republicada em dezembro de 2022
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Página publicada em dezembro de 2020
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