MARCIO CARVALHO
(1967-2007)
Jornalista, poeta, ensaísta, contista, dramaturgo, arte-educador, ator e professor. Desenvolveu projetos de arte-educaçâo para a Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro e ONGs. Foi Diretor de Comunicação do Sindicato dos Escritores do Estado do Rio de Janeiro (SEERJ). Tem trabalhos publicados em antologias, no Estado do Rio de Janeiro e em outros estados brasileiros, bem como, em diversas publicações literárias, como a Revista Poesia Sempre, da Biblioteca Nacional, onde, além de poemas, escreveu ensaio sobre o poeta Casimiro de Abreu. Foi membro do Grupo Poesia Simplesmente, responsável pelo evento Terça Converso no Café, no Teatro Gláucio Gill, em Copacabana. Com esse Grupo, também organizou o Festival Carioca de Poesia.
Em 2006, representou o Brasil no Segundo Festival Latno-Americano de Poesia "ser al fin una palabra", evento integrante do Dia Mundial da Poesia, decretado pela UNESCO, no México, Distrito Federal.
NAVALHAS VOADORAS PARA CORTAR A TARDE é o seu primeiro e único livro individual. Obra das Edições SEERJ, 1a ed., Rio de Janeiro, 2006.
MÁRCIO CARVALHO, carioca, nasceu em 12 de abril de 1967 e faleceu no Rio de Janeiro no dia 09 de fevereiro de 2007.
Caro leitor, sinta-se homenageado ao ler os poemas de Marcio Carvalho. Sei que ele não espera agradecimentos, mas eu agradeço cada vez que leio e releio Navalhas voadoras para cortar a tarde, estreia de gala desse poeta que não fere o silêncio, mas profana-o com a sensibilidade e a certeza daqueles que o sabem fundamental. E o poeta, com todo respeito e agudeza no olhar, corta o silêncio com navalhas rápidas e voadoras, palavras precisas, exatas na aspereza da ternura, rumo ao alvo - o vazio opressor - que não possui um centro, mas tentáculos capazes de triturar a vida conformista. LUIZ HORÁCIO RODRIGUES
A unidade da obra é obtida graças ao imaginário sagrado, com que ela permanentemente dialoga, e ao intercâmbio de palavras e imagens que vão reaparecendo nos textos seguintes, compondo uma corrente de poemas-oração: ora cínicos, ora líricos, mas sempre lúcidos. MARCUS VINICIUS QUIROGA
De
VERTENTES
Coletânea de poemas e fortuna crítica.
[Poemas de] Elaine Pauvolid, Marcia Carvalho,
Márcio Catunda, Ricardo Alfaya, Tanussi Cardoso.
Rio de Janeiro: Fivestar, 2009. 195 p.
ISBN 978-85-62038-02-0
ORANDO
Para Jorge Ventura
santos em pecado
à espreita
'oram por mim
já que não sei de cor
nenhuma novena
mas me benzo sem que
ninguém veja
pois a culpa
ancestral
se encarrega de maldizer o tempo
enquanto o vinho amanhecido
se transforma em sangue
reparto entre os convivas
um punhado de penitências
cuspo a hóstia ainda sagrada
já que o cardápio
ofertado não me traz salvação
mas mesmo assim
em nome do Pai me benzo
e sigo na esperança da redenção
pois são cheios de remorsos os homens
MOSAICO
tudo aqui é quebrado
como vitrais abandonados
canecas e pratos
a louça é o corpo quebrado
se tudo é caco
tudo acena destroço
e construção
tudo é ensaio de uma possibilidade
que não sei
juntar pedaços
despedaçá-los
colá-los
onde me perco
reconstruir vidraças
há muito sei que sou abandono
MOVIMENTO
a vida quando esteve aqui
não era março nem abril
apenas um baú de lembranças
música cio
a vida que passa lá fora
ainda bombeia
sangue manhã de carnaval
a vida que esteve aqui
e lambeu espelhos
se deparou com paredes
FARO
lobo uiva
na cidade grande
em prédios macas e latrinas
procura no corpo
ausência e saudações
beijos de saliva doce
baba de morcego
caminha pelo corpo
lambe a presa
certeiro rasga a carne
assusta a alma
bebe o sangue
inocula o corpo de raiva
e veneno
lobo mau chapéu de seda
sede
sedativo
pisca o olho e vai embora
GOZO
coxas tortuosas
lábios sangram
e não beijam
carne esfinge carma
corpos bailam
ciladas e odores
mãos cravam
a pele
línguas lambem
sangue
salivam venenos
doces poderes
o corpo treme
a cama range
almas em transe
segundos
que não morro
mas padeço
EM FAMÍLIA
o corpo que velas
não é mais
o mesmo corpo
que outrora
beijou
é pedaço de carne
sangue coalhado
unguento e poço
o corpo que velas
é somente
miragem
o futuro virá
sob o mármore frio
Página publicada em julho de 2010, a partir de um exemplar da obra enviado por Luiz Otávio Oliani, poeta e assessor de Imprensa da editora, com a devida autorização para a divulgação dos textos.
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