MANUEL RAMOS DA COSTA
Manuel Ramos da Costa (ou Manoel Ramos da Costa). Poeta e romancista.
Nascimento: 1849 - Rio de Janeiro, RJ - Morte: 1872 - Rio de Janeiro, RJ.
OLIVEIRA, Alberto de. Páginas de ouro da poesia brasileira. Rio de Janeiro: H Garnier, Livreiro-Editor, 1911. 420 p. 12x18 cm Ex. bibl. Antonio Miranda
Inclui os poetas: Frei José de Santa Rita Durão, Claudio Manuel da Costa, José Basílio da Gama, Thomas Antonio Gonzaga, Ignacio José de Alvarenga Peixoto, Manoel Ignacio da Silva Alvarenga, José Bonifacio de Andrada e Silva, Bento de Figuieredo Tenreiro Aranha, Domingos Borges de Barros, Candido José de Araujo Vianna, Antonio Peregfrino Maciel Monteiro, Manoel de Araujo Porto Alere, Domingos José Gonçalves de Magalhães, José Maria do Amaral, Antonio Gonçalves Dias, Bernardo Joaquim da Silva Guimarãaes, Francisco Octaviano de Almeida Rosa, Laurindo José da Silva Rabello, José Bonifacio de Andrada e Silva, Aureliano José Lessa, Manoel Antonio Alvares de Azevedo, Luiz José Junqueira Freire, José de Moraes Silva, José Alexandre Teixeira de Mello, Luiz Delfino dos Santos, Casemiro José Marques de Abreu, Bruno Henrique de Almeida Seabra, Pedro Luiz Pereira de Souza, Tobias Barreto de Menezes, Joaquim Maria Machado de Assis, Luz Nicolao Fagundes Varella, João Julio dos Santos, João Nepomuceno Kubitschek, Luiz Caetano Pereira Guimarães Junior, Antonio de Castro Alves, Luiz de Sousa Monteiro de Barros, Manoel Ramos da Costa, José Ezequiel Freire, Lucio Drumond Furtado de Mendonça, Francisco Antonio de Carvalho Junior, Arthur Narantino Gonçalves Azevedim Theophilo Dias de Mesquita, Adelino Fontoura, Antonio Valentim da Costa Magalhães, Sebastião Cicero de Guimarães Passos, Pedro Rabello e João Antonio de Azevedo Cruz.
SYLVINA
Meu Deus, como passou tão repentina
De nossos sonhos a estação ridente? !
E da su'alma cândida e divina
A Chimera dourada, alvinitente,
Meu Deus, como passou tão repentina? !
Agora tudo é mudo e solitário,
O campo, o lago, os céos, a ventania!
Apagou-se no espaço o alampadario
Que tantas côres, tanta luz vertia!
Agora... tudo é mudo e solitário!
Meu Deus, como foi doce aquella vida!
Quantos sonhos de amor alli nasceram!
Quanto aroma na veiga florescida !
Quanta illusão nos tempos que morreram
Meu Deus, como foi doce aquella vida!
Nossa vida! oh ! que férvida saudade
Me punge o coração, morta criança !
Vinte annos era então a nossa idade,
A quadra dos amores, da esperança!
Nossa vida ! oh ! que férvida saudade
Brincávamos no vai, saltando os brejos
Espelhos das estrellas scintillantes;
Eu tinha febre e medo, ella — desejos...
E felizes assim, longos instantes
Brincávamos no vai, saltando os brejos.
Um dia... o sol raiava no Oriente,
Eu disse-lhe a tremer : — « Não vês, Sylvina,
Brilhar no espaço o olhar do Omnipotente? »
Beijou-lhe um raio a face alabastrina,
Um dia... O sol raiava no Oriente.
E ella a chorar me disse : — «O sol me mata,
A lua tem mais vida e mais poesia;
Amo da noite as lagrimas de prata ! »
« Mas que dôr te comprime ao vir o dia? »
E ella a chorar me disse : « — O sol me mata.
Sylvina era uma flôr modesta e bella,
De folhas de ouro, de perfumes santos!
Nascera ao vir a treva, como a estrella,
Da brisa aos beijos, do luar aos prantos...
Sylvina era uma flôr modesta e bella.
Era um anjo, um mysterio, era um perfume!
No olhar tinha dos céos a côr serena,
No lábio sempre os trillos de um queixume.
Era um beijo do Eterno, uma açucena,
Era um anjo, um mysterio, era um perfume!
Meu Deus, como fugiram repentinas
Do meu primeiro amor as alvas brumas!
O céo calou as musicas divinas,
E nas praias do mar tantas espumas,
Meu Deus, como fugiram repentinas !
Um dia... o campo amanhecia em festa,
Despontava o arrebol — e ella sorrindo,
Me disse : — « Olha, não vês? o sol me cresta ! »
E a morte bafejou-lhe o rosto lindo,
Um dia... O campo amanhecia em festa.
Sim, vinha o sol, e a morte também vinha!
No emtanto, o laranjal se abria em flores!
E a pobresinha, a misera andorinha,
Dizia adeus sorrindo aos seus amores !
Sim, vinha o sol, e a morte também vinha!
Nas azas ideaes de uma harmonia
Rompêra o espaço a cândida criança.
Era um sylpho ! era um anjo ! ella fugia
Para o templo da gloria e da bonança
Nas azas ideaes de uma harmonia!
E eu, cobarde talvez, não vos maldigo,
Senhor, que eu bem conheço, a infância dorme...
Oh'. quando á noite encontro o seu jazigo,
A lucta é grande, o desespero é enorme...
E eu... cobarde talvez, não vos maldigo !
Página publicada em novembro de 2017
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