LUIS SÉRGIO DOS SANTOS
Poeta. Nasceu em Campos, Rio de Janeiro, em 1950.
Formado em Medicina.
SAVARY, Olga, org. Carne viva. 1ª antologia brasileira de poemas eróticos. Rio de Janeiro: Editora Anima, 1984, 348 p. 14x21 cm. Capa: ilustração de Sérgio Ferro. Inclui 77 poetas ativos no final do século 20. Col. A.M.
a corda estendida para tânia
De que argila faz teu ventre o não limite
na construção de um espaço sem medida
que volta em ondas, laços, e não omite
as linhas da minha mão em tua vida?
Repartir a fúria dos dedos, do sopros, das bocas
metamorfose de nó sendo nós a substância,
tuas margens, tuas árvores, tuas frutas ocas,
e saber como fica perto, perto qualquer distância.
Saber / repartir numa exata ciência
e estar entre estes grãos, esta consciência
de que somos muitos quando dois em unidade.
Montanhas como terras planas, montanhas
sendo um dia que se escala quando me acompanhas
onde habito o teu ser, teu ser como a uma cidade.
Agita tua voragem de sono inconsentido
e vem dançar na rua de minha artéria, pulsa,
dança até o amanhecer, dança até o gemido
de um galo que não se cansa de te anunciar, e pulsa.
Pulsa para cada ramo onde o sangue dobra
em minhas partes, em tuas úmidas partes,
o sangue como língua de um rio e obra
de alimentos e desenhos que em mim repartes.
Pulsa, salta que salto de assalto a sua boca
e tua caverna dúbia, tua caverna espessa e oca.
Pulsa se lateja tua chuva, teu brando crepúsculo.
Andam teus caminhos, andar / nadar
como se atravessando um rio a molhar
o tempo, o sentido e a direção de cada músculo.
Página publicada em junho de 2020
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