LUIS EDMUNDO
Luís Edmundo de Melo Pereira da Costa (Rio de Janeiro, 26 de junho de 1878 — Rio de Janeiro, 8 de dezembro de 1961) foi um jornalista, poeta, cronista, teatrólogo e orador brasileiro.
Foi o terceiro ocupante da cadeira 33 da Academia Brasileira de Letras, eleito em 18 de maio de 1944, sucedendo Fernando Magalhães. Foi recebido pelo acadêmico Viriato Correia, em 2 de agosto de 1944.
OLHOS TRISTES
Olhos tristes, vós sois como dois sóis num poente,
Cansados de luzir, cansados de gira,
Olhos de quem andou na vida alegremente
Para depois sofrer, para depois chorar.
Andam neles agora a vagar lentamente,
Como as velas das naus sobre as águas do mar,
Todas as ilusões do vosso sonho ardente.
Olhos tristes, vós sois dois monges a rezar.
Ouço ao vos ver assim, tão cheiros de humildade,
Marinheiros cantando a canção da saudade
Num coro de tristeza e de infinitos ais.
Olhos tristes, eu sei vossa história sombria
E sei quanto chorais cheios de nostalgia,
O sonho que passou e que não torna mais!
(Poesias, 1896-1907)
AMOR
Este é um carro triunfal, plaustro de rodas de ouro;
Arrasta-o sobre o mundo em fúria desabrida
Um estranho animal, que lembra na corrida
A bravura de um leão e os ímpetos de um touro.
Nada lhe embarga o passo; o abismo, o sorvedouro,
Tudo calca e subjuga e leva de vencida;
E os homens em tropel cheios de ardor e vida
Vão atrás dele como atrás de algum tesouro.
Triunfalmente altiva, o olhar forte, os cabelos
Irradiando como a luz de setestrelos,
No plaustro, uma mulher passa o mundo fitando;
Na mão esquerda, como um símbolo perfeito,
Leva um lírio que tem o cálice direito,
Na outra, fera e brutal, leva um punhal sangrando...
(Ibidem)
NATAL
Cala-se o mundo, há um luar de místicos palores;
O vento lembra uma harpa a tocar em surdina;
Brilha pela extensão do céu da Palestina
Num prenuncia feliz a estrela dos pastores.
A vida acorda e vem do cálice das flores
À alma do homem que sente um fulgor que o fascina;
A ovelha bala, o boi muge, o pastor se inclina...
Há um bálsamo por tudo a amenizar as dores.
Jesus nasceu, a fé que os corações ampara
Desce às almas buscando os íntimos refolhos,
Como os raios do sol numa lagoa clara.
Maria, porque vê Jesus pequeno e langue,
Põe um riso feliz na doçura dos olhos,
Que hão de chorar depois as lágrimas de sangue.
(Ibidem)
Página publicada em agosto de 2015
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