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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

LUIS CARLOS

Luís Carlos da Fonseca Monteiro de Barros, mais conhecido por Luís Carlos (Rio de Janeiro, 10 de abril de 1880 — Rio de Janeiro, 16 de setembro de 1932) foi um engenheiro civil e poeta brasileiro.

          Era filho de Eugênio Augusto de Miranda Monteiro de Barros e de Francisca Carolina Werna da Fonseca Monteiro de Barros. Após o casamento mudou-se para Minas Gerais, e depois transferiu-se para São Paulo, onde foi trabalhar na Estrada de Ferro Central do Brasil e, finalmente, voltou para o Rio de Janeiro.

          Fundou a Hora Literária e, com ela, começou a aparecer no cenário literário da cidade, como membro da última geração dos poetas parnasianos brasileiros, com uma mistura de romantismo que diferencia do estilo parnaso, puro e simples. Seus poemas, cada vez mais, ganharam espaços nos jornais e revistas da época. Entretanto, só publicou o seu primeiro livro em 1920.

          Foi eleito para a Academia Brasileira de Letras em 20 de maio de 1926, para a cadeira 18 (da qual foi o quarto ocupante), na sucessão de Alberto Faria, recebido em 21 de dezembro de 1926 pelo acadêmico Osório Duque-Estrada.

Obra poética: Colunas (poesia, 1920);  Astros e abismos (poesia, 1924); Rosal de ritmos (resumo histórico sobre a evolução da poesia brasileira, 1924); Amplidão (poesia, 1933, póstumo); Poesias escolhidas (poesias, 1970, póstumo).

 

 

O CANHÃO

Guardando uma expressão de austera indiferença
Por tudo o que o circunda, atento no Infinito,
Queda-se a meditar no destino maldito.
Que prende a glória a uma tragédia imensa.

Não há poder algum que tão de vez convença:
Traz sempre a boca aberta a sugerir um grito,
Deixando, em toda a parte, um pânico inaudito,
—Sinistro núncio, que é, da máxima sentença.

Mas resiste no peso ao bélico transporte,
Na inversão do seu fim, como que, por encanto,
Lembrando um condenado a rastos para a morte.

E parece, afinal, compenetrar-se tanto
Do seu delito atroz que, em repulsão mais forte,
Quando atira, recua, enchendo-se de espanto!

          (De Colunas, 1920)


          PAZ SERTANEJA

          Amplo dia de paz... Tranquila Céu e Terra,
          Numa contemplação recíproca de cisma.
          O azul se abisma em luz... o verde em luz se abisma...
          Porque entre o verde e o azul nenhuma nuvem erra.

          A brisa e o Sol, irmãos, compõem, de serra em serra,
          Uma, a escala do som; outro, a escala do prisma.
          Nada em torno maldiz a dor. Nada exorcisma.
          Um êxtase infinito a natureza encerra...
          Deslumbra em tudo a vida; em tudo há um peito aberto.
          Ao longe, a luz solar toma uns fugentes de aço...
          Visíveis vibrações ondulam, no ar, de perto.

          Mas nenhum som de voz! Nenhum rumor de passo!
          No Espaço, o Sol... deserta a Terra... o Céu deserto...
          E a paz no Céu... e a paz na Terra... e a paz no
                                                                     Espaço...

                    (Ibidem)

 
          SUPREMO TRAVO

          Esta muda tristeza indefinida,
          Que prematuramente me envelhece,
          Dando-me ao ser a contrição da prece,
          Dando-me à vida a sombra da outra vida;

          Este surdo pesar, que me intimida
          E o ânimo quente, aos poucos, me arrefece,
          Colhendo lágrimas em larga messe,
          Sempre à mesma recôndita ferida

          É a condição da minha essência humana.
          E sente-a, apenas, quem, no curso incerto
          Da existência falaz, nunca se engana;

          Quem não vibra à ventura, que tem perto;
          Quem, no seio de alegre caravana,
          Compreende a sós a mágoa do deserto.

                              (Ibidem)

         
          POÇO                   

                  (A meu irmão Ernesto)

          Guardavas a poesia estranha de uma lenda:
          Diziam-me que, em ti, alguém chorara tanto
          Que te tornara urna eterna desse pranto!
          E eu cria... Nem há dor que um poeta não entenda.

          Era-lhe hábito vir, sob a frondosa tenda
          D´árvore, que te abriga, interrogar-te o encanto.
          Tinhas, mesmo, o esplendor do orvalho sacrossanto,
          Que a alma, no íntimo, estila e, à flor do olhar,
                                                                     desvenda.

          Mas, pouco a pouco, o Sol te foi sugando a vida,
          Que era a tua água e — triste antigamente — agora,
          Mais triste és, na expressão da vida já vivida!

          E quem assim te vê, morrendo, de hora em hora,
          Tão vazio! Porém, cheio de unção sentida,
          Bem vê como nem só com lágrimas se chora.

                                   (Ibidem)

 

 

REZENDE, Edgar.  O Brasil que os poetas cantam.  2ª ed. revista e comentada.  Rio de Janeiro: Livraria Freitas Bastos, 1958.  460 p.  15 x 23 cm. Capa dura.   Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

                DESTINOS OPOSTOS    
   

Caudal ansiosa, Rio Paraíba,
É pelo mar que o teu marulho anseia.
Não há diques a opor-te: vem a cheia
E a tua fôrça indómita os derriba!

 Nesta em que moro solitária riba,
Que a passagem triunfal te sobranceia,
Vai-me a vida, igualmente, a estorvo alheia,
Na conquista do bem, que em sonho liba.

Queres o eterno turbilhão do oceano.
Quero eu a luz sôbre o destino humano.
Aspiras à descida; eu à escalada.
 

 

Anseias pelo mar; eu pela Altura,
Mas, tal no anseio, opostos na ventura,
Rolarás sôbre o mar; eu sôbre o nada!

 

("Astros e Abismos")

 

 

 

FLORESTA VIRGEM

 

 

Floresta secular! Majestoso recinto
Dos mistérios sem fim da Natureza. — Escuta:
Tudo palpita aqui, tudo se estorce em luta;
Pela mudez, porém, tudo parece extinto!

 

Estas árvores sempre em tonto labirinto,
Desde a raiz à rama em que o húmus se transmuta,
Surgem na vibração da sua força bruta,
Avultando ao sabor do ascencional instinto.

 

Floresta... Aos temporais — verde aflição revolta:
Braceja, entre os cipós, que a enlaçam, num apêrto,
Como um polvo de mil tentáculos sedentos!

 

Sofre, assim, condenada a eterno desconcêrto,
Ora envôlta em silêncio, ora em fragor envolta,
Sob os golpes do raio e o repelão dos ventos!


HADAD, Jamil Almansur, org.   História poética do Brasil. Seleção e introdução de  Jamil Almansur Hadad.  Linóleos de Livrio Abramo, Manuel Martins e Claudio         Abramo.  São Paulo: Editorial Letras Brasileiras Ltda, 1943.  443 p. ilus. p&b  “História do Brasil narrada pelos poetas. 

HISTORIA DO BRASIL – POEMAS  

ABOLIÇÃO E REPÚBLICA

Retrato por Joaquim José Insley Pacheco, 1870

Isabel Cristina Leopoldina Augusta Micaela Gabriela Rafaela Gonzaga de Bourbon-Duas Sicílias e Bragança, também conhecida como Princesa Isabel "a Redentora", foi a segunda filha, a primeira menina, do imperador Pedro II do Brasil e sua esposa a imperatriz Teresa Cristina das Duas Sicílias.

 

Á PRINCESA ISABEL

Soberana toucada pela alvura
Ou dos cabelos, ou da estirpe ou da alma;
Pomba cuja asa real a gloria espalma;
— Tão clara — sobre a dor da gente escura.

Conquistastes, banindo a escravatura,
Quase divina, a mais humana palma,
E ao recordá-lo, eis que o Brasil se acalma
Repassando de fé serena e pura.

Perdoai, Senhora, a nossa iniquidade!
Se proscrita viveis entre estrangeiros,
O exílio vos aumenta a majestade.

Se remistes outrora os brasileiros,
Hoje os escravizais pela saudade
Que é de certo o maior dos cativeiros.

       (COLUNA, Imprimerie Lahure – Paris – 1926)

 

*

 

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Página ampliada em outubro de 2021

 

 

 

 Página publicada em agosto de 2015; página ampliada em 2019
           
           


 

 

 
 
 
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