LÚCIO DE MENDONÇA 
                  (1854-1909) 
                    
                  Lúcio Eugênio de Meneses e Vasconcelos  Drummond Furtado de Mendonça (Piraí, 10 de março de 1854 — Rio de Janeiro, 23  de novembro de 1909) foi um advogado, jornalista, magistrado e escritor  brasileiro, idealizador da Academia Brasileira de Letras. 
                  Foi um dos filhos  do casal Salvador Furtado de Mendonça e Amália de Meneses Drummond. Quando  tinha apenas cinco anos seu pai morreu, o que forçou a diáspora dos irmãos, com  um novo casamento da mãe. 
                  Lúcio de Mendonça é  mandado para São Gonçalo do Sapucaí, em Minas Gerais.1 Ali aprendeu a ler  sozinho, sem professores. Em 1871 ingressou na Faculdade de Direito de São  Paulo mas, como tivesse repetido o ano de 1873, só colou grau em 1877. Nesse  tempo experimenta a literatura - por instâncias do irmão Salvador de Mendonça,  diretor do jornal "O Ipiranga". 
                  Na Faculdade é  suspenso por dois anos, por haver participado de um protesto.1 Este período  foi-lhe de suma importância: vai para o Rio de Janeiro onde, junto ao irmão,  trabalha na redação de um jornal republicano, onde conhece diversos escritores  já renomados, dentre os quais Machado de Assis, que brinda-lhe com o prefácio  de seu primeiro livro então lançado: "Névoas Matutinas". 
                  Formando-se, em  1878, volta para São Gonçalo de Sapucaí, onde se casa e ensaia a vida pública  como vereador. Colabora em diversos jornais, realizando intensa campanha  republicana - período em que escreve diversos contos. 
                  Com a Proclamação  da República - que tanto defendera - ocupa diversos cargos públicos até ser  nomeado para o Supremo Tribunal Federal (1895)4. 
                  Continua a escrever  - agora sob pseudônimo - para os jornais. Propõe a fundação da Academia, neste  período. 
                  Nomeado  procurador-geral da República em 7 de janeiro de 1897,5 vê-se forçado a  aposentar-se por estar ficando cego - e a doença finalmente o afastou  completamente da vida social. 
                  Proclamada a República, frequenta  Lúcio de Mendonça a redação da "Revista Brasileira". Ali, junto ao  amigo Machado de Assis e a Joaquim Nabuco - já então consagrados escritores -  revela a ideia de fundar-se a Academia. 
                  Participa das reuniões preparatórias,  da comissão encarregada de elaborar o Regimento Interno e o distintivo e,  depois de sua fundação, de outras comissões. 
                  Ocupou Lúcio de Mendonça a cadeira 11,  cujo patrono é Fagundes Varela. Fonte: wikipedia 
                    
                    
                  
                  Cartão postal:   BILHETE POSTAL.  M. OROSCO &  C. Rua da Quitanda, 38. Rio de Janeiro. Provavelmente impresso em 1905.  
                                   
                                  GALATHÉA 
                           E' uma deusa lendaria, 
           Gelada  perfeição rara, 
           Um  primor de estatuaria, 
           Que  um grego artista assignára. 
                           Para  ser fiel, retrato-a 
           Sem  sentimento; que importa? 
           E'  uma belleza de estatua, 
           Perfeita,  correcta e morta. 
                                     LUCIO  DE MENDONÇA. 
                    
                    
                  
                  REZENDE, Edgar.  O  Brasil que os poetas cantam.  2ª ed. revista e  comentada.  Rio de Janeiro: Livraria  Freitas Bastos, 1958.  460 p.  15 x 23 cm. Capa dura.   Ex. bibl. Antonio Miranda  
                    
                  CASCATA  DO IMBUÍ 
                   
                    
                   Entre dois morros, o Bambuí e o Prata. 
   Fada branca, frenética e selvagem, 
   Salta do leito a esplêndida cascata 
   E arremessa-se, louca, na voragem... 
  Subitamente,  com tigrina graça,  
                  Indo ao  cair, intrépida e casquilha, 
                   Bamboleia, contorce-se e arregaça,  
                  Na anca  de pedra, as rendas da mantilha. 
                  Mas,  alquebrada pelo salto enorme, 
                  Constrangida,  em canal profundo e estreito, 
                  O  fatigado corpo estende e dorme, 
                  Como  Sultana em preguiçoso leito... 
                  De um lado e de outro, a relva, escrava aflita, 
                  O sono  guarda à trêfega menina, 
                  E sôbre o  colo trémulo lhe agita, 
  —Leque sutil.— a gaze de neblina... 
                  Neste  recesso plácido da mata, 
                    Como tão longe tudo mais se sente, 
                    Rolar o esquecimento essa cascata...  
                    Como adormece tão serenamente  
                    Um coração ralado pelas mágoas. 
                    Ah! quem tiver a sepultura, aqui, J 
                    unto ao abismo destas frias águas, 
  —Ó majestoso, ó trágico Imbuí! 
                    
  
                  
                  OLIVEIRA, Alberto de.  Página de ouro da poesia brasileira.  Rio de Janeiro: Livrria Garnier, 1929?   419 p. 11,5x18 cm.  capa dura.   Impresso em Paris por Imp. P. Dupont.   “ Alberto de Oliveira “  Ex. bibl.  Antonio Miranda 
                    
                  (com atualização ortográfica:) 
                    
                  O REBELDE 
                    
                  É um lobo do mar : numa espelunca  
                  Mora, À beira do Oceano, em rocha alpestre; 
                  Ira-se a onda, e, qual tigre silvestre,  
                  De mortos vegetais a praia junca. 
                    
                  E ele, olhando como um velho mestre  
                  O revoltoso que não dorme nunca,  
                  Recurva o dedo, como garra adunca,  
                  Sobre o cachimbo, único amor terrestre. 
                    
                  E então assoma-lhe um sorriso amargo...  
                  É um rebelde também, cérebro largo,  
                  Que odeia os reis e os padres excomunga. 
                    
                  À noite dorme sem rezar: que importa?  
                  Enorme cão fiel, guarda-lhe a porta  
                  O velho mar soturno que resmunga. 
                    
                    
                  O CAVALHEIRO DO LUAR  
                  Estava  Julia, á noite, na janela  
                    Numa noite lindíssima de lua,  
                    Embevecida no amoroso encanto      
                    Que no ambiente magico flutua.       
                  Então,  como num sonho,  
                    Embaixo, pela rua,     
                    Passava estranho moço,  
                    Belo ao clarão da lua. 
                  Era  noite de festa no castelo,  
                    Uma noite lindíssima de lua,  
                    Julia estava com o noivo na janela,  
                    Presas as mãos, a face unida à sua. 
                  Então,  como n'um sonho,  
                    Embaixo, pela rua,  
                    Passava estranho moço,  
                    Triste ao clarão da lua. 
                  Era noite de luto no castelo,  
                  Uma noite lindíssima de lua.  
                  Estava Julia morta no seu leito,  
                  Velava o noivo, na amargura crua. 
                    
                  Então, como num sonho,  
                  Embaixo, pela rua,  
                  Passava estranho moço,  
                  Alvo ao clarão da lua. 
                     
                   
                    
                  FLOR  DE IPÊ 
                    
                  Na clara estação gorgeiada,  
                  Em flor o ipê se desata,  
                  Ó bela árvore dourada!  
                  Ó loura filha da mata!  
                  O tronco, o pai, se revê,  
                  Todo ufano, todo zelos,  
                  Nesses teus áureos cabelos,  
                  Que o sol beija, ó flor de ipê! 
                    
                  As abelhas, joias vivas,  
                  Adereçam-te o toucado; 
                  Diz-te frases expressivas  
                  O sabiá namorado; 
                    
                  De ramo em ramo o tiê  
                  Cai, como gota de sangue; 
                    
                  E a coral se enrosca langue  
                  Nos teus braços, flor de ipê! 
                  Mas, ai! tanta formosura,  
                  Tão festejada e querida,  
                  Pouco tempo vive e dura, 
                    
                  Logo cai a flor sem vida; 
                  E sombrio e nu se vê,  
                  Mudo, trágico, isolado,  
                  Como um pai desamparado,  
                  O velho tronco do ipê. 
                    
                  Na alegre quadra encantada  
                  Dos sonhos e da esperança,  
                  Vestiu-te a ilusão dourada  
                  O coração de criança; 
                  Surgiu-te — meu Deus! porque?  
                  Ante os passos peregrinos  
                  Criança de olhos divinos,  
                  Loura como a flor do ipê, 
                    
                  Sonhos de que te cobriste,  
                  Coração em primavera,  
                  Caíram todos, ai, triste!  
                  Quanta dourada quimera!  
                  Eis-te da sorte á mercê,  
                  Já sem viço, já sem flores...  
                  Aqueles pobres amores  
                  Foram como a flor do ipê! 
                    
                    
                   
NO  TREM DE FERRO 
                     
                      Vinha sentado gravemente, mudo, 
                      D'olhos baixos, obeso e venerando, 
                      Mãos cruzadas no ventre, ruminando 
                      Velhas rezas ou santo e duro estudo. 
   
                      Ergue tímido o olhar, triste; contudo, 
  É paternal e bom; de quando em quando 
                      Ao céu o volve, ao céu que vai passando 
                      Pelas vidraças, empoeirado. Tudo 
   
                      Nele respira a fé e cheira a igreja. 
                      Por todos os seus poros Deus poreja. 
                      Do seu breviário agora passa as folhas. 
   
                      Pio varão! para este já começa 
                      O reino do Senhor!... mas sai à pressa 
                      E cai-lhe da batina — um saca-rolhas! 
                   
                   
                    
                  Lúcio de Mendonça – poesia humorística  – poesia satírica  
                    
                  
                    
                  Extraído de:  
                  TIGRE, Bastos;  SOLDON, Renato.  Musa gaiata (Antologia da Poesia Cômica  Brasileira). Edição completa.  Rio de Janeiro: Editorial Unidade Limitada,  1949.            130  p   [CONSERVANDO A ORTOGRAFIA ORIGINAL]   
                    
                  LÚCIO DE MENDONÇA, magistrado, jornalista e poeta fez parte da  Academia Brasileira de Letras. Nasceu em Piraí, Estado do Rio, em 1854 e  faleceu, em idade provecta nesta capital.  
                    
                  Autor de "Canções do Outono", o poeta também  gostava de fazer epigramas. 
                    
                  A certo plumitivo que se tinha na conta de literato, LÚCIO  DE MENDONÇA dirigiu êstes versos:  
                    
                  ― A natureza tem sanções felizes,  
                    rodeia o mal de penas pouco leves ;  
                    assim, tú tens de ouvir tudo que dizes,  
                  e  tens de ler também tudo o que escreves. 
                    
                  Como se sabe, LÚCIO DE MENDONÇA foi um dos fundadores da  escola "realístico-social", ao lado de Assis Brasil Carvalho Junior, Celso de Magalhães e  outros. Terrivel panfletário em verso, tinha páginas  que, na opinião de Silvio Roméro lembram os "Châtiments" de Víctor Hugo. 
                    
                        Vejamos o seu sonêto "Consórcio  Maldito", feito em plena fase de propaganda republicana:  
                    
                  -  Êle é um rude sujeito honrado e generoso,  
                    forte e trabalador. Ela é toda  franzina; 
                  é  de antiga nobreza; e é de raça felina  
                    o  seu masvioso gesto elétrico e nervoso.   
                                    Jura-lhe amor, e tem-lhe um ódio rancoroso,  
                   sôbre o peito do atleta o régio busto  inclina,  
                   e despoja-o. E êle, o bom. e cego espôso,  
                 
                                   deixa-se despojar, e trabalha, calado.  
                                    Ela com uns podres vis anda de mancebia,  
                  e, fartos, riem dêle, o enorme desgraçado.   
                                   Ela é Messalina, a barregã  sombria,  
                  êle, um trabalhador estúpdo e enganado;  
                                  ― Êle chama-se ― Povo, e ela ― Monarquia.   
                    
                    
                  Página publicada em janeiro de 2008, atualizada em julho de 2015; ampliada em dezembro de 2019. 
                   
                    
                    
                    
                    
 
                  
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