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LÚCIA HELENA GALVÃO
Nascida no Rio de Janeiro reside hoje em Brasília, onde ministra aulas sobre os mais variados temas: ética, sociopolítica, simbologia, história da filosofia, entre outros. Poetisa, já publicou quatro livros, além de produzir artigos e crônicas frequentemente publicadas pela imprensa de todo o país.
Professora e filósofa há 31 anos na Escola Nova Acrópole, além de poetisa.
Profere palestras e conferências.
POEMAS E CANÇÕES HEROICAS MARCIAIS (guerreiras). [edição sem nome do organizador, sem local e nome da editora, nem ano de publicação. Apresentação de Márcio R. 14 x 21 cm. ilus.
Ex. bibl. Antonio Miranda
PADRÃO INFINITO
O artista, em guarda, parece o sopro do vento,
Dharma em movimento, que não poderá ser restrito.
Leveza que assim se desloca, sem força ou atrito.
É luta tornada em beleza em seu coroamento.
É vento, e o destino do vento é não estar prisioneiro...
É vácuo e matéria que ocupa todos os espaços.
E fluxo infinito, impalpável, eficaz, ligeiro,
o artista que serve à Lei e descansa em seus braços.
O artista parece sozinho, exercendo sua arte.
Dual e unitário, mistério em ação é o artista.
Segredo, ele aguça os ouvidos e apura a vista,
que, enfim, se apercebe que o Artista está em toda parte.
GILGAMESH
Repousa o Semideus, o Grandioso Rei, em sua cidade...
Não vê que há limites, pois que é cego ante o que é pequeno.
O que ao Deus é doce, já para o homem, é qual veneno,
pois há que depurar sempre o paladar da humanidade.
Os Deuses o conhecem, e, com piedade, logo interferem,
semeando, na floresta, o que será seu amigo e irmão:
grandioso, mas mortal; do que é mortal, será guardião,
amante da floresta e inimigo dos que a ferem.
As feras dos dois mundos, terra e céu, os dois logo abatem,
são grandes os seus feitos, mas, eis que, um dia, o ciclo encerra,
pois nesta hora a morte lhes proporá um novo combate.
Em comoção geral, o irmão mortal jaz sobre sua terra.
Vencido pela dor, vejo o grande Rei, já prostrado e triste...
Reúne suas armas e se encaminha rumo à Verdade.
Desencantado, enfim, de tudo aquilo que aqui existe,
procura o Imortal, o que atingiu a eternidade.
O vencedor do tempo é um ancião, de terra distante...
Além do mar da morte, abriga o Rei, e o desafia:
desperto, em sete noites, há de saber da arca triunfante,
que cruzou o dilúvio e encontrou sua moradia.
Cansado da jornada, ele adormece e perde a história...
Acorda, condenado à vida e à morte, até que, um dia,
enfim, sobre seu corpo, sobre sua alma e sua memória,
esteja então selada sua completa soberania.
E volta o Rei à terra, já esquecendo sua aventura...
Ei-lo a erguer muralhas, sem se lembrar do que mais importa:
vencer monstros em si, conquistando a posse da alma pura,
e recordar quem c, e guiar seus passos à Eterna Porta.
Página publicada em setembro de 2020
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