LEONARDO MARTINELLI
Leonardo Martinelli nasceu no Rio de Janeiro, em 1971. O poeta e compositor publicou um único livro, a coletânea Dedo no ventilador( Rio de Janeiro: Bem-Te-Vi, 2005), e era membro do conselho editorial da revista Inimigo Rumor há vários anos. Mestre em literatura pela UERJ (escreveu sua tese sobre Julio Cortázar), era professor e pesquisava nos últimos tempos uma poética contemporânea sob o influxo do trabalho de Giorgio Agamben. Alguns de seus textos críticos são referências recentes importantes para o estudo dos autores, como seu ensaio sobre Ferreira Gullar. Fonte da biografia (onde é possível ler outros poemas do autor): http://revistamododeusar.blogspot.com.br/2008/11/leonardo-martinelli-1971-2008.html
NIETZSCHE: MÁSCARA MORTUÁRIA
Um tufo robusto acima
dos lábios, inchando a couraça
do gesso mortuário — os pêlos
teimavam em seguir crescendo,
refluindo ao menor sinal
de vida do nariz à boca
(como parasitas em fuga
das tripas do velho hospedeiro)
— tufo não: tufão
revoada
de pavios castanhos prestes
a acender no meio do rosto
explosão similar à relva
que se alastra em torno da cripta,
ao limo que germina em cada
pedra — errata esquiva da obra
erguida a golpes de martelo.
INIMIGO RUMOR – revista de poesia. Número 7 – AGOSTO DEZEMBRO 1999. Editores: Carlito Azevedo, Augusto Massi.
Rio de Janeiro, RJ: Viveiros de Castro Editora, 1999. 108 p.
ISSN 1415-9767. Ex. bibl. de Antonio Miranda
INFERNO DOS AMANTES
Impiedosamente
pernas e ancas recusam-se ao
moto contínuo — lençóis bocejam —
nenhuma litania à lua exceto
o olhar rasante. kamikaze, sono
trespassado por adagas de luz
Impiedosamente
dígitos febris alteram a senha
enquanto nebulosas se contorcem
sob o filtro ácido das horas
além do horizonte em pó solúvel
onde pisca vermelho um semáforo
Impiedosamente
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Página ampliada e republicada em novembro de 2023
Poema extraído da revista INIMIGO RUMOR, número 16, 1º semestre 2004.
Página publicada em junho de 2015.
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