LAURA ESTEVES
Laura Esteves nasceu e vive no Rio de Janeiro. Pertence ao grupo "Poesia Simplesmente", que realiza o " Festival Carioca de Poesia" e o evento "Terça conVerso no café", no Teatro Gláucio Gill, em Copacabana.
Seu primeiro livro de poemas, "Transgressão", foi editado pela Sette Letras, em 97. O segundo, um romance memorialista lançado em dezembro de 98, "O sabor, o saber e o sonho: a fome secular dos Oliveira", conta a saga de uma família, desde a seca de 1877 até os dias de hoje. "Como água que brota na fonte, poesia", (Editora Barcarola, outubro de 2000) foi seu terceiro livro individual. Em 2005, publicou um livro de contos: "A mulher, a pedra" (Editora Ibis Libris). Em 2006, lançou "Rastros - poemas escolhidos" (Edições Sindicato dos Escritores).
Laura colabora com o Jornal "Rio Letras", é curadora do Fórum Poesia
(UFRJ ) há três anos e foi uma das premiadas do "Concurso Contos do Rio" (2004), do jornal "O Globo".
Os poemas que se seguem, da autoria de Laura Esteves, fazem parte do espetáculo teatral "De Cabral a D. João, passando por Napoleão" (Grupo Poesia Simplesmente).
POESIA DO BRASIL. Vol. 5. Org. Ademir Antonio Bacca. Bento Gonçalves: Proyecto Cultural Sur - Brasil, 2007. 308 p.Ex. bibl. Antonio Miranda.
A nave vai
Outros lugares me chamam.
Eu sou um navegador.
Porém não parto sozinho,
ireis pra sempre comigo, s
e me desta terra eu for.
Deixo o trigo ainda espiga,
busco o sol, busco o calor.
Navego o barco da vida,
mas não viajo sozinho:
eu vos levarei amor.
"Se me desta terra eu for, /Eu vos levarei amor."
(Camões)
Contrabando
Ouro! Ouro! Ouro!
Nos saltos altos dos sapatos,
no tabuleiro da doceira,
nos cabelos da mulata
e no corpete da rameira.
Ouro! Ouro! Ouro!
Nos pobres dentes cariados,
no santinho de pau oco,
em certas "partes" do corpo,
e no altar da igreja barroca.
Ouro! Ouro! Ouro!
Valham-me todos os deuses,
protetores de nossa terra!
Algum, nos cofres portugueses,
Montão, nos bancos da Inglaterra.
Um tesouro, meus senhores!
Um tesouro!
A Inglaterra, que não é boba,
com muito saber e arte,
depois de tanta divisão,
acabou ficando com a melhor parte.
Sem cerimônia
Ah, el rei D.João!
Com todo o respeito, beijo-lhe a mão.
E, sem mais delongas, vamos ao que interessa:
necessito de um emprego!
Um empreguito, não um trabalho.
Algo assim, bem leve, bem frugal.
Condizente com minha posição social.
Meu caríssimo D. João, meu riquinho,
meu reizinho querido, meu doce de coco,
meu toucinho do céu,
por favor, ó pai, não esqueça o meu pedido.
Certo de sua atenção, eu me retiro,
mas como sou um puxa-saco juramentado
e sacramentado,
não posso perder a chance, de mais um beijo na mão.
COLETÂNEA VIAGEM PELA ESCRITA.Vol. VIII - Homenagem ao escritor Tanussi Cardoso. Org. de Jean Carlos Drumond. Volta Redonda, RJ: PoetArt Editora, 2021. 104 p. Apresentações por Jean Carlos Gomes, Álvaro Alves de Freitas, Anderson Braga Horta, Antonio Miranda, Ricardo Vieira Lima, José Eduardo Degrazia, Gilberto Mendonça Teles, Cláudia Brino & Vieira Vivo, Carmen Moreno, Christovam de Chevalier.
Ex. bibl. Antonio Miranda
TRANSGRESSÃO
Quando escrevo, caem todas as barreiras.
Tudo me é permitido.
Desobedeço, violo, infrinjo.
Não consigo falar de flores,
pássaros, encontros, amores.
Coisas singelas que, sem elas,
eu sei, a vida seria sem graça.
Mas, o que querem que eu faça?
Nada de regras!
Falo dos deserdados,
das mulheres massacrada,
pivetes e desgraçados.
Falo da mentir, inveja, traição.
Vou fundo, endemoniada.
Tal qual o mal feito gente,
cravo o punhal... não nos outros,
mas em meu próprio coração.
E vocês ainda não viram nada!
VOO LIVRE
para Lorca
Poeta traz um
color de pássaros na garganta.
Pássaros gorjeiam.
Transformam palavras
em ritmo, música, dança.
Poeta é bicho doido.
Doido de se admirar.
Doido, mas tão doido,
que faz até palavra voar..
O que sai da boca do Poeta
é liberdade, transgressão.
Palavras que bailam
ao sabor do vento,
irreverentes,
sem dono,
de toda gente.
Versos...
de ninguém.
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Página ampliada e republicada em fevereiro de 2022
Página publicada em novembro de 2019
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