JÚLIO SALUSSE
(1878-1948)
Júlio Mário Salusse nasceu em Bom Jardim, RJ, e morreu no Rio de Janeiro. Poeta.
Obras: Necrose Azul (poesia, 1895), Sombras (1896).
TEXTO EN ITALIANO
PORTUGUÊS - FRANÇAIS
Extraído de
MIRAGLIA, Tolentino. Piccola Antologia poetica brasiliana. Versioni. São Paulo: Livraria Nobel, 1955. 164 p. Ex. bibl. Antonio Miranda
CISNES
A vida, manso lago azul algumas
Vezes, algumas vezes mar fremente,
Tem sido para nós constantemente
Um lago azul sem ondas, sem espumas.
Sobre ele, quando, desfazendo as brumas
Matinais, rompe um sol vermelho e quente,
Nós dois vagamos indolentemente,
Como dois cisnes de alvacentas plumas.
Um dia um cisne morrerá, por certo:
Quando chegar esse momento incerto,
No lago, onde talvez a água se tisne,
Que o cisne vivo, cheio de saudade,
Nunca mais cante, nem sozinho nade,
Nem nade nunca ao lado de outro cisne!
SONETO
A minha vida é a planta que as procelas
sacudiram, torcendo-lhe a raiz...
Tive ambições e a mais ardente delas
foi a da glória - e a glória não me quis!
Vi, como sombras, poéticas donzelas,
sombras que se apagaram, como o giz...
Os sonhos meus eram batéis sem velas!
Perdi-os todos. Fui, talvez, feliz!
sempre o destino olhei com tédio e medo,
pois vim ao mundo muito tarde ou cedo...
Rosas plantei e a flor do mal colhi!
Ainda que pudesse, eu não quisera
voltar à mocidade, à primavera
de um tempo que passou, mas não vivi!
SONETO
— Vi passar num corcel a toda a brida,
nuvens de poeira erguendo pela estrada,
um gigante, impassível como o nada,
indiferente a tudo - à morte e à vida!
Tão bela, como a Bela Adormecida,
tinha nos braços uma loura fada:
lindos cabelos de ilusão dourada,
pálidas faces de ilusão perdida..
Assombrado, gritei para o gigante:
— "Quem és tu? Essa deusa é tua amante?"
E o Cavaleiro, o Tempo, respondeu:
— "Eu sou tudo e sou nada nos espaços,
e esta Mulher que levo nos meus braços
é a tua Mocidade que morreu!"
TEXTO EN ITALIANO
CIGNI
La vita, molte volte, azzurro e ameno
Lago ed altre volte un mar fremente
È stata per noi due, costantemente,
Un lago azzurro, plácido, sereno.
Su di esso, quando diradata appieno
La bruma dei mattino, è il sole ardente,
Noi due vaghiamo, indolentemente,
Come due bianchi cigni senza freno.
Un dl morra uno dei cigni. Certo.
Ma, quando arrivi tal momento incerto,
Nei lago, che sara forse nerigno,
II cigno vivo, pieno di ricordi,
Non canti piú, e di nuotar si scordi
Nè nuoti mai accanto ad altro cigno.
FRANÇAIS
Extraído de
FRÓES, Heitor F. Meus poemas dos Outros. Traduções e versões. Bahia, 1952. 312 p. Ex. bibl. Antonio Miranda
LES CYGNES
Trad. Heitor P. Froes
La vie — um grand lac bleu, transparente et paisible,
Des fois um océan orageux, frémissant —
Nous a toujours bercés comme un beau lac dormant,
Sans vagues, sans écume et sans borne visible!
Sur lui, lorsque l abrume, à ses rayons sensible,
S´efface aux premiers feux de l´astre-roi brülant,
Nous erros maintes fois, hereux, nonchalamement...
Comme deux cygnes blancs que glissent impassibles!
Un cygne un jour mourra — faut-il toujours l´admettre;
Et, lors de ce moment, sur le calme linceul,
Sur le beau lac, dont l´onde il troublera peut-être,
Que le cygne vivant aux regrets se resigne,
Et, cessant de chanter, ne nage plus tout seul...
Et ne nage jamais auprès d´um autre cygne!
Página publicada em abril de 2009; ampliada em janeiro de 2016; página ampliada em dezembro de 2017
|