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JULIO CESAR MONTEIRO MARTINS
(1955-2014)
Julio Cesar Monteiro Martins (Niterói, 2 de julho de 1955 – Pisa, 24 de dezembro de 2014) foi um escritor, professor universitário e advogado de direitos humanos brasileiro.[1][2]
Escreveu a sua obra em língua portuguesa entre 1975 e 1994, e de 1998 em diante escreve e publica em italiano. Viveu em Lucca, na Toscana com a esposa e os filhos até sua morte em dezembro de 2014.
Recebeu o título de Honorary Fellow in Writing da Universidade de Iowa (International Writing Program) em 1979. Foi um dos fundadores do Partido Verde brasileiro e do movimento ambientalista Os Verdes.
Foi advogado de direitos humanos no Rio de Janeiro, responsável pela incolumidade física dos meninos de rua que testemunharam no tribunal sobre o massacre da Candelária.
Ensinava língua portuguesa e tradução literária na Universidade de Pisa, na Itália, e dirige o Laboratório de Narração, que é parte do master da Scuola Sagarana, em Pistoia. Foi o diretor da Revista Sagarana.
SAVARY, Olga, org. Carne viva. 1ª antologia brasileira de poemas eróticos. Rio de Janeiro: Editora Anima, 1984, 348 p. 14x21 cm. Capa: ilustração de Sérgio Ferro. Inclui 77 poetas ativos no final do século 20. Col. A.M.
ser dentro
Há o medo
E o não ser
Por toda parte.
Há o ser menos
Na lixa cotidiana.
E há um ser ímpar
Um ser muito
Essência de sentido
O ser dentro.
Dentro do ser
Há o ser tudo
O físico metafísico
O ato de voltar
Para ser inicial.
O orgasmo,
Estado natural,
É a não ânsia,
É nunca ter ficado fora,
É desconhecer o agora,
O outrora
E a circunstância.
o fantasma
O amor assombra
Como fantasma de louco
Na mansão abandonada
Do corpo.
O ranger
De um portão interno
Enferrujado.
O sentimento de barco
No afogado.
Há um abrir de olhos
De cada lado
E um grito surdo
E descontrolado.
Há o espreguiçar as células
A raspa da adolescência.
Há proteína demais
Nessa demência.
O fantasma do amor
É resumo espectral
De sua própria perfeição.
Transfusão
De um sangue incompatível
É soturno
É noturno
É horrível.
Mas não se há de negar
Que o monstro
Tem lá seu requinte.
Conhece veneninhos
Que revitalizam,
Que multiplicam
Por vinte.
Que abrem o peito do amante
Arfante
Para o fuzilamento
Da manhã seguinte.
o espantalho
O amor desencontrado
É uma nota falsa
Com a qual se compra
Um gemido errado
Pelo que se sonha
Pelo outro lado.
O amor tardio
É o anti-repouso.
É perder a veia.
É esfolar no gozo
E suar areia.
É rasgar-se todo
Como um espantalho.
É cheirar a alho.
É pisar em minas.
É beber-se todo
E explodir urina.
O amor mesquinho
É perder-se no banheiro
Aplaudir ruínas
E gozar sozinho.
É buscar nas matas
Um animal marinho.
É roubar do outro
O que não se quer
Essa distância de milhas
Esse sumiço de trilhas
Esse namoro de ilhas
Num oceano qualquer.
Página publicada em junho de 2020
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