JOSÉ PAULO MORElRA DA FONSECA
(1922-2004)
José Paulo Moreira da Fonseca nasceu no Rio de Janeiro em 1922 e faleceu na mesma cidade em 4 de dezembro de 2004.
Em 1945, formou-se em Direito e em 1948 concluiu a Faculdade de Filosofia, mas, afinal, dedicou-se à arte, tornando-se um dos principais poetas de sua geração, com vários livros publicados.
Na década de 50, fez suas primeiras incursões na pintura, como autodidata. Foram experiências isoladas, com grandes lapsos de tempo entre um e outro quadro, até alcançar, afinal, um ritmo regular de produção.
Tendo realizado em 1962 sua primeira individual, desde então já efetuou numerosas mostras, em São Paulo, Rio de Janeiro e Recife, como também em Frankfurt, Lisboa, Londres, Viena, Munique, Bonn, Hamburgo e Nova Iorque. É uma pintura agradável, que apela diretamente ao olho tátil e, através dele, ao sentimento do espectador. Fonte: http://www.pitoresco.com.br/brasil/josepaulo/josepaulo.htm
Publicou: Poesia: Elegia Diurna, 1947; Poesias, 1949; Concerto (in Poemata), 1950; Dois Poemas, 1951; A Tempestade e outros Poemas, 1956; Raízes, 1957; Três Livros, 1958; Seqüência, 1962. Prosa: Breves Memórias de Alexandro Apollonios, 1960; Exposição de Arte, 1966. Teatro: Dido e Enéias, 1953; a Mágico, 1963. Antologia poética (Rio de Janeiro: Leitura, 1968).
Sobre o pintor, ver: http://www.pitoresco.com.br/brasil/josepaulo/josepaulo.htm
TEXTOS EM PORTUGUÊS / TEXTOS EN ESPAÑOL
TEXTS IN ENGLISH
TEXTOS EM ITALIANO
CORAGEM
queixa-te
mas discretamente
há muita aflição na terra
e por vezes se morre exausto de tanto sofrer
não grites a dor
o silêncio dorme inquieto
pelos gemidos
rancores a frieza
é preciso ser vagamente herói
em socorro de ti mesmo e de todo o mundo
vagamente garimpeiro
buscando nas areias da alma
o que ainda seja alegria
alvo diamante
neste rio de limo e cinzas
CENAS DE FEIRA
I
os pássaros
(prodígiio)
os pássaros principiaram a cantar
talvez porque naquele momento cantassem as nuvens
porque era manhã porque havia respingos na verdura
eles principiaram a cantar
e as gaiolas se fizeram em chamas
alegrando o canto
quando todos fugiram transparentes
acesos nos vidros do sol
II
a manga
a manga músculo sensual e jovem
como um dia de verão a sua polpa como os prazeres da carne
nessa hora em que a terra nos abraça o sol nos tinge
sem palavras apenas uma lenta claridade uma resina
um verde uma transparência no corpo
algo de sereno e profundo
deixando não pensar não julgar
não prever
III
o limão
ácido o limão coisa limpa
como flor do mar
ácido quase ferindo por bem
como palavra clara
sem nódoa ou segunda intenção
IV
O mercado dos indigentes
agora quando todas as barracas se desarmam
e tomba o madeirame e há vozerio caminhões manobras
agora eles vêm maltrapilhos e curvados
sobre aquilo que ninguém mais quer:
frutas apodrecidas legumes murchos
lixos cores moscas
um odor azedo e doce morno
vê como correm gritam
lutam por uma coisa que nem olharias
vê os gestos sôfregos a antiga figura a fome
palavra que tuas entranhas pouco dizem
agora quase um remorso um lanho em teu rosto
INDAGAÇAO EXTREMA
em que noite
em que pálido tempo
se perde a luz da juventude?
procura a esfinge
sem disfarces
sem temor algum como se fosses
tão incólume
quanto os mortos
talvez...
***********************************
NOTURNO DE PETRÓPOLIS
Um grilo crepita seu alegre fósforo
invisível acendendo a escuridão da alma,
os mil outros momentos nos quais grilos cantaram
e que longe dormiam entre os vãos do silêncio
agora quase presentes, quase lembrança
mas tão de leve, que nos desenham o próprio esquecimento
como se olhássemos uma janela aberta sobre o jardim noturno
advinhando as rosas na limpidez da brisa.
ELEGIA
Agora que a impaciência do desejo
é lâmpada acesa sobre o teu corpo,
agora que sei decifrar o enigma dos ombros,
os seios de lentas curvas,
agora que és toda flor e vertigem,
não lamento a carência de minhas palavras.
tu me bastas, esquecida sobre a alvura dos lençóis:
um poema sem os enganos, sem o vazio,
um espelho do Mundo
que minhas mãos tocam
hesitantes quase
no receio de perder com a saciedade
tão extrema confidência murmurando-me a cifra da noite.
AS LEMBRANÇAS
Pastoreio minhas lembranças:
triste rebanho à luz da lua.
São fantasmas esses vultos que se movem na escuridão,
esses rumores como um lamento, um socorro.
São seres mortos
e seu hálito de gelo
vai crestando a alma.
A noite é imensa,
povoada de esquecimento e de estrelas.
Quem a desejaria como sua morada?
Que coração encontra no hostil negrume
uma clemência em que repouse o seu bater incessante?
Mas elas estão em torno de mim, as lembranças,
seguem-me se caminho, restam imóveis quando repouso,
são a minha sombra, confundem-se comigo,
e o que hoje vivo
amanhã será apenas mais uma ovelha naquele cortejo perdido.
O ANALFABETO
O analfabeto sabe por ouvir dizer,
escuta e confia:
o mundo é grande demais
e tão pouco se vê em torno.
O analfabeto desenha seu nome
como já conhece de cor
como a marca posta na carne do gado.
NOTURNO
A primeira estrela acende
a única certeza nesta hora pálida
e transparente neste céu sem cor
puro céu
A primeira estrela na alma a Vida
nos contemplando
agora que o traiçoeiro silêncio da tarde
confessou em nossos ouvidos afiados pelo temor
um conciso pressentimento da Morte
USCAR A ROSA
Buscar a rosa no cimo dos penhascos,
a rosa supérflua e essencial,
perdida pelos ventos agrestes,
pelas grimpas sem-fim,
uma rosa dádiva —
e desprezares a morte
sob o céu azul.
MARINHA
A onda que se modela
de outras, infindas,
e já adormecendo no mar.
Perene palpitação,
verde inquietude
no seu laço entre a vida e a morte.
QUIETUDE
Mulher cosendo,
uma toalha que resvala
pelos joelhos.
Mulher inclinada no ofício
e seu olhar agora foge
com os pensamentos,
simples
e que fluem na imobilidade,
na límpida imobilidade,
como a vida o faz.
MORTE MORRIDA
Aqueles que morrem no leito
a morte simples e conhecida do médico
e tão igual e tão profunda
quanto a dos camponeses que Átila dizimou
ou a de César entre as colunas.
Tão igual e tão definitiva
apesar dos lençóis, brancos,
que serão estendidos ao sol.
EM ABRIL DE 1967
O anoitecer tão simples,
um ligeiro ruído de crianças, o vento nas árvores,
instantes iguais aos de uma tarde qualquer
e que para tantos homens como eu
do mesmo sangue e Corpo
são o passo da agonia,
o abismo bruscamente erguido,
como agora quando me lês
- neste momento preciso -
em que muitos estarão morrendo.
LAGOA
Na água longínqua da tarde
montanhas reclinam sua imagem,
tão rijas
e agora ao dispor da mais leve brisa.
Figuras que a luz envolve inquietamente,
que qualquer barqueiro tardio
fere num sulco de angústia.
De
RAIZES
Poemas JOSÉ PAULO MOREIRA DA FONSECA
Desenhos CÂNDIDO PORTINARI
Rio de Janeiro: José Olympio, 1957.
58 p. (Obra rara)
O CARTÓGRAFO
No azul desse mar distante
Porei uma nau feito as que de lá me trouxeram
novas
De serpentes entre as algas
Que à sombra dos mastros igualmente vou -
desenhando
E ainda uma diurna costa com verdes palmas,
Flores rubras, pássaros e lagartos
Que sejam ornamento e nos falem da estranheza.
E porei além, uma póvoa de aborígines
E mais além, porque tudo ignoramos,
Cumpre-me deixar a carta em branco,
Sem palavras nem contornos,
Tâo-só indagação, casta e silenciosa,
Como a do papel em que escrevo.
AZULEJOS
Mar e céu jovens
Como esses dias que nos vêm
De cal ainda viva nos muros,
Não há ruínas para medir o tempo.
INTERIOR DA IGREJA
Enfim pecamos, bem sabemos pecar,
Mas nesta hora em que se evola o incenso
E desde o coro a música nos chega,
Nesta hora, feito aquela em que o sol da tarde,
Extremos e violáceo, tinge
A viela e os degraus em cores da distância,
Confusos como despertando
De um escuro e longo sonho.
OS ESCRAVOS
Em seus rudes corpos
O rubor de mil vexações
Salta na carne lacerada
--- lanhos de uma aflita aurora
Exigindo o fim das sombras.
FONSECA, José Paulo Moreira de. As Sombras O Caminho A Luz. Rio de Janeiro: Léo Christiano Editorial Ltda, 1998. 64 p. 21x21,5 cm. capa dura. Capa: Rubens Faria Santos. ISBN 85-85020-301-8 Col. Bibl. Antonio Miranda
O PERFECCIONISTA
exiges — tua bandeira é exigir —
queres o impossível
és tão meticuloso quanto um cálculo algébrico
e esqueces a beleza do jardim
porque viste duas rosas ressequidas —
negas o esplendor do mar
porque há naufrágios tormentas
porque o lodo escurece as águas profundas
és um perdedor
dia e noite perdes
querias ser um anjo um deus
e não tens coragem de aceitar a vastidão da vida
límpida apesar dos enganos dos ferimentos e da morte
FONSECA, José Paulo Moreira da. Antologia poética. Rio de Janeiro: Editora Leitura, 1968. 183 p. 16x23 cm. Composto e impresso nas oficinas da Empresa O Cruzeiro Ltda. Col. Bibl. Antonio Miranda
O EMBLEMA
Se me pedisses um emblema para nosso amor
eu te diria: vidro.
É com um intenso fogo
que se forja a transparência
e o brilho de um cálice ou de um gral.
O vidro nada esconde e não se polui
nas águas do tempo; o vidro, todo fiel
à presença das flamas.
Talvez confesses que escolhi um exemplo demasiado
[frágil;
mas, acaso, nossa figura mortal
resiste com maior triunfo aos golpes da fortuna?
TEXTOS EN ESPAÑOL
Traducción de Gabino-Alejandro Carriedo
SI PENSARAS LA HISTORIA ...
Si pensaras la historia,
Qué apretado vacío en el silencio,
Todo apartándose,
La sonrisa del niño, el ruído del asedio,
Todo yermo-intangiblemente yermo.
BUSCAR LA ROSA
Buscar la rosa en la cumbre del peñasco,
La rosa superflua y esencial,
Perdida en los vientos agrestes,
En las cumbres sin fin,
Una rosa dádiva —
Y despreciar la muerte
Bajo el cielo azul.
VIENTO NOCTURNO
Viento nocturno, que arrebata y salva la primavera,
Viento de nubes perdidas,
De lejanos yermos. iJubiloso Funeral!
Y Keats y tantos otros, perdurando,
Mágicamente perdurando
Allende el oscuro invierno.
LAS CASAS
Las casas, precisas, tiradas a regla,
Equilibrio en el paisaje, tosca geometría
De triángulos siempre rojizos, de cuadriláteros,
Y yentanas apagando el día en sombra difusa.
Las casas, plantadas entre muros, entre la arboleda,
Sonoras— lejana bruma de gritos —
El lloro de un niño,
Melodía de mujer que humilde lava, lejos, como si ya fuera noche,
Y siéndolo, todas fundidas en la tiniebla,
Solitarias en las puertas, defendiendo una vida,
Mutismo de paredes, yertas al mismo musgo que las cubre,
Inconscientes de horizontes,
En un gesto pasivo de abandono,
Fieles, inagotables, haciendo volver el tiempo
En su ya imprescindible permanencia.
(De Elegia Diurna, Rio, 1947.}
EL CARTÓGRAFO
En el azul de ese mar distante
Pondré una nave como las que de allá me trajeron nuevas
De serpientes entre las algas
Que a la sombra de los mástiles igualmente voy dibujando
E incluso una diurna costa con verdes palmas,
Flores rojas, pájaros y lagartos
Que sean ornamento y nos hablen de lo raro.
Y más allá pondré un poblado de aborígenes
Y aún más allá, porque todo ignoramos,
Cúmpleme dejar la carta en blanco,
Sin palabras ni contornos,
Tan sólo indagación, casta y silenciosa,
Como la del papel en que escribo.
LOS SAURIOS
¿No os dije que había monstruos?
(Y tantos otros ignorados
O que la vista percibió apenas
Bajo las olas crespas y todavía más allá
De aquellas rocas que nos impiden ver.)
Trinquemos la puerta o hagamos un fuego bien vivo.
EL FORTíN
La ciudad, tranquila,
Subsiste en el comercio, las leyes y en el ocio.
No es porque fallen esos muros tenaces
Ni la artillería de seguro alcance
Por lo que en compartimentos y alcobas muchos mueren.
Tal vez mil años todavía vengan
Hasta que ruinas sean ya las losas.
HABLA DE LOS VIRREYES
Vivimos conforme a nuestra condición
A pesar de la vida deshonesta, la gota
Y otras máculas que suelen bastardear
El poder de que fuimos investidos.
De tal modo vivimos, procurando por encima de todo
Conservar intacta y creciente la virtud de la Corona,
Conscientes de que mucha reverencia debida nos es
Porque lo principal en nosotros
No se encuentra en la flaqueza humana
Ni siquiera cuando se mezcla con el solemne oficio de gobernar.
Así nos sostenemos y mantenemos en alta cuenta
Y por justa exigimos la obediencia,
El séquito y todo aquello que recta voluntad
Pusiese y dispusiese, nos sea concedido.
(De Raízes, Rio, 1957.)
LAS CIGARRAS
Siempre vuelven en diciembre
son otras
es otro el verano
entre las ramas que en vano intentan aprisionar la tarde
teñidas de ese rubor de sangre
de antaño de hoy de manaña
cuando nunca oiremos más el canto
agitando el ramaje
y el batir de alas en la sombra del jardín
bajo la traidora calma
que despliega la hora en el mundo exhausto.
EL CABRITO
Poblaste el paisaje griego
guardas un timbre c1ásico algo de conciso
ágil y joven —¿quién lo negaría -basta verte sobre los abismos
miedo ni vértigo
como la vida.
LA LECHUZA
Los ojos apenas
las negras pupilas
ceñidas por vidrio y por oro
una pregunta un grito
que reflejase el vértigo de la noche.
EL BAGRE
Eres casi barro
en la sombra de los ríos.
Cuando te suben a la superficie
palpitas
¿pez o víscera?
Eres casi náusea
en nuestros ojos
que violaran un secreto.
(De Bestiário, in «Três Livros», Rio, 1958.)
LUZ Y TINIEBLAS
Es de noche, estamos entre las sombras
y el ardor de la lámpara,
dos granos de arena en el inmenso mundo; la ventana nos muestra
Sirio, Orión, la Balanza—
poco me importan,
tú eres lo que contemplo, tu luz me aclara
el alma envuelta en tan oscuro manto.
Déjame ver tus ojos,
veré en ellos distancia aún más lejana
que la de aquellos fríos y nocturnos fuegos.
Ven a mis brazos,
he de sentir todo el pálpito de la primavera
como quien toca una flor.
DESPILFARRO
Mañana — tal vez la muerte,
mañana. ¿Por qué no?
¿Por qué, pregunto, desdeñar estos momentos?
El tiempo vive de robos,
nuestro tesoro no está tan seguro
que nos permita el despilfarro de no amar.
EL EMBLEMA
Si me pidieses un emblema para nuestro amor
yo te diría: vidrio.
Es con intenso fuego
como se forja la transparencia
y el brillo de un cáliz o un mortero.
EI vidrio no oculta nada y no se oxida
en las aguas del tiempo; el vidrio, enteramente fiel
ante las llamas.
Tal vez confieses que elegí un ejemplo demasiado frágil;
pero, ¿acaso nuestra mortal figura
resiste con mejor éxito a los golpes de la suerte?
(De O Encontro, in «Três Livros», Rio, 1958.)
Paisaje
Aún no ha descendido la lluvia. Como un leopardo
el mundo nos acecha en esta lívida luz.
Como un leopardo, los montes
y las piedras del edificio, y puertas y ventanas
denuncian la culpa. Invisibles pupilas,
invisible furia. El árbol poseído por el viento
se inclina hacia el suelo en un vértigo de arena y se crispa
a la manera de una mujer defendiendo el lecho violado.
No toquemos tijeras, agujas
o cualquier utensilio de metal. Un pájaro
en su jaula se debatía entre los pequeños alambres.
Jamás atribuyas tu sobresalto
a esta hoja de zinc desenfrenadamente
arrastrada por las calles.
ni al estallido de las vidrieras.
El tren que pasa por las campiñas en la noche,
la despedida en el muelle, la mesa rodante que lleva
al adormecido a la sala de cirugía,
los telefonazos de madrugada,
estos árboles convulsos —no les atribuyas tu sobresalto.
Difícil es oír la radio, lo impide la estática.
Los bichos de la casa buscan nuestra convivencia
se recuestan en la concavidad de algún mueble.
Si le damos al perro el juguete acostumbrado
no lo verá, sus ojos fijos en la imperceptible distancia.
Una joven procura abrigarse,
otra amamanta al hijo,
y más allá, el canal de aguas muertas,
un caserío silencioso, el follaje amedrentado.
¿Qué intenta guardar este pastor o barquero
de manto morado?
¿Qué intenta guardar Giorgione de Castelfranco?
¿Qué vale guardar? ¿Qué nos importa guardar?
¿Qué nos importa?
El ruido es de silbidos y bocinas, en breve
escucharemos la lluvia,
su ríspido timbre sobre los tejados;
en breve el arreo de los ríos ha de correr fangoso.
No es eso lo que temes, las nubes de fuego
se desvanecerán en el éter, la postrer ráfaga
casi tranquilamente será sorbida por el sordo boyero.
Luz y tinieblas
Es de noche, estamos entre las sombras
y el ardor de la lámpara,
dos granos de arena en el inmenso mundo;
la ventana nos muestra
a Sirius, Orión, Libra.
Poco me importan,
es a ti. a quien contemplo, tu luz me aclara
el alma envuelta en oscuro manto.
Déjame ver tus ojos,
que la de aquellos fríos y nocturnos fuegos
en ellos encontraré la distancia aún más lejana
Ven a mis brazos,
he de sentir todo el latir de la primavera
como quien tocase una flor.
Al mar
En todo tu cuerpo no hay una cicatriz,
rehaces a cada momento lo que devastó el tiempo,
eres una risa inmensa contra el tiempo,
enséñame tu secreto,
tu vértigo...
Embriágame
en tu oscuro vino salino,
yo que me quiero lúcido no para las cosas muertas:
apenas descifrar un poco la vida, su infinito curso
que me inunda el ser, que me transborda, y me pierde,
tú, que te sabes perder en el peñasco, en la amurada,
en las arenas insaciablemente...
[Traducciones de Helio Orovio]
Arquitrave Nº 61 Octubre-Diciembre 2015
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TEXTS IN ENGLISH
Translations: Richard Spock
From
CORES E PALAVRAS. 2 ed.
A TRAVELER´S LOGBOOK
Rio de Janeiro: Léo Christiano Editorial, 1983
COURAGE
complain if you must
but softly
there is much affliction on earth
people sometimes weary and die from suffering so
don´t cry out your pain
silence sleeps uneasily
aware of the groans
rancor indifference
you´ve got to be something of a hero
aiding yourself and all others tôo
something of a miner
panning the sands of the soul
for what may still be joy
pure diamond
in this stream of slime and ashes
SCENES OF THE STREET MARKET
I
the birds
(strange vision)
rhe birds began to sing
perhaps because the clouds also sang at that moment
because it was mornin because drops of water glistened on the vegetables
they bagan to sing
and the cages were consumed in flames
brightening the song
then they all took wing transparent
aglow in the glass of the Sun
II
the mango
the mango young and sensual muscle
like a summer day its pulp like the pleasures of the flesh
at the moment when the earth embraces us the sun tinges us
wordlessly just a slow dawing a resin
a Green a corporal transparency
something serene and profound
freeing us from thinking judging
foreseeing
III
the lime
bitter the lime purê thing
like a flower of the sea
bitter almost wounding for our good
like a clear Word
without blemish or second intention
IV
the beggars´ market
now as the stands are being dimantled
and their wooden parts fall to the ground
and there is shouting trucks maneuvers
now they come ragged and hunched
over what others have scorned:
rotten fruit wilted greens
garbage colors flies
a bittersweet stench tepid
see how they run shout and clamor
argue over things you wouldn´t even look at
see their greedy gestures the ancient figure hunger
a word your viscera seldon utter
now almost a remorse a whipburn on your face
EXTREME QUESTION
on what night
in what pale time
is the light of youth lost?
ask the aphnix
but undisguised
with no fear as if you were
as untouchable
as the dead
perhaps...
FONSECA, José Paulo Moreira da. José Paulo PORTFOLIO. Rio de Janeiro: Leo Christiano Editorial, 1984. Album de 46x61,5 cm. com 10 estampas e 10 textos-poemas , um “Jornal” com resumo biográfico do poeta-pintor. Tradução de Richard Spock. Layout e montagem de Rubem Faria Santos. Impressão Grafiarte sobre papel couchê, 180 gr Suzano Feiffer e “vergê” 180 gr Simão nos textos. Ao final, folha com a “Fortuna Crítica”. Folhas soltas em caixa de papelão revestida de tecido. Col. Bibl Antonio Miranda (EE)
II
PORTAS, ESCADAS E AZULEJOS
A porta — imagem de significados contraditórios e
nesta polivalência, válido emblema da vida.
A porta fechada:
segurança, mas, talvez, cárcere:
Aberta: liberdade ou perigo.
Porém um fato é fato, sem as portas as casas não
seriam casas.
E as portas da alma?
Quando seremos carcereiros?
Quando sábios?
Quando temerários?
DOORS, STEPS AND TILES
The door — image of contradictory meanings and in
this polyvance, valid emblem of life.
The closed door?
security, but perhaps, jail.
Open: freedom or danger.
But a fact is a fact — without doors house would
not be houses.
And the doors of the soul?
When will be jailers?
When wise men?
When temerarious?
V
A PONTE E A NEBLINA
Eis-me diante de duas formas que se opõem: o seguro
trânsito sobre o vazio e o triunfo das dúvidas.
E na vida de
todos nós há a hora da ponte, da ultrapassagem na certeza,
e o momento das indagações.
O sim e o talvez.
Uma palavra paira
sobre a paisagem: liberdade.
De fato, as estrelas não duvidam,
porém não escolhem, cumprem um teorema no espaço; mas nós
caniços pensantes hesitamos e podemos, por vezes, decidir
o nosso destino.
THE BRIDGE AND THE FOG
Here I stand before two opposing forms: safe transit
over the void and the triumph of doubts.
And in the life
of each of us there is the hour of the bridge, the traversing
in certainty, and the moment of questioning.
The yes and the perhaps.
A word hovers over
the landscape: liberty.
Indeed, the stars do not doubt, but
neither do they choose. They fulfill a theorem in space,
while we roseaux pensants hesitate and can, at times,
decide our destiny.
TEXTOS EM ITALIANO
Textos extraídos de:
CHIOCCHIO, Anton Angelo. Poesia post-modernista in Brasile. Roma: dell´Arco, s.d. 40 p. ilus. 12x17,5 cm. “ Anton Angelo Chiocchio “ Ex. bibl. Antonio Miranda
INTERNO
È tranquilla la casa. La nostra memoria conferma
gli oggetti
Nei luoghi di sempre: questo tavolo, quel como
col lume di bronzo,
II posacenere azzurro, le miti tendine.
ITimprovviso c'è qualcuno che muore.
E le stesse cose ci appaiono sconosciute,
Senza più alcuna risposta. Se le guardassimo
sarebbe come fissare il vuoto.
IL GALLO
Prima che l'aurora rosseggi
II tuo canto vermiglio s'erge in fiamme
Ferendo il paesaggio notturno, ma tanto frenetico
e rude,
Che si direbbe tutto perduto. Ma tu lo ripeti
E un nuovo canto da lontano ci rammenta
l'immensità delle ombre.
SERA
II tempo per un momento rivela
la sua agonia silenziosa.
E inquieto sento
tutta la sconsolatezza
di quelle forme che affondano nell'ombra,
di quelle onde increspate
che raccolgono una luce
già fredda.
Página publicada em maio de 2014; página ampliada e republicada em dezembro de 2014. Ampliada em setembro de 2019.
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