J O S É C A Ó
De
José Caó
POESIAS
Ilustrações de FAYGA OSTROWER
Rio de Janeiro: Editora A Noite, 1951
151 p. ilus.
A NAU SEM RUMO
έ hora das verbenas. Ressuscita
A vela desgarrada em mar de cinza.
A memória estremece e recomeça
Onde o canto do galo arrefeceu.
Antenas sôbre o abismo. A nau perdida
Acompanha o luzeiro eqüidistante
Entre o limbo convulso e a salvação.
Anêmonas, girândolas, bandolins,
Soam trompas guerreiras e o horizonte
É um espelho convexo inclemente
A refletir o tempo recomposto.
Mas não quero essa rota disfarçada
Que leva ao mesmo ponto de partida.
Quero o presságio soprando nos velames
E o turbilhão dos tempos imaturos.
HOMEM
Onde as palavras vão dar?
São caminhos de ir ?
Caminhos de chegar ?
E eu, sou ponte ou viandante ?
E a luz, lá distante,
É luz de horizonte ?
Trago em minha alimária
Três ou quatro cargas preciosas. Não mais.
Mas, e este trânsito ? Esta Corrente ?
Êste rumor de rio subterrâneo ?
E o labirinto ?
Quero voar, partir, alcandorar-me.
Procuro as asas, não as encontro.
Perdi-as. Sou mamífero.
O ÚLTIMO POEMA
São meus poemas tentativas frustras
Para dizer o que não disse ainda
E certamente não direi jamais.
Porque,
Em primeiro lugar,
Seria preciso te encontrar,
Ó amor ideal que vai fugindo,
À proporção que de amores vou nutrindo
A ânsia de te amar.
E, depois,
Bem sei que não pararei nesta corrida
E nem alcançarei a ponta da espiral.
Morrerá na garganta,
Cantando a glória do
Inacontecido amor,
O poema final.
Página publicada em julho de 2010
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