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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Fonte: http://www.mallarmargens.com/

JOSÉ ANTÔNIO CAVALCANTI

Carioca. Poeta, contista e ensaísta. Professor do Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro. Mestrado em Ciência da Literatura (UFRJ) sobre a poesia de Cacaso. Doutorado na mesma área e instituição sobre as narrativas de Hilda Hilst, tese transformada no livro Palavra desmedida: a prosa ficcionala de Hilda Hilst, sendo publicado pela Annablume.

CAVALCANTI, José Antônio.  Anarquipélago. Rio de Janeiro: Ibis Libris, 2013.  130 p. 14x21 cm.  Capa, projeto gráfico e diagramação: Bruno Pimentel Francisco.   ISBN 978-85-7823-162-0  “ José Antônio Cavalcanti “  Ex. bibl. Antonio Miranda

Mais do que uma surpresa, foi um susto a leitura do “Anarquipélago” de José Antônio Cavalcanti. Metalinguagem pura, contaminando vida e literatura, mundo recriado ou inventado. “E se todo caminho for (clan)destino?” Desatino. Celebro o poeta e compartilho seus (ad)versos com nossos leitores: “A escrita / um corpo/ quase,/ devassa,/ devastação.”
ANTONIO MIRANDA

 

 

TEXTOS EM PORTUGUÊS   -   TEXTO EM PORTUGUÊS

 

ANARQUIPÉLAGO

Submersas e móveis
ilhas isoladas
sob um sol submarino
no solstício de dezembro.

Não há caravelas
nem argonautas,
apenas náufragos
em águas estrangeiras.

Loucas e líquidas latitudes,
mil mares inavegáveis.

Cinco ilhas livres:
entre elas, no fundo indizível,
vive,
no mar de fuligem, Le Bateau Ivre.

Guarda (contrabando na carga)
palavras como âncoras corroídas,
ossos e um mundo fora de prumo.
O velame de velcro avisa
a vagabundos visionários e intempestivos
que só se navega de verdade
verticalmente.

Ilhas em fuga
afundam a teoria dos conjuntos,
a falácia dos mapas,
o sentido da história,
os gozos memoráveis.

Tantos portos,
tantas palavras
e nenhum destino.

E se todo caminho for (clan)destino?

 

NA COLA DO POEMA

A poucos passos
da descoberta,
a palavra
murcha
no canto da boca.

Sílabas
na saliva,
sal na língua
suja.

A escrita
um corpo quase,
devassa,
devastação.

Gastei minha sombra
à procura,
virei exumador de cadáveres,
vermes,
vocábulos.

Pelos versos
sempre escapa o poema
ralo afora,
bueiro,
lapso,
no colo de uma vírgula nefasta.

Provo Nicanor Parra,
me valho de Vallejo,
malho Mallarmé em sintaxe exataa,
acendo Drummond
na madrugada morta.

Heresia ou hermenêutica,
nada do poema,
nadinha.

Nunca o poema,
somente abalos sísmicos
espalham na pele das palavras
sombra e susto
de inominada passagem.

 

SOPRO

Cansado de andar
de ônibus,
de trem
e de metrô,
agora só ando
de nuvem
ou de flor.

        
         SONETO DO ENFORCADO
        
        
(acusação)

         Coloquemos a corda no pescoço,
         quebremos logo a empáfia e os ossos
         desse vil vagabundo inveterado;
         num único poema mil pecados,
         temas sujos, rimas desarrumadas
         em decassílabos rasos, covardes,
         n acordes do caos na cidade.

         (defesa)

         Preguem-me por tantos desregramentos
         entre grafia, garrafa e gafieira,
         cresci fora da área de controle,
         dei rasteira em Herodes, mijei em Nero,
         atirei em Hitler, bebi alambiques,
         comi quem quis. Posso bater no peito
         e gritar bem alto: morro feliz.

        

        

 

TEXTO EN ESPAÑOL

         POESIA
        
         Los poemas perdieron sus palavras.
         Han caído, como dientes cariados,
         en agujeros negros,
         sórdidas rutinas,
         fallas tectónicas.

         Las palavras murieron ahogadas,
         en dosis letales de sonoridad,
         se han convertido en fantasmas en el aire,
         aves volatizadas,
         despedazadas sílabras muertas.

         El poeta es mímico y malabarista de lenguas
         que ya nadie puede escuchar.

         El arte se volvió en álgebra invisible
         en estos días de solombra.
         No hay más invención ni proyecto;
         sonríe la estética de la mídia
         sob el cielo de acetato.

         El tempo fue expurgado
         de cualquier temporalidade,
         y alguien há hurtado lo real
         y sus márgenes de sueños:
         nadamos en charcos de lama y plástico
         en la ciudad sin metáforas.

         Quizás ahora, que no hay más poemas,
         podamos escribir un poema imposible.



 Página publicada em março de 2015

        


 

 

 
 
 
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