Home
Sobre Antonio Miranda
Currículo Lattes
Grupo Renovación
Cuatro Tablas
Terra Brasilis
Em Destaque
Textos en Español
Xulio Formoso
Livro de Visitas
Colaboradores
Links Temáticos
Indique esta página
Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 




JORGE SÁ EARP

Nasceu no Rio de Janeiro (RJ), em 25 de junho de 1955. Estudou Letras na PUC/RJ. É diplomata e morou na Polônia, Holanda, Gabão, Bélgica, Romênia e Equador. Encontra-se atualmente na Costa Rica. Recebeu o Prêmio Nestlé de Literatura em 1985 pelo romance Ponto de Fuga. 

... Jorge de Sá Earp revela-se um poeta denso, com estilo pessoal: seus versos são fluídos, quase prosa, e mergulha nos limites da condição humana, nas mudanças que o tempo provoca nas paisagens da alma (que é quando seus poemas atingem uma dimensão mais metafísica), além de registrar todo o peso da solidão urbana no mundo contemporâneo.
Mário Margutti 

Bibliografia: Feixe de Lenha, poesia, prefácio de Antonio Carlos Villaça, edição do autor, 1980; No Caminho do Vento, contos, prefácio de Adonias Filho, Editora Alfa-Ômega/INL, 1983; O Ninho, romance, Achiamé Edições, 1986; Sudoeste, romance, Achiamé Edições, 1991; Passagem Secreta, poesia, Editora Taurus, 1993; Ponto de Fuga, romance, Editora Paz e Terra,  VI Prêmio Nestlé de Literatura, 1995; O Cavalo Marinho, contos, Editora 7 Letras, 1997; O Jogo dos Gatos Pardos, romance, Editora Eldorado, 2001; A Cidade e as Cinzas, romance, Editora Razão Cultural, 2002; Areias pretas, contos, Editora &Letras, 2004; O Olmo e a Palmeira, romance, 2006. 

Página construída por Salomão Sousa, publicada em agosto 2007.

NOTURNO Nº 1

 

Não sei se consigo acumular desertos.

Não sei me situar sem bússolas.

Ignoro o por que do peso do tempo.

Ignoro a aflição desse podar inútil.

 

Quando imersos estamos na noite funda,

quando o ruído dos automóveis

é um giz zunindo no quadro-negro,

ou unhas cravando-se em seda,

ou dentes raspando cascas de tomate,

 

não sei ser a tela do meu próprio filme.

 

Impossível sentar na sala escura

e esperar.

Os instantes passam sorrateiros

de um canto a outro

e pensamos que são ratos corroendo estofo.

 

Por que então lanço perguntas

se elas me traem

como pontas de lápis se partindo?

 

Com este texto queria te alcançar.

Mas ele adere como cola sobre a mesa.

Tanta tinta amarrada.

Tanta tinta amarfanhada.

Só sei acumular desertos

e preservá-los como ouro e inseto.

 

Ruas do centro aos domingos,

estátuas,

pombos esvoaçando,

relógio da Mesbla que se perde na presteza das horas.

 

Noite que constrói castelos

para o dia os fazer ruir.

Mas dos escombros escapam pássaros.

Cantam o augúrio lastimoso

só percebido

pelos cegos peregrinos

cantadores de cordel e viola,

que perpassam por caminhos que procuro.

 

 

NOTURNO Nº 2

 

Quantas noites me recobrem

e se alargam diante dos meus olhos

e engolem meu espírito em fluxo,

como a rua na hora do rush,

que se estilhaça em luzes vermelhas

num escurecer contínuo

e se inscreve em letreiros picantes,

que lutam contra o espesso breu do céu?

 

Quantas noites me recobrem

e — apesar do medo — me atraem

e se digo: espera! se aproximam como ondas mansas

de um lago escuro?

São trajetórias perdidas, pássaros que migram,

retornam à origem ou anseia pelo fim,

são épocas e eras que sussurram

e nunca, nunca me acenam adeus;

me pressionam urgindo

                   e farfalham:

                            folhas pisadas sob a chuva.

Em tudo há alguém que espreita.

 

Que noite me antecede e me busca?

 

 

PANCETTI

 

A mim foi vedado olhar teu rosto

de próprio punho pintado:

à face que se estuda ao espelho

permite-se entrever uma nesga

 

Do espírito que voga sem saber.

Nesga azul decerto:

o espírito que contempla

o mar nada mais traz senão

 

Azul. E nesse azul te entorpecias,

como se dele, só dele, vibrasse o canto

que te ameaça, Navegante.

 

Por isso o puseste mudo.

Mas esse azul, essa areia e esse barco pousado

nos conduzem mais longe do que pensavas.

 

 

BUSCA

 

Onde foram parar teus gestos, teus sinais?

Onde foram parar tuas espáduas,

                   teus braços,

                   teu rosto que

se busco esboço

chamuscando no espaço

— triturada mariposa —

os traços que se foram e perdi, mas

onde foram parar nossos fracassos mútuos,

                   nossas frágeis tentativas,

                   nossos ágeis desenhos corporais,

que ainda reclamo

e se grito

— trovoada em céu seco —

enrouqueço e espero o eco surdo?

 

Onde foram parar meus delírios

                   que não sabem mais te inventar?

 

 

N. Y. REVISITED

 

Em cada esquina tem

uma mulher de vermelho

acenando para um yellow cab.

 

Em cada esquina tem

um yellow cab

parando para uma mulher de vermelho.

 

Em cada esquina tem

uma mulher de vapor

acenando para um yellow cab de vidro.

 

Em cada esquina tem

um yellow cab de vapor

parando para uma mulher de vidro.

 

Em cada esquina tem

um vapor de mulher

acenando para um yellow cab de vidro.

 

Em cada esquina tem

um vidro de yellow cab

parando para uma mulher de vapor.

 

Em cada esquina tem

um vapor de vidro

acenando para uma mulher de vermelho.

 

Em cada esquina tem

um vidro de vapor

parando para um yellow cab.

 

(E o violino aveluda

o interior do táxi).

 

 

Página atualizada em junho de 2010.


Voltar para a  página do Rio de Janeiro Voltar ao topo da página

 

 

 
 
 
Home Poetas de A a Z Indique este site Sobre A. Miranda Contato
counter create hit
Envie mensagem a webmaster@antoniomiranda.com.br sobre este site da Web.
Copyright © 2004 Antonio Miranda
 
Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Home Contato Página de música Click aqui para pesquisar