JORGE MAUTNER
Henrique George Mautner, o Jorge Mautner, nasceu na cidade do Rio de Janeiro, no dia 17 de Janeiro de 1941. Filho de pai judeu vienense e mãe iuguslava, que fugiam do holocausto.
Poeta, músico, cantor e compositor. Autor de muitos plaquetes e livros publicados desde 1962, ano em que lançou “Deus da chuva e da Morte”, seguido de “Kaos” (1963) e muitos outros, muitos dos textos usados em suas célebres composições, sucessos gravados por vários nomes da MPB, entre eles: ("O Vampiro" com Caetano Veloso); ("Maracatu Atômico" com Gilberto Gil); ("Filho Predileto de Xangô" com Celson Sim); ("Lágrimas Negras" com Gal Costa); ("Samba dos Animas" com Lulu Santos); ("Rock Comendo Cereja" e "Samba Jambo" com Jongê); ("Orquídia Negra" com Zé Ramalho).
De
POESIAS DE AMOR E DE MORTE
e/ou
CANTOS DO CAMPO DE CONCENTRAÇÃO
DO HORROR E DA PAIXÃO ZR 4538 m.
Com um só prisioneiro à espera da libertação
pelas tropas aladas de arcanjos e anjos aliados
São Paulo: Edição do Autor a carga de Massao Ohno –
Roswitha Kempf Editores, 1981
CANTO III
Sinfonia ligeira
Não chega ao fim
Queira ou não queira
Eu sou é assim
Te dei meu corpo
Te dei minha pele
Mesmo depois de morto
Esta força me impele
Força dos grandes destinos
Que estão muito além
Dos hinos e dos sinos
E do aum e/ou do om e do amém
Mas te amo, te amo, te amo
Como nunca se amou na Terra
Nem no Brasil, no Vietnã ou no oceano
Nem na China nem na Inglaterra
Monstro dourado
De amor e dengue
Sou eternamente gamado
Nestes quadris que dançam merengue
Fico feliz
Quando tu chegas
És a matriz
Das minhas horas mais negras
De onde tu vens?
De onde? De onde?
Será que tu é quem tens
O ouro do conde?
Falo bobagem
Começo a ser fragmento
A grande chantagem
É a morte a todo momento
— MOVIMENTO UNIVERSALISTA DO KAOS —
O partido do Kaos com k
É o mais querido
O que é que há?
É Kaos com k. K. K! Colorido e destemido
Vai nascer
E já nasceu
Vai ser o ser
Do ABC do plá do Anjo e do Zebedeu
Vai brotar das águas
Como Vênus-Afrodife
Ou lemanjá e lavar as mágoas
De quem como eu é como o povo e como a elite
Estamos iniciando
O movimento que tal, em paz
Amamos e estamos amando
Todo o tempo do tempo e o mal, aliás, jaz no jamais
E no espaço e no vento
Nos ciclones e vendavais
Eu sou o aço do abraço e o documento
Dos nomes e fomes e se és dos homens e lobisomens e dos
[etcétera é tais
Movimento Universalista
Do Kaos com k
É o envolvimento no universo sensualista
Do Tao e do som de eon do balafon do elétron
[ bom e do plá do plá
É como a canção
Do Jackson do Pandeiro
É o Rei Momo e o não da emoção
O dõ do kendô do Aikido do amor de Xangô e do
[ verdadeiro brasileiro
Universal
E nacionalista de um neo-nacionalismo
Tolerante e democrático social-existencial-global- sensual
E futurista-realista-surrealista de um mel de humanismo
Mistura fina
De cultura pagã
E aventura-doçura-procura latina
De cura e de anti-linha dura de qualquer ditadura sã e super saudável
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De ANTOLOGIA POÉTICA DA GERAÇÃO 60. ÁLVARO ALVES DE FARIA; CARLOS FELIPE MOISÉS, organizadores. São Paulo: Nankin Editorial/ Instituto Moreira Salles, 2000.
Perfuro o ventre da escuridão
Perfuro o ventre da escuridão
onde as coisas se escondem
porque estão cheias de sim e de não e de confusão
e quando pergunto sobre qualquer assunto nunca
respondem
São como coisas presas ao labirinto
com algemas nos pulsos e tudo
são cinco pras cinco e eu já me sinto
dentro do seu não e de um caixão de veludo
Toca teu samba, toca
e tortura meu ser com prazer de ser
a tortura como aquela coisa que nos choca
onde a alegria me enganava se dizendo a alegria de não ter
Não ter o quê?
Ora, tá na cara
não ter é não ter você
seja com grilo ou seja odara
Luas de prata conseguem
fazer com que lentamente
as sensações das emoções naveguem
e invadam como as fadas minha mente
Doem-me todas as cicatrizes
e sinto as rugas das verrugas
Sei que és como atores e atrizes
e que sempre atacas quem te quer por em fugas
Tocas então mil serenatas
e antigas cantigas e rondós
depois mijas no chão como os cães vira-latas
e ficas falando de ti quando estamos a sós
É por isso que sinto todos estes e aquelas
dores incolores e na garganta estes nós
Nem as cores de óleos, hologramas ou aquarelas
poderiam expressar tão bem estes meus ós, ós, ós!
RASEC, César Jorge Mautner. em movimento. Salvador, BA: Edição do autor, 2004. 408 p. ilus. 16x23 cm. ISBN 85-904410-1-6 Inclui depoimentos de Gilberto Gil, Caetano Veloso, Capinan, Rogério Duarte, Maria Bethânia, Galvão, Waly Salomão, Nelson Jacobina, Luiz Carlos Maciel,, Dulce Maia, Luiz Caldas, Roberto Sant´Ana, Antonio Adolfo, Paulo Bomfim, Jary Cardoso, Aguilar e Fausto Nilo. Inclui um CD, incluindo 1, KÁOS com Luz Caldas, e CORDEL DIONISÍACO, com Ble-Bule, Bira Paim e Missinho. “ César Rasec “ Ex. Bibl. Antonio Miranda
Letras de músicas:
SAPO CURURU
(Jorge Mautner)
Esse sapo cururu
No andar de bicicleta
Mas ele anda dizendo
Que a lua é careca
Se a lua fosse careca
Ela usava cabeleira
Ah, como é bonita
A bandeira brasileira.
“PLANETA DOS MACACOS”
(Jorge Mautner e Jards Macalé)
Vem comer essa banana
Que é uma refeição de fato
Meu bem, te dou o melhor naco
Vem vestida de baiana
Ou boneca doidivanas, neném
No planeta dos macacos
Vem cá, boneca minha
Ser a única rainha
Nessa selava de batuque
Onde o palhaço dança, pula com o duque
Fantasiados de animais
Somos todos iguais nestes carnavais.,
GINGA DA MANDINGA
(Jorge Mautner – Rodolfo Grani J.)
Olha só que dengue
Que eu faço aqui para você nesse merengue
Olha que ginga
Que eu pingo aqui para você só de mandinga
Olha só que tombo
Que você leva sambando aqui no quilombo
Olha só que banda
Que toca assim pra saudar quem vem da aruanda
Tem estrelas no céu
Tem estrelas no mar
Tem uma estrela sozinha
No fundo do seu olhar
São tudo lantejoulas
Que a note vem usar
Em cima do terreiro
Onde você vem sambar
Usando aquela fantasia
Que tem a cor do meio-dia
E tem o sol de pedraria
Só pra me ofuscar!
MAUTNER, Jorge. Kaos total. Org. João PauloReys e Maria Borba: seleção dos fragmentos Natasha Felizi. São Paulo: Companhia das Letras, 2016. 414 p. ilus. col. 14x21 cmm. ISBN 978-85359-2873-6 “Jorge Mautner” Ex. bibl. Antonio Miranda
Ao seguir aquele vulto
que percorria o labirinto
descobri que era eu mesmo oculto
dentro das coisas que sinto
Maracatu atômico
Atrás do arranha-céu tem o céu, tem o céu,
e depois tem outro céu sem estrelas.
Em cima do guarda-chuva tem a chuva, tem a chuva
que tem gotas tão lindas que até dá vontade de comê-las.
No meio da couve-flor tem a flor, tem a flor
que além de ser uma flor tem sabor.
Dentro do porta-luva tem a luva, tem a luva
que alguém de unhas negras e tão afiadas
se esqueceu de pôr.
No fundo do para-raio tem o raio, tem o raio
que caiu da nuvem negra do temporal.
Todo quadro-negro é todo negro, é todo negro,
e eu escrevo o seu nome nele só pra demonstrar
o meu apego.
O bico do beija-flor beija a flor, beija a flor
e toda a fauna, flora, grita de amor.
Quem segura o porta-estandarte tem arte, tem arte
e aqui passa com raça, eletrônico, o maracatu atômico!
Musicada por Nelson Jacobina
Video no Youtube: MARACATU ATÔMICO:
https://www.youtube.com/watch?v=0ocevnfp0vU
BRAZILIAN POETRY 1950-1980. Edited by Emanuel Brasil and William Jay Smith. Middletown, Connecticut: Wesleyan University Press, 1983. 187 p. Ex. bibl. Antonio Miranda
Dionysus in Brazil
The future is a bird that arrives already tired from
being an airplane. It is humanity crystalized in an
immortal pill. It is the future of Brazil, so talked of and so
certain. It is the sensation that Brazil produces of a
constant going to be, going to happen, a mental vertigo a
drunkenness. An abyss of delights.
What Europe ca possess this? What Asia? Not even
Africa, with the weight of its darkness and its pharacohs
behind it. We arae the innocent children of old assassins and
our childish murmur is the samba.
Carnival is our earthquake.
Dionysus was packed up in Greece and shipped
her. where the married an Indian and turned into one.
Dionysus had a little daughter with whom he used to
stroll under the shadows of the gigantic trees of Amazonia.
Collected orchids for her and sang sad songs.
Translated by Romney Meyran
*
SEE and READ other Brazilian poets in English here:
http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_ingles/brazilian_poetry_index.html
Página ampliada em outubro de 2021
Página publicada em janeiro de 2009; republicada em setembro de 2009; ampliada em outubro de 2015. Ampliada em maio de 2016.
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