Home
Sobre Antonio Miranda
Currículo Lattes
Grupo Renovación
Cuatro Tablas
Terra Brasilis
Em Destaque
Textos en Español
Xulio Formoso
Livro de Visitas
Colaboradores
Links Temáticos
Indique esta página
Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 
 

JOÃO CARLOS PÁDUA

 

Poeta e letrista carioca que, nos anos 1970, esteve entre os autores do chamado grupo da "poesia marginal".

 

Pádua, que, em 1974, lançou o livro "Motor", participou, dois anos depois, da coletânea "26 poetas hoje", organizada por Heloísa Buarque de Hollanda, ao lado de, entre outros, Cacaso, Chacal, Bernardo Vilhena, Geraldo Carneiro e Waly Salomão.

 

Como letrista, foi parceiro de compositores como Danilo Caymmi, João Donato, Nando Carneiro, Egberto Gismonti e Jaques Morelenbaum.

 


Extraído de 

 

POESIA SEMPRE Revista Semestral de Poesia. Ano 5 – Número 8.  Junho 1997.  Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional – Ministério da Cultura. Departamento Nacional do Livro, 1997.  Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

Autobiografia precoce

 

A tangerineira desclassifica-se em frutos,
enquanto a amoreira, necessitada de poda,
desencanta-se numa lassidão triste de se ver.
Por outro lado, a hortelã-pimenta
promete vida longa,

o que, outrossim, acontece com os pimentões.

0 mesmo não se pode dizer,

entretanto,

dos melões que,

melancólicos,

definham a olhos vistos.

 

Invadindo a paisagem,
o vento nordeste,

que fustiga meu rosto e as folhas do abacateiro,

traz notícias daqueles tempos.

Bob Dylan e conhaque George Aubert;

like a Rolling Stone

em plena rua do Riachuelo;

Dexamil e a cavalaria da polícia militar;

Dops, Cenimar...

Aquele Corcel cinza despejando tiros

sobre os transeuntes.

Era festim, até o velho cair de joelhos.

 

O sangue inundado o cérebro,
manchando o asfalto.
O medo, o silêncio.

Entre pernas, sorrisos e baratas,
o lacrimogéneo esgar de um animal
prematura e mortalmente ferido.

 

(os olhos fundos de Franz Kafka
passeiam pelas ruas centrais da cidade)
Depois houve um momento
em que a prática

— sempre o critério da verdade —
volatilizou-se em miríades de certas incertezas
e a construção do que parecia lógico
impôs-se como tarefa inequívoca,
entre o ruído insano dos automóveis
e a agressão pétrea dos edifícios.

 

Mas razão e revolução
desaguaram no coração.
Vieram então

as longas noites de dentes trincados
e as tenebrosas manhãs
de pedra e cal
em Copacabana.

Ai, as tenebrosas manhãs de Copacabana!

O mundo lembrava seu fim,

e a felicidade era um rosto triste

num trem que passara em alta velocidade.

 

(a chuva forte comprometeu o espetáculo
naquele Flamengo x Grêmio)

 

Hoje,

plantado à barra do São João,

por detrás da casa de Casimiro de Abreu,

não me ocupa descobrir

a verdadeira essência da vida;

desvendar-lhe os mistérios,

livrando-me de suas enganosas aparências,

recompor-lhe o mosaico de ilusões;

visto que tal tarefa

muito pouco acrescentaria

à minha cotidiana peregrinação

entre

a estupefação e o delírio.

 

A simples e ingênua constatação

de que o rio ainda corre para o mar
me basta e tranquiliza.

Por isso,

entre as goiabas podres no chão
e as carambolas verdes no pé,
deito agora à terra, cético e feliz,

os restos da graviola da infância.

 

 

 

Página publicada em janeiro de 2018


 

 

 
 
 
Home Poetas de A a Z Indique este site Sobre A. Miranda Contato
counter create hit
Envie mensagem a webmaster@antoniomiranda.com.br sobre este site da Web.
Copyright © 2004 Antonio Miranda
 
Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Click aqui Home Contato Página de música Click aqui para pesquisar