Foto: Yussef Kalume
JADE PRATA
Nasceu em 1986, bióloga, mestre em Psicossociologia, doutoranda em Educação, sempre pela UFRJ, é professora e coordenadora de um projeto de Educação Ambiental em Unidades de Conservação. Carioca, aquariana, marxista e inquieta, a poesia é necessidade e desejo.
PRATA, Jade. Do ventre ao verso. Rio de Janeiro: OrganoGrama Livros, 2015. 88 p. cm. ISBN 978-85-68135-14-5 Edição e coordenação gráfica: Lucas Viriato. Pintura da capa: Jorge Barata. “Orelha” do livro por Clara de Góes. Ex. bibl. Antonio Miranda
Medo faz violência
em que vive na
solidão do tumulto.
Letras
Cada palavra
é áspera, é úmida,
língua.
Voz à mingua.
Cada palavra minha
é quente, é fértil,
útero.
Cada palavra sua
recusa, se lambuza,
abusa de mim.
Mimesma
O perverso
me cede o verso
para trabalhar.
Já sem patentes,
já assim, carente,
quase afogo
de tanto respirar,
na umidade
de um sempre quase,
na secura
de um quase nunca.
Me perco nos versos
reversos de mim
e procuro apego
no que tanto nego
no lúmen negro
de mim mesma.
E saio assim,
— ilesa,
toda rasgada,
porque o verso
é o íntimo
da mesma.
Sobras
Quero saber o que falta dizer,
o que falta por fazer.
O que falta?
Me estranho
porque falto,
e sou tantas.
Na busca,
me reconheço
em partes.
Encontro espelhos
quebrados por aí.
— Dou sorte.
Me entrego aos pedaços,
doses homeopáticas.
Não traço metas,
estratégias ou táticas
para o amor,
ele acontece.
— Dou sorte.
Ele me falta.
Ele falta por aí.
Cria
Reviro-me,
reinvento a criatura,
te reencontro inédito
em mim.
Um (des)conto da vida.
— Um tempo
de criar o quando.
***
Esperança é bicho
que não sabe tempo,
salta por felicidade de ser.
Página publicada em março de 2018
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