INÊS CAVALCANTI
[Rio de Janeiro, 1960] formou-se em teatro pela Uni-Rio e em literatura pela Sorbonne. E titular de um mestrado, com dissertação sobre o diálogo poético entre Cecília Meireles e Sophia de Mello Breyner. Publicou Poemas parantônio e não só (1998) e Anawin (2007).
POESIA SEMPRE –No. 32 – Ano 16 – 2009. Poesia contemporânea do Irã. Rio de Janeiro: Fundação Biblioteca Nacional, 2009. Editor: Marco Lucchesi. Capa: Rita Soliéri Brandti. ISSN 9770104062006. Ex. bibl. Antonio Miranda.
Há muito estás aqui, homem, sorrindo,
e por ti foi que fiz tantos poemas.
As estrelas do céu sereno e lindo
e as flores do chão foram meus temas.
Podemos ter na vida mil problemas,
nossa navegação tornar-se errante,
mas tu, sorrindo com candura extrema,
serás no meu jardim feliz amante.
e pedirei a Deus que te proteja
nessas viagens ao país distante
onde retornas sem que ninguém veja.
Mais valiosos que o ouro das lavras
serão nossos presentes, as palavras.
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De tarde o vento sacode a folhagem
e faz no ar dançar as florezinhas
que ficam pelo chão no fim da festa.
E posto que de mim tão pouco resta
ao deflorar o vento a paisagem
e que as dores das flores são as minhas,
rogo-te, Amor: sejas o quanto basta
de cor nessa ramagem nua e vasta.
Domingo
Nuvens boiando na luz,
folhas tremendo nos galhos,
casas à beira do rio,
águas que passam, azuis.
Quem sou eu? Como saber,
se no domingo me faltas
para estender o espelho
onde havia de me ver?
Esse domingo é milagre
cuja causa desconheço,
é como a flor que se abre
e a joia que não tem preço.
No domingo cabe tudo,
mar sem fim e céu tão claro,
a ciência que eu estudo
e o amor que te declaro.
Página publicada em julho de 2019 |