HERMINIO BELLO DE CARVALHO
Nascido em 1935, o compositor, poeta, produtor musical e agitador cultural Hermínio Bello de Carvalho é um dos nomes mais importantes da música brasileira. Algumas de suas composições mais marcantes foram frutos de parcerias com gente como Mauricio Tapajós (Mudando de Conversa), Jacob do Bandolim (Noites Cariocas), Cartola (Alvorada), Chico Buarque (Chão de Esmeraldas) e Paulinho da Viola (Sei Lá, Mangueira), entre outros.
Hermínio já lançou cerca de 20 livros, alguns de poesias e outros de crônicas sobre artistas da MPB. Entre os discos mais importantes que produziu (foram mais de 100), estão os de Cartola, Nelson Cavaquinho, Elizeth Cardoso, Pixinguinha e Carlos Cachaça. Em 1965, apresentou ao público a cantora Clementina de Jesus e produziu o antológico espetáculo Rosa de Ouro, que reunia Clementina, Paulinho da Viola, Nelson Sargento e Elton Medeiros.
Fonte da biografia: www.biscoitofino.com.br
De
CONTRADIGO
alguns poemas eróticos, outros ternamente
pornográficos e uma receita para assassinato
seguido de cardápio do corpo da pessoa amada.
Rio de Janeiro: Edições Folha Seca, 1999.
ISBN 85-87199-01-3
POEMA DO ACONCHEGO 1
Quando encostas em mim
és tal qual um carrapicho
desses que não desgrudam
da tenra pele do bicho.
És qual e tal uma cobra
dessas fatais, cascavéis
(as tais que, muito viscosas,
Armam bote aos nossos pés).
Quando tu grudas em mim
aderes que nem ferrugem
e o teu marrom entristece
o campo de minha penugem.
E eu te trato feito um gato
que aos outros lambe a carcaça
e conheço o teu unheiro
e o quanto ardilas trapaça.
Gato, ferrugem, cobra
me fazes de longe um aceno
mas já conheço de sobra
teu desempenho obsceno.
POEMA DO CONTRADIGO
Metade de mim é ego
e a outra metade, muda.
De um lado, parede cega
de outro, hera no muro.
Metade de mim esconde
o que a outra metade vê
uma se caga de medo
a outra bota pra foder.
Uma só diz palavrão
e a outra, padre-nosso
Se uma tem fogo nas ventas
a outra se mói de remorso.
Metade de uma é falaz
e a outra se faz de surda
uma de tudo é capaz
e a outra, caramuja.
Aranha caranguejeira,
uma se esconde entre espinhos
a outra, feito vieira,
se abriga em concha e arminho
CENA DRAMÁTICA PARA UM FILME BRASILEIRO
Alcaparras e brioches
sirvo-me à tua mesa:
me comes de um só golpe
e, ao depois, sobremesa
e vem um pudim cremoso
e um café ao conhaque
puxas uma cigarrilha
com um olhar de mandrake.
E com esse teu olho mágico
assentas bem a cartola
e me embaralhas bem rápido
sou tua dama de copas.
E feito um galo de rinha
me derrubas no poleiro
me arrancas o sutiã
rolamos no galinheiro.
Me chamas de lambisgóia
respondo que és safado
me dás um tapa, é a glória
te chuto o traseiro e o saco.
E feito um bom marinheiro
vais direto pro beliche
ajeito o teu travesseiro
e p acolchôo de haxixe
E atropelo teu sonho
e me instalo em pesadelo
perguntando-me, insone:
devo ou não devo come-lo?
Página publicada em novembro de 2009
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