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HENRIQUE AUGUSTO CHAUDON
(Niterói, Rio de Janeiro, 1955)


A areia do tempo passa. No entanto, o peso difícil dos dias não detém os passos do homem. Vão-se as pessoas, a cidade muda, a fina chuva da tristeza cai sobre nós. Graças à aceitação, porém, conseguimos transfigurar tudo, e prosseguir. Alguns instantes limpos revelam a beleza de todas as coisas. A noite chega densamente, a manhã vem luminosamente. Sentimento algum aparece sob algum véu. Os homens aceitam o vento e se alimentam do sol. Cada ser segue seu destino. Assim diz a Poesia de Henrique Augusto Chaudon.      Marcos Moreira
 

Henrique Augusto Chaudon já participou de antologias e de concursos, e agora se revela um poeta dos melhores em seu livro de estréia, com um lirismo inquietante, mas leve e de uma simplicidade que se logra apenas quando ha um domínio da emoção e da linguagem poética.  Antonio Miranda 


Poema do Vento que não Volta

Quando aquele vento soprou,
antigo, longo,
cheio de pólen e esperanças,
senti que eu jamais me esqueceria.
Nunca mais — pensei — passarás.
Serei outro, quando retornares.
Serás outro a mexer em meus cabelos.
E outra, a terra que me veja.

Momento                        
                   p/ Marília

Belo
este amanhecer sereno.
Belas, as três-marias debruçadas
vermelhas.
Belo
teu ventre semeado.
Bela, a vida.

E essa chuva
                     caindo
                                 devagar.

 

As Árvores

As árvores em frente
não se interrogam.
Apenas dizem
do profundo trabalho tentacular
das raízes.
Do aéreo, cotidiano sopro
em suas folhas.
Do silencioso,
lento engrossar de seus ramos
onde nascem
— a seu tempo —
as flores.


Alguns Papéis

Na terceira gaveta
a contar de cima
à esquerda da escrivaninha
guardo esperançoso alguns papéis.
Há também uma caixa com fotografias
quase antigas:
ensolaradas, cheias de vento, cheias de mar.
Nos papéis
escrevi poemas que penso um dia publicar
se eu for capaz de alguns reparos.
Quanto às fotografias
às vezes sinto que me chamam na noite
e já nada mais posso fazer.

 

A Urbana Tragédia

                   p/Jayro

Virgílio deixou-me
entre dois copos de cerveja
vazios
e cascas de amendoim.
Era noite, o bar bramia.
Partiu devagarinho, alheio aos gritos.
Fiquei desamparado
sonhando versos que eu não tinha.


entre náufragos
perdido.

 

Página publicada em junho de 2010

 

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