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Sobre Antonio Miranda
 
 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 



GILKA MACHADO

 

GILKA MACHADO

(1893-1980)

 

 

Gilka da Costa de Melo Machado (Rio de Janeiro RJ 1893 - idem 1980). Publicou seu primeiro livro de poesia, Cristais Partidos, em 1915. Na época, já era casada com o poeta Rodolfo de Melo Machado. No ano seguinte, ocorreu a publicação de sua conferência A Revelação dos Perfumes, no Rio de Janeiro. Em 1917 saiu Estados de Alma; seguiram-se  Poesias, 1915/1917 (1918); Mulher Nua (1922), O Grande Amor (1928), Meu Glorioso Pecado (1928), Carne e Alma (1931). Em 1932 foi publicada em Cochabamba, na Bolívia, a antologia Sonetos y Poemas de Gilka Machado, prefaciada por Antonio Capdeville. Em 1933, Gilka foi eleita "a maior poetisa do Brasil", por concurso da revista O Malho, do Rio de Janeiro. Foram lançadas, nas décadas seguintes, suas obras poéticas Sublimação (1938), Meu Rosto (1947), Velha Poesia (1968). Suas Poesias Completas foram editadas em 1978, com reedição em 1991. Poeta simbolista, Gilka Machado produziu versos considerados escandalosos no começo do século XX, por seu marcante erotismo.  Para o crítico Péricles Eugênio da Silva Ramos, ela ?foi a maior figura feminina de nosso Simbolismo, em cuja ortodoxia se encaixa com seus dois livros capitais, Cristais Partidos e Estados de Alma?

Biografia: www.itaucultural.org.br

 

.Livros: Cristais partidos (1915), Estados da alma (1917), Poesias (1918), Mulher nua (1922), Meu glorioso pecado: amores que mentiram, que passaram o grande amor (1928), Sublimação (1918).

 

 

TEXTOS EM PORTUGUÊS  /  TEXTOS EN ESPAÑOL

 

 

Veja: GILKA MACHADO (1893-1980): A FALA DE EROS,  por Sylvia P. Paixão - - texto publicado na revista Poesia Sempre n. 2, em 1993

 

 

Extraído de http://gemeo-sobrevivente.blogspot.com.br/

 

 

 

LÉPIDA E LEVE

 

Lépida e leve

em teu labor que, de expressões à míngua,

o verso não descreve...

Lépida e leve,

Guardas, ó língua, em teu labor,

gostos de afago e afagos de sabor.

 

És tão mansa e macia,

que teu nome a ti mesma acaricia,

que teu nome por ti roça, flexuosamente,

como rítmica serpente,

 e se faz menos rudo,

o vocábulo, ao teu contacto de veludo.

 

Dominadora do desejo humano,

Estatuária da palavra,

ódio, paixão, mentira, desengano,

por ti que incêndio no Universo lavra!...

És o réptil que voa,

o divino pecado

que as asas musicais, às vezes , solta, à toa,

e que a Terra povoa e despovoa,

quando é de seu agrado.

 

Sol dos ouvidos, sabiá de tato,

ó língua-idéia, ó língua-sensação ,

em que olvido insensato,

em que tolo recato,

te hão deixado o louvor, a exaltação!

 

- Tu que irradiar pudeste os mais formosos poemas!

- Tu que orquestrar soubeste as carícias supremas!

Dás corpo ao beijo, dás antera à boca, és um tateio de alucinação,

és o elastério da alma... Ó minha louca

língua, do meu Amor penetra a boca,

passa-lhe em todo senso tua mão,

enche-o de mim, deixa-me oca...

- Tenho certeza, minha louca,

de lhe dar a morder em ti meu coração!...

 

Língua do meu Amor velosa e doce,

que me convences de que sou frase,

que me contornas, que me vestes quase,

como se o corpo meu de ti vindo me fosse.

Língua que me cativas, que me enleias

os surtos de ave estranha,

em linhas longas de invisíveis teias,

de que és, há tanto, habilidosa aranha...

 

Língua-lâmina, língua-labareda,

Língua-linfa, coleando, em deslizes de seda...

Força inferia e divina

faz com que o bem e o mal resumas,

língua-cáustica, língua-cocaína,

língua de mel, língua de plumas?...

 

Amo-te as sugestões gloriosas e funestas,

amo-te como todas as mulheres

te amam, ó língua-lama, ó língua-resplendor,

pela carne de som que à idéia emprestas

e pelas frases mudas que proferes

nos silêncios de Amor!...

 

 

SER MULHER...

 

                   Ser mulher, vir à luz trazendo a alma talhada

para os gozos da vida; a liberdade e o amor;

tentar da glória a etérea e altívola escalada,

na eterna aspiração de um sonho superior...

 

Ser mulher, desejar outra alma pura e alada

para poder, com ela, o infinito transpor;

sentir a vida triste, insípida, isolada,

buscar um companheiro e encontrar um senhor...

 

Ser mulher, calcular todo o infinito curto

para a larga expansão do desejado surto,

no ascenso espiritual aos perfeitos ideais...

 

Ser mulher, e, oh! atroz, tentálica tristeza!

ficar na vida qual uma águia inerte, presa

nos pesados grilhões dos preceitos sociais!

 

 

REFLEXÃO

 

Há certas almas

como as borboletas,

cuja fragilidade de asas

não resiste ao mais leve contato,

que deixam ficar pedaços

pelos dedos que as tocam.

 

Em seu vôo de ideal,

deslumbram olhos,

atraem as vistas:

perseguem-nas,

alcançam-nas,

detêm-nas,

mas, quase sempre,

por saciedade

ou piedade,

libertam-nas outra vez.

 

Ela, porém, não voam como dantes,

ficam vazias de si mesmas,

cheias de desalento...

 

Almas e borboletas,

não fosse a tentação das cousas rasas;

- o amor de néctar,

- o néctar do amor,

e pairaríamos nos cimos

seduzindo do alto,

admirando de longe!...

 

 

ODOR DOS MANACÁS

 

De onde vem esta voz, este fundo lamento

com vagas vibrações de violino em surdina?

De onde vem esta voz que, nas asas, o vento

me traz, na hora violácea em que o dia declina?

 

Esta voz vegetal, que o meu olfato atento

ouve, certo é a expansão de uma mágoa ferina,

é o odor que os manacás soltam, num desalento,

sempre que a brisa os plange e as frondes lhes inclina.

 

Creio, aspirando-o, ouvir, numa metempsicose,

a alma errante e infeliz de uma extinta criatura

chamar ansiosamente outra alma que a despose...

 

Uma alma que viveu sozinha e incompreendida,

mas que, mesmo gozando uma vida mais pura,

inda chora a ilusão frustrada noutra vida.

 

 

 

 

MACHADO, Gilka.  Velha Poesia. Rio de Janeiro: Tipografia Baptista de Souza – Editora, 1965. 248 p. 14x20 cm.  “Gilka Machado”   Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

A UMA LAVADEIRA

 

Minha vizinha lavadeira,

mal nasce o sol, põe-se a cantar,

                  canta a manhã, a tarde inteira,

mais me parece uma rendeira

uivosos sons desfiando no ar.

 

De suas mãos o alvor é tanto

que, às vezes, tenho a convicção

de que, talvez por um encanto

alvo se torne tudo quanto

os dedos seus tocando vão.

 

Quando ela vai ao coradouro

finas cambraias estender,

olhos azuis, cabelo louro,

tudo em seu corpo canta em coro

pela alegria de viver.

 

Se a lua sobre os silenciados

campos do luar abre os lençóis,

não mais, então, lhe ouço os trinados,

mas cuido ver, por sobre os prados,

dormir, sonhar a sua voz.

 

Debalde o espírito perscruta
de onde lhe vem esse poder
de sem possuir força bruta,
assim tornar clara, impoluta
roupa que às mãos lhe venha ter.

 

Não poderei, por mais que queira,
dado me fosse e dos desvãos
da minha dor tirara inteira
esta alma, ó linda lavadeira,
para o crisol de tuas mãos.

 

Ao teu labor, que assim perdura,

tenho este anseio singular:
pudesses tu, leda criatura,

lavar minha alma da amargura
e pô-la ao sol para secar.

 

 

 

====================================

 

De

MACHADO, Gilka.

 Estados da alma: poesias.

 Rio de Janeiro: Revista dos Tribunaes, 1917

(conservando a ortografia original...)

 

 

 

POSSA EU, DA PHRASE NOS ABSONOS SONS

 

Possa eu, da phrase nos absonos sons,

em versos minuciosos ou succintos,

expressar-me, dizer dos meus instinctos,

sejam elles, embora, máos ou bons.

 

Quero me vêr no verso, intimamente,

em sensações de gôso ou de pezar,

pois, occultar aqui’lo que se sente,

é o proprio sentimento condemnar.

 

Que do meu sonho o bronco véo se esgarce

e mostre núa, totalmente núa,

na plena graça da simpleza sua,

minha Emoção, sem peias, sem disfarce.

 

Quero a arte livre em sua contextura,

que na arte, embora peccadora, a Idéa,

deve julgada ser como Phrinéa:

- na pureza triumphal da formosura.

 

Gelar minha alma de paixões accêsa

porque? si desta forma ao Mundo vim;

si adoro filialmente a Natureza

e a Natureza é que me fez assim.

 

Meu ser interno, tumultuoso, vario,

- máo grado o parvo olhar profanador –

no livro exponho como num mostruario:

sempre a verdade é digna de louvor.

 

Fiquem no verso, pois, eternamente,

as minhas sensações gravadas, vivas,

nas longas crises, nas alternativas

desta minha alma doente.

 

Relatando o pezar, relatando o prazer,

través a agitação, través a calma,

a estrophe deve tão somente ser

o diagnostico da alma.

 

 

SYMBOLOS

 

Eu e tu, ante a noute e o amplo desdobramento

do mar fero, a, estourar de encontro á rocha nua.

Um symbolo descubro aqui, neste momento;

esta rocha e este mar... a minha vide e a tua...

O mar vem... o mar vae.... nelle ha o gesto violento

de quem maltrata e, após, se arrepende e recúa...

Como eu comprehendo bem da rocha o sentimento!

são bem eguaes, por certo, a minha magua, e a sua!

 

Symbolisa este quadro a nossa propria vida:

tu és esse mar bravio, inconstante e inclemente,

com carinhos de amante e furias de demente;

 

eu sou a dôr parada, a dôr empedernida,

eu sou aquella rocha encravada na areia,

alheia ao mar que a punge, ao mar que a afaga alheia...

 

De MACHADO, Gilka. Estados da alma: poesias. Rio de Janeiro: Revista dos Tribunaes, 1917.

           

            ===================================

 

De

MACHADO, Gilka.

Crystaes Partidos: poesias.

Rio de Janeiro: Revista dos Tribunaes, 1915

 

(conservando a ortografia original...)

 

 

SILÊNCIO

 

Mysteriosa expressão da alma das cousas mudas,

Silencio – pallio immenso aos enigmas aberto,

espelho onde a tristeza universal se estampa.

Silencio – gestação das dôres crueis, agudas,

solenne imperador da Treva e do Deserto,

estagnação dos sons, berço, refugio e campa.

 

Silencio – tenebroso e insondavel oceano,

tudo quanto nos teus abysmos vive immerso,

tem a secreta voz dos rochedos, das lousas.

És a concentração do sêr pensante, humano,

a vida espiritual e occulta do universo,

a communicação invisivel das cousas.

 

 

Um intimo pezar toda tua alma invade,

ó meu velho eremita! ó monge amargurado!

Dentro da cathedral da verde natureza,

ouço-te celebrar a missa da Saudade

e invocar a remota effigie do Passado,

dando-me a communhão sublime da tristeza.

 

Seja engano, talvez, do meu cerebro enfermo,

mas eu comprehendo os teus sentimentos profundos,

eu te sinto cantar olentes melopéas...

Foste o inicio de tudo e de tudo és o termo.

Silencio – concepção primitiva dos mundos,

cosmopéa etheral de todas as idéas.

 

Silencio – solidão de symptomas medonhos,

pantano onde do mal desenvolvem-se os vermes,

fonte da inspiração, rio do esquecimento,

lagôa em cujo fundo os sapos dos meus sonhos,

postos alheiamente, inanimes, inermes,

fitam de estranho ideal o fulgor opulento.

 

Ó Silencio! Ó visão subjectiva da Morte!

- refúgio passional que eu sempre busco e anceio,

gôso de recordar... torturas e confortas,

pois fazes com que ao teu influxo eu me transporte

ao seio da Saudade, a esse funereo seio

- esquife onde revejo as illusões já mortas.

 

Da scisma na minha alma o triste cunho imprimes,

és o somno, o desmaio, o natural mysterio,

trazes-me a sensação dos gélidos tormentos;

e si nesse teu ventre hão germinado os crimes,

no teu cérebro enorme, universal, ethereo,

têm-se desenvolvido os grandes pensamentos.

 

 

 

ROSAS

 

I

 

Cabe a supremacia á rosa, entre o complexo

das flôres, pelo viço e pela pompa sua,

e o arôma que ella traz sempre á corolla annexo
o coração humano excita, enleva, estua.

 

Quando essa flôr se ostenta á luz tibia da Lua,

o luar busca enlaçal-a, amoroso, perplexo,

e ella sonha, estremece, oscilla, ri, fluctua

e desmaia, ao sentir esse etheral amplexo.

 

Si é rosea lembra carne ardente, palpitante...

nívea – lembra pureza e nada ha que a supplante,

rubra – de certa bocca os labios nella vejo.

 

Seja qualquer a côr, por sobre o hastil de cada

rosa, vive a Mulher, nos jardins flôr tornada:

- symbolo da Volupia a excitar o Desejo.

 

II

 

Rosas cujo perfume, em noutes enluaradas,

é um sortilegio ethereo a transpôr as rechans;

rosas que á noute sois risonhas, floreas fadas,

de cutis de velludo e tenras carnes sans.

 

Sejaes da côr do luar ou côr das alvoradas,

rosas, sois no perfume e na alegria irmans,

e todas pareceis, á luz desabotoadas,

a concretisação dos risos das Manhans!

 

Ó rosas de carmim! Ó rosas roseas e alvas!

ha nesse vosso odôr toda a maciez das malvas,

a púbere maciez do pêcego em sazão.

 

Dae que eu possa gosar, ao vosso collo rente,

esse perfume, a um tempo excitante e emolliente,

numa dubia, sensual e suave sensação!

 

 

SENSUAL

 

Quando, longe de ti, solitaria, medito

neste affecto pagão que envergonhada occulto,

vem-me ás narinas, logo, o perfume exquisito

que o teu corpo desprende e ha no teu proprio vulto.

 

A febril confissão deste affecto infinito

ha muito que, medrosa, em meus labios sepulto,

pois teu lascivo olhar em mim pregado, fito,

á minha castidade é como que um insulto.

 

Si acaso te achas longe, a collossal barreira

dos protestos que, outr’ora, eu fizera a mim mesma

de orgulhosa virtude, erige-se altaneira.

 

Mas, si estás ao meu lado, a barreira desaba,

e sinto da volupia a ascosa e fria lêsma

minha carne polluir com repugnante baba...

 

 

OLHOS VERDES

 

Ha na vibrante côr dos teus olhos, creatura,

a virential frescura

dos verdes e viçosos vegetaes;

teus olhos são, na côr e na espessura,

florestas virginaes,

onde das illussões o alacre bando

passa, de quando em quando,

cantando...

 

Olhos de expressões graves e fidalgas,

postos na introversão dos intimos scismares.

Olhos que lembram solitarias algas,

pompeando á superficie esmaecida dos mares.

 

Olhos onde do olhar alheio mal escondes

a tua alma aisteroide, a tua alma singular,

pois, coma através das frondes

côam-se pelo espaço as filandras do luar,

 

tua alma os olhos te ablue, inunda,

transvasa e o rosto te illumina e banha

de uma luz albuginea, luz estranha,

luz que do luar supponho oriunda.

 

Ha nos teus olhos a verdura intensa

das aguas mortas, das estagnações,

e quem os vê, depressa, pensa

vêr tenros tinhorões...

 

Olhos de cujo olhar os gonfalões desfraldas,

e deixas a rolar por todo o ambiente,

como uma chuva undante, uma chuva esplendente,

uma diliquescencia de esmeraldas.

 

Quando entreabro do sonho os fenestraes postigos

e aos teus olhos amigos,

para melhor os vêr, envio o olhar,

tuas pupillas julgo orvalhados pascigos

onde, sempre a pastar,
vive, das illusões proprias só das creancinhas,

o armento de ovelhinhas.

 

Olhos que lembram folhas pendidas,

folhas do vento na aza levadas,

postas em tristes, hiemaes jazidas

de alvacentas estradas.

 

Olhos macios,

cujos olhares supponho rios

a desaguarem nos olhos meus;

olhos de tal mysticismo feitos

que, olhos herejes ficam sujeitos,

só por fital-os, a crêr em Deus.

 

Divinos olhos, cujas pupillas,

langues, tranquillas,

são duas malvas,

malvas escuras,

abertas sempre sobre as brancuras

das corneas alvas...

 

Olhos com os quaes meus olhos maravilhas

de luz,

olhos que são abandonadas ilhas

do oceano á flux...

ilhas distantes,

apparecidas em alto mar,

onde os meus olhos – dous navegantes,

andam buscando sempre aportar.

 

Olhos serenos, olhos de creança,

de olhar queixoso como onda mansa,

como onda calma,

que lasso, leve, langue se lança

na praia solitaria da minha alma.

 

Olhos solennes e scismadores,

verdes como os oceanos, como as franças,

olhos – embalsamadas esperanças

postas sobre o brancor de estaticos andores.

 

Olhos tristonhos,

por onde vejo, em procissão e em côro,

desfilarem verdes sonhos,

sob os arcos triumphaes dos supercilios de ouro.

 

 

ESPIRUTUAES

 

I

 

Do meu amôr por ti como contar-te a historia,

si nem sei desde quando em meu cerebro o trago,

erguido assim como uma igreja merencorea,

da qual tu sempre foste o milagroso orago?

 

De ha tanto não te vêr, apenas, na memoria,

conservo do teu rosto um simulacro vago,

e, como desse amôr gôso supremo e gloria,

lembro de um teu sorriso o espiritual afago.

 

O meu amôr por ti é intangivel e puro,

desprovido de ardor, desprovido das ancias

dos prazeres carnaes, ephemeros e escassos.

 

Amôr em que o meu sêr totalmente depuro,

amôr que te dedico através das distancias,

como um sol a outro sol, através dos espaços.

 

II

 

O meu amôr por ti é uma arvore exilada,

verde, em pleno vigor da juvenil chimera,

que, na ampla vastidão de solitaria estrada,

ama outra arvore que, de longe, a anceia e espera.

 

Que importa da tristeza o hinverno ponha em cada

folha sua uma ruga e a torne velha e austera?

para que ella resurja, alegre e remoçada

a Esperança virá qual uma Primavera.

 

E ha-de este nosso amôr esperançoso e lindo,

os nossos corações, ó meu longinquo amante!

cada vez mais encher, frondejando... subindo...

 

Amôr mudo e soffrente, amôr calmo e tristonho

- arvore a receber de outra arvore distante

o alvo pollen da dôr para a anthese do Sonho.

 

 

III

 

Para que deste amôr nunca a memoria laves

vivamos sempre assim, a distancia sujeitos,

tu – ignorando sempre os meus defeitos graves,

eu – ignorando sempre os teus leves defeitos.

 

Como duas eguaes e extraordinarias naves

irão – rumo do ideal – nossas almas de eleitos,

ambas vogando sobre os mesmos sonhos suaves,

ao desejo que as move e imflamma nossos peitos.

 

Cada vez entre nós mais a distancia augmentando,

para que esse almo ideal, tantos annos sonhando,

não vejamos fugir num rapido momento, 

 

e sintamos, então, immoveis, lado a lado,

essa nausea, esse tedio, esse aniquilamento
que vem sempre depois de um desejo saciado
.

 

 

 

MACHADO, Gilka.  Poesia completa.  Organização de Jamyle Rkain.  São Paulo: Selo Demônio Negro, 2017.   431 p.  ISBN 978-85-6s6423-3X-X    Ex. bibl. Antonio Miranda

 

 

 

         OLHANDO MINHA VIDA

 

         Errei... Minha esperança, além, se esfuma...
         sinto-me envelhecer... A Terra é linda!
         mas a existência, aos poucos se me finda,
         sem que eu tenha gozado cousa alguma!

         Sou produto de um erro; há tanto vinda
         é a dor que no meu peito se avoluma,
         que eu não sei se a adquiri ou se ela, numa
         lei atávica, em mim perdura ainda.

         Errei caminho, vim ao mundo atoa,
         em vão minha alma libertar procuro
         do peso quer carrega e que a magoa,

         Minha existência é toda, toda errada,
         e, destendendo o olhar para o Futuro,
         olho, perscruto, chamo, indago... — nada.

 

 

 

         ANALOGIA

 

         Sempre que o frio chega o meu pesar sorri,
         pois te adoro no inverno e adoro o inverno em ti.

 

 

         ***

         Amo o inverno assim triste, assim sombrio,
         lembrando alguém que já não sabe amar.
         e sempre, quando o sinto e quando o espio,
         julgo-te eterizado, esparso no ar.

         Afoita, a alma do Inverno desafio,
         para inda te querer e te pensar...
         por gozá-lo e gozar-te, que arrepio!...
         que semelhança em ambos singular!...

         Loucura pertinaz do meu anelo:
         — emprestar-te, emprestar-lhe uma emoção,
         — pelo mal de perder-te querer tê-lo...

         Amor! Inverno! Minha aspiração!
         quem me dera resfriar-me no teu gelo!
         quem me dera aquecer-te em meu verão!

 

        

         O RETRATO FIEL

 

         Não creias nos meus retratos,
         nenhum deles te revela,
         ai, não me julgues assim!

         Minha cara verdadeira
         fugiu às penas do corpo
         ficou isenta da vida.

         Toda minha faceirice
         e minha vaidade toda
         estão na sonora face;

         Naquela que não foi vista
         e que paira, levitando,
         em meio a um mundo de cegos.

         Os meus retratos são vários
         e neles não terás nunca
         o meu rosto de poesia.

         Não olhes os meus retratos,
         nem me suponhas em mim.

 

 

Extraído de http://gemeo-sobrevivente.blogspot.com.br/

GILKA MACHADO

GILKA MACHADO

 

 TEXTOS EN ESPAÑOL

TRADUCCIÓN DE

ADOVALDO FERNANDES SAMPAIO

 

PUEDA YO

 

Pueda yo, com frase de sonidos discordantes,

Em versos minuciosos o sucintos,

Expresarme, hablar de mis instintos,

Sean malos o buenos.

 

Quiero verme en el verso, intimamente,

En sensación de gozo o de pesar,

Pues ocultar aquello que se siente

Es condenar el próprio sentimiento.

 

Rásguese el Blanco velo de mi sueño

Y se muestre desnudada, em total desnudez

Y en plena gracia simple,

Mi emoción. Sin cadenas ni máscaras.

 

Yo quiero el arte libre en su contextura;

Que en arte, incluso pecadora, la Idea

Debe ser juzgada como Frinea:

En la triunfal pureza de su plena hermosura.

 

 

Extraído de la obra

VOCES FEMENINAS DE LA POESÍA BRASILEÑA

Goiânia: Editora Oriente, s.d.

 

 

 

De

9 POETAS DEL BRASIIL
una antología de Enrique Bustamante y Ballivian.
Lima: Centro de Estudios Brasileños,  1978
109 p.

 

PARA EL OTRO YO

 

Mi voz lleva fulgores de lâmina

a tus silencios.

Soy la suprema tentadora,

en mi forma inalcanzable

materializo el pensamiento.

Pasaré por tu vida

como la idea por el cérebro:

dándome toda sin que me poseas.

 

Guardo conmigo

los sentidos de tu belleza;

téngote en mi en radiosidades;

te amo porque me miras,

desde tus brumas,

con la fisonomía

de mis sentim lentos . . .

Tal vez otros brazos enlacen tu cuerpo,

tal vez otros lábios murmuren

palabras líricas

a tus oídos.

Tal vez otros ojos se abismen en los tuyos ...

Ahora y siempre

serás apenas

el mundo por mi descubierto,

el tesoro encontrado por mi,

el Hombre

que mi amor desperto

en la inmovilidad

de tu conciencia . . .

 

Lejos de mí

eres la belleza sin el arte,

Ia poesia sin la palabra.

Lejos de mí

sé que no te encuentras,

sé que buscas inutilmente

enfrentar tu yo

al cristal de otras almas,

porque te falta el fiel espejo

de mi extraña sensibilidad.

 

¿Por qué no vienes,

estatuário de mi voluptuosidad?

Hay en mi líneas imprecisas de deseo

que tu carino debería modelar.

Tus manos milagrosas

tallarian expresiones inéditas

en mi cuerpo maleable . . .

 

¿Por quê no vienes?

A tu venida

se cerrarían mis lábios,

mis brazos

y mis alas . . .

Quedarias en mí

ensimismado,

ai amparo de mi ser

que es tu sombra . . .

Quedarias en mí

como la visualidad

en mis párpados

cerrados para el sueño.

 

 

 

 

Página republicada em junho de 2008; republicada em janeiro de 2011

 





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