FRANCISCO ROCHA FILHO
ROCHA FILHO, Francisco. Dez poemas manuscritos. Ilustrações de Rapoport. [Rio de Janeiro]: Edições Movimento Cultural, s.d. s.p. 16,5x23,5 cm. Edição alternativa. Reprodução (xerográfica?) de textos manuscritos do autor. “ Francisco Rocha Filho “ Ex. bibl. Antonio Miranda
A NOVA POESIA BRASILEIRA. Organizado por Alberto da Costa e Silva. Lisboa, Portugal: Escritório de Propaganda e Expansão Comercial do Brasil em Lisboa, 1960. 291 p. 19 x 27 cm. Ex. bibl. Antonio Miranda
POUR MARIE, MARIE LAURENCIN
Marie, Marie Laurencin
Pássaros pousam em teus cabelos
Dependuram-se ágeis os sonhos
Na fragilidade mansa de teu rosto.
Marie, Marie Laurencin
Teus quadros são a infância
A infância única, insubornável
Ondas de rosas, azuis e claros semi-tons
Ganham a juventude de tuas telas
Enchem os nossos olhos
Olhos egressos da poesia.
Marie, Marie Laurencin
Tuas donzelas de olhar velado
Cegas na grande noite
Como o pássaro a quem os olhos arrancaram
São pálidas jovens
Donzelas sem nome
Eternas visões ignoradas.
Marie, Marie Laurencin
Tuas adolescentes de corpo ágil
longos corpos de tímidas corças selvagens
Povoam de impossíveis sonhos
Nosso humilde cotidiano.
Marie, Marie Laurencin
Em Paris nascida
Em Paris vivida
Pelo poeta Apollinaire amada
Marie, Marie Laurencin
Es a própria vítima
De teu má�gico sortilégio
Es a própria infantil pureza e graça
MARIE, MARIE LAURENCIN.
(In �Revista Branca�, n. 12)
O BARCO
Entre o abrigo das pedras
e o remoto berço das ondas
um velho barco se desfigura.
Em que recanto esteve
o pescador ausente
que a memória do barco tão pronto esqueceu?
Um recuo contra as pedras
e um abraço quente das águas
e o barco não voga mais.
O que era história de homens
e de mulheres antigas
hoje memória de peixes, prisão de algas.
Continente desaparecido nas águas
tua silhueta obscura desenhas
entre o murmúrio das ondas náufragas.
Ó barcos que demorais a morrer
poupai-nos ondas o trágico destino
de vê-los morrer hora a hora como nós.
(In Dez Poemas Manuscritos)
OS JARDINS
Para Lúcia Miguel Pereira.
Do alto são os jardins milagres diários de beleza
sobre o cimento vencido, entregue.
Longas curvas floridas abrem brandas perspectivas aéreas
em geométricos e abusivos voos inalcaçáveis.
Os jardins brotam do coração do asfalto
matéria inerte, perfeitamente submissa.
Jardins que a imaginação do poeta plantou
rasgando um pedaço de sonho em pleno cimento.
(In Dez Poemas Manuscritos)
Página publicada em abril de 2015; ampliada em março de 2020
|